sexta-feira, 24 de novembro de 2017

ALDRAVIAS PARA QUARTA FLORADA



I
poema
ao
acaso
quando
viramos
caso

***

II
nunca
despolpei
mexericas
tão
pouco
mexericos

***

III
minas
minera
palavras
como
bate-se
aldravas

***

IV
sonhos
muito
soltos
tornam-se
pesadelos
pesados

***

V
palavras
voam
feito
poeira
formando
versos

***

VI
leram
tantos
poetas
sentados
em
gramas

***

VII
soltou
berros
quando
descobriu
seus

erros

domingo, 19 de novembro de 2017

VIDE BULA


Um beijo molhado e demorado não compensa
Ouvir o sussurro do prazer não rende lucros
Passear pelo parque de mãos dadas é perda de tempo
O que paira sobre o concreto rachado do asfalto
É apenas um espectro do que foi o amor

Sentir a brisa da tarde acariciando nossos rostos
Não torna o corpo mais leve e preparado para a paixão
Pisar descalço sobre a relva orvalhada é anti-higiênico
O mundo inteiro está empacotado em ganâncias
Disfarçadas de pretensões ultramodernas

Soltar uma pipa para brincar de deuses dos pássaros
Coloca em risco a sanidade da criança já letrada
Sentir saudades do sítio lá no sertão é retrocesso
Não podemos esquecer a hora de tomar nossa felicidade
Em cápsulas acompanhadas de um copo de água industrial



segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A GAROTA Nº 10


A garota morreu de acidente
Mal posso acreditar
Que ouvi a voz dela
Ecoando pelos corredores da tarde

O pátio da escola está mais triste
E perdeu um dos últimos fragmentos
Que nos faziam acreditar na ingenuidade

Os sonhos se capotam a qualquer velocidade
E se quebram sobre qualquer pavimentação
Seja Glace Kelly, seja Hellen Glayce
As princesas precisam se tornar eternas

As salas de aula transpiram lições de vida
Que vão além de revisões ou questões de exames
Por isso a noite chorou copiosamente
Por não ter mais o brilho de suas estrelas
Refletido nos sorrisos de um coração tão grande
E tão sem espaço para guardar rancores

Eu sei que a vida segue
Mas sem Hellen Glayce
As curvas serão sempre
Mais sinuosas
Perante nossas mãos trêmulas
Na hora da chamada


POEMA DEDICADO A HELLEN GLAYCE, Vítima de capotamento de carro em 12.11.2017 ( Aluna nº 10 do 3º E)


terça-feira, 7 de novembro de 2017

MEU DOMÍNIO



Não me adiantou amar as rosas
Plantadas em jardins alheios
A morte veio sem pedir licença
E sulcou um peito infértil
Para as ilusões do mundo

Precisei gritar em diversas noites
Por um nome desconhecido
Vi minha voz voar como morcegos
Entre as velhas casas da cidade
Em seus segredos extenuantes

Não exerci nenhum fascínio
Nunca ouvi um aplauso
Meu domínio não passou do meu corpo
E dos abraços que eu dei
Em miragens insinuantes

Morri como se morre naturalmente
Como uma lâmpada que se apaga
Na madrugada já tão escura
Na verdade eu é que desisti
De ver o sol raiar sem nenhuma razão


DA SÉRIE: GOTIKLAUS II