domingo, 11 de abril de 2021

NOITE, DIA E TANGO: PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS - XI

 

    Faz de conta que ainda é cedo
    Tudo vai ficar por conta da emoção
    Faz de conta que ainda é cedo
    E deixar falar a voz do coração
    (Um dia de domingo – Gal Costa e Tim Maia)
 
    Quando se deixa falar a voz do coração pode-se ouvir uma voz suave, romântica, falando do encontro, ou uma voz lacrimejante, falando dos desencontros. Um poema nasce assim, desta voz que vem de dentro, mas todo poeta precisa estar atento aos sinais dos tempos.
            Na realidade nem tudo que um poeta escreve vem de dentro de si, mas de dentro de alguém. Como somos seres diversos, temos vários universos. A dor presente no poema pode ser a dor de alguém que o poeta sequer conhece. Mas ele sabe, ouvindo a voz do seu coração, que aquela dor é humanamente possível, ou desastrosamente uma consequência do desamor que nos impingimos sempre.
            Neste domingo, onze de abril, trago três poetrix intercalados por dois indrisos.  Vamos aos poemas (pétalas).
 
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PÉTALA I
NA TELA DO COMPUTADOR
 
Teu NOME em caixa alta
Como extensão de mim
O meu teclado te exalta

    O nome da pessoa amada é exaltada até pelos equipamentos de trabalhos, e na pandemia, em home office, o teclado passou a ser extensão do nosso próprio corpo.
 

PÉTALA II
NOITES LONGAS E DIAS CURTOS
 
Em um lugar de noites longas e sol raro
Perco-me na selva silenciosa e sombria
Eu rastejo sem teu abraço, meu amparo
 
Em tempos de dias curtos e lua opaca
Afundo-me na areia movediça da agonia
Eu não sei se sou o caçador ou a caça
 
Um medo uiva dentro de mim e me acua
 
Eu te amo na cama que a mente insinua

    Em um ambiente que se aproxima do gótico, onde a natureza em nada favorece o homem preso na lembrança de um amor, a insanidade começa a beliscar suas certezas. 

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PÉTALA III
RESSONAR DE UM MOMENTO
 
Ouço roncar em mim
A voracidade do verme
Ela disse que era amor
 
    A solidão rói por dentro como um verme depois de uma desilusão amorosa.

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PÉTALA IV
O DIA QUE EU POSSO TER
 
Com meu corpo sovado por pesadelos
Eu abro meus braços para acolher o sol
A magia da manhã cura minhas feridas
 
Enquanto busco uma fenda qualquer
Na muralha que encastela meu viver
Eu arranho as lembranças pungentes
 
Sei que o dia tem pouco a me oferecer
 
Mas hoje este é o dia que eu posso ter

    Viver cada dia como se fosse o único. Uma pétala de alento em meio a outras que sangram com os espinhos da vida.
 
 

PÉTALA V
COM(PASSOS)
 
Enquanto eu sangro
A Minha vida segue
No ritmo de um tango

    A vida precisa seguir ainda que seja em ritmo de tragédia, típica de um tango invisível nos conduzindo pelo destino.
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