Faz de conta que ainda é cedo
Tudo vai ficar por conta da emoção
Faz de conta que ainda é cedo
E deixar falar a voz do coração
(Um dia de domingo – Gal Costa e Tim Maia)
Quando se deixa falar a voz do coração pode-se ouvir uma voz
suave, romântica, falando do encontro, ou uma voz lacrimejante, falando dos
desencontros. Um poema nasce assim, desta voz que vem de dentro, mas todo poeta
precisa estar atento aos sinais dos tempos.
Na
realidade nem tudo que um poeta escreve vem de dentro de si, mas de dentro de
alguém. Como somos seres diversos, temos vários universos. A dor presente no
poema pode ser a dor de alguém que o poeta sequer conhece. Mas ele sabe,
ouvindo a voz do seu coração, que aquela dor é humanamente possível, ou
desastrosamente uma consequência do desamor que nos impingimos sempre.
Neste domingo,
onze de abril, trago três poetrix intercalados por dois indrisos. Vamos aos poemas (pétalas).
*****
PÉTALA I
NA TELA DO COMPUTADOR
Teu NOME em caixa
alta
Como extensão de mim
O meu teclado te
exalta
O nome da pessoa amada é exaltada até pelos equipamentos de trabalhos, e na pandemia, em home office, o teclado passou a ser extensão do nosso próprio corpo.
PÉTALA II
NOITES LONGAS E DIAS
CURTOS
Em um lugar de noites
longas e sol raro
Perco-me na selva
silenciosa e sombria
Eu rastejo sem teu
abraço, meu amparo
Em tempos de dias
curtos e lua opaca
Afundo-me na areia
movediça da agonia
Eu não sei se sou o
caçador ou a caça
Um medo uiva dentro
de mim e me acua
Eu te amo na cama que
a mente insinua
Em um ambiente que se aproxima do gótico, onde a natureza em nada favorece o homem preso na lembrança de um amor, a insanidade começa a beliscar suas certezas.
*****
PÉTALA III
RESSONAR DE UM
MOMENTO
Ouço roncar em mim
A voracidade do verme
Ela disse que era
amor
A solidão rói por dentro como um verme depois de uma desilusão amorosa.
*****
PÉTALA IV
O DIA QUE EU POSSO
TER
Com meu corpo sovado
por pesadelos
Eu abro meus braços
para acolher o sol
A magia da manhã cura
minhas feridas
Enquanto busco uma
fenda qualquer
Na muralha que
encastela meu viver
Eu arranho as
lembranças pungentes
Sei que o dia tem
pouco a me oferecer
Mas hoje este é o dia
que eu posso ter
Viver cada dia como se fosse o único. Uma pétala de alento em meio a outras que sangram com os espinhos da vida.
PÉTALA V
COM(PASSOS)
Enquanto eu sangro
A Minha vida segue
No ritmo de um tango
A vida precisa seguir ainda que seja em ritmo de tragédia, típica de um tango invisível nos conduzindo pelo destino.
*****
Leia indrisos de minha autoria em
OUTRAS PÉTALAS SEMANAIS
*****
POR VOCÊ TER LIDO
Nenhum comentário:
Postar um comentário