quinta-feira, 31 de maio de 2018

CORPUS CHRISTI & HABEAS CORPUS




         A turma do “quero-mandato” anda apreensiva, exceto os caras-de-pau, ou ao menos, veem suas rotas alteradas com os fatos no Brasil.

        O presidente fez da República Federativa a sua república temerativa. Dentro desse propósito, transformou o planalto central em uma república estudantil, abrigando fanfarrões e catedráticos num mesmo recinto.
         Penso nessa quinta-feira, dia de Corpus Christi, onde lembramos da doação do Verbo Feito Carne para que a humanidade soubesse que através da entrega pudéssemos, amando o inimigo, dando a outra face, construir realidades onde possa haver libertação de todos os homens e do homem no todo, que a vida poderia ser melhor de fato e não apenas melhor de foto.
         A realidade está latente nas ruas, nas filas no posto de gasolina como foi ano passado nos postos de vacinação aqui em Minas Gerais por causa do temor da febre amarela. A realidade grita por melhores condições de vida, mas o Brasil não é um Estado de Direito, e sim, um Estado de Desejo. Peço que nenhum de nós, pindoramenses, queremos direito, por ter direito, ou viver em um Estado de Direito significa também ter deveres. E como detestemos deveres, e como somos preguiçosos, somos todos Macunaímas, não queremos também direitos. Queremos sim, o que desejamos.
         Entendo que a humanidade evoluiu. As pessoas estão cada vez menos sendo objetos, e sujeitos de suas condutas. No entanto, com nosso espírito de Macunaíma, nós não queremos pensar. Então preferimos as interdições militares sem ao menos pensar no que isso significa de fato, para além das fotos. Quando penso, existo, segundo René Descartes. Existir em um Estado de Direito é estar constantemente pensando na economia, na política, na cultura e sobretudo na ascensão social. Não pensar, ainda que seja não existir, é melhor. Ficar transferindo reponsabilidades é melhor também. Só que a liberdade está em seguir um caminho, falar sempre a verdade e viver, isto é, existir.
         Há um Jesus histórico, mencionado nos escritos de Flávio Josefo. Ele que hoje é homenageado em forma de tapetes diversos nos diversos lugares existiu, pois pensou nos humildes, nos oprimidos, agrupou homens e mulheres, fez a distribuição do pão e como pão, distribuiu sua própria carne. Ele não só teve um caminho a seguir, como se fez caminho. Ele não só falava as verdades, independente do que seus seguidores queriam ouvir, pois Ele é a verdade.
         Quem pensa, existe. E quem existe é mencionado na história, seja de forma individual ou grupal.
         O Corpus Christi celebrado hoje por uma parte dos cristãos, nos liberta de todos os males. Mas quem não segue seus ensinamentos e se envereda pelas teias da politicagem, atendendo a turma do “quero-mandato”, para ficar livre das simples grades de ferro, precisa de outro tipo de corpus, o habeas corpus do Gilmar Mendes.
         Comungar o corpo de Cristo não converge com ser corporativo quando o objetivo é transformar nosso Estado de Direito em Estado do Desejo. E o desejo não liberta. Assim penso.

        
         quinta-feira, 31 de maio de 2018

O CÃO DO FOCINHO VERMELHO


Carimbando meu passaporte
Eu penso que o céu pode se desesperar
Minha mãe pegou-me pela mão enquanto eu bebia leite de uma vaca
Que pastava
Que pastava
Enquanto a saudade de tudo martelava o mourão da cerca

A chuva que molha o terreiro
Despertando o aroma de solo fértil
Cio da terra?
Algo parecido
                                      Algo impensado
O cio da terra e aquela porca presa por uma corda velha

O terreiro está perdido em sua missão secular
Corto estradinhas para meu novo carrinho de brinquedo
Eu, menino
O terreiro tem a missão de ser vigiado pelo Tenente, 
O cão do focinho vermelho

Mas a tarde vai se acomodando sobre o pasto
No sítio que vive em minhas doces lembranças

segunda-feira, 28 de maio de 2018

DESABASTECIMENTOS E OUTRAS MISÉRIAS


Um grupo de homens sai pela manhã para caçar levando consigo os adolescentes do sexo masculino. As mulheres ficavam na tribo, cuidando dos novinhos. A caça podia ou não ser bem sucedida. Não dependiam do caminho que depende de um caminhoneiro.
         Mas o medo era real nos homens. Encontravam feras nas selvas e outros perigos em suas empreitadas. O medo também ficava no pensamento das mulheres.
         O medo de não ter o que comer, o que beber e satisfazer suas necessidades é um companheiro constante do homem. É preciso abastecer-se de tudo que precisa. É preciso de saúde para poder desfrutar o alimento no seu aspecto mais saboroso. O homem já comeu para demonstrar poder, para saborear a arte da culinária e, sobretudo, para se nutrir.
         E, quanto mais avançamos na sociedade capitalista/consumista, mais fácil ficou abastecer-se. Bata pega o celular, achar o aplicativo e pedir a pizza, o x-bacon, a marmita, e outras coisas.
         Quantas pizzas e lanches são entregues em uma noite de qualquer dia da semana? E quantos litros de gasolina são gastos em motos? E não é que em tempos de greve de caminhoneiro, tem até cavalo entregando.
         Mas tem um ente maior que não aceita ser desabastecido. É o tal do mercado. Oh bicho feroz. É preciso manter o mercado sossegado, por isso aumentamos o preço dos meios para que a caça chegue em nossas casas.
         A distopia dos dias de hoje é mais cruel que os tempos pré-históricos. Lembra cenas do filme Mad Max a solidão do homem diante da ausência total do Estado. Roubo de combustível e a escolta ao pouco que ainda resta.
         Lá no passado, bem no passado, o combustível era o instinto de sobrevivência do homem. Era essa vontade de conquistar um dia a mais na sua curta vida que o fazia sair atrás do animal a ser acuado e morto, agora é o petróleo, nossa matriz energética, que faz com que tudo chegue a minha casa. E quando não há mercadoria se movendo sobre as rodas, que o homem descobriu a bem tempo, movido pelas faíscas liberadas pela queima do combustível que faz o motor movimentar, fogo é outra descoberta do homem, surge o desabastecimento. E aí falta de tudo, do necessário ao supérfluo, do emergencial como os insumos de saúde como a ração para os bichos que já não caçamos mais, a não ser nos nossos aplicativos de celular, e quanto no muito, nas gôndolas de supermercados.
         Lá no passado, o homem dependia da sorte e do trabalho em conjunto da sociedade totalmente tribal. Aqui dependemos da mão invisível e desse ente que nós criamos, chamado Mercado, para termos o abastecimento de nossas necessidades, que vão muito além de simplesmente suprir o corpo de nutrientes básicos como proteínas, vitaminas, sais, lipídios e carboidratos. O medo de desabastecimento é apenas uma das nossas misérias.


28/05/2018


sexta-feira, 25 de maio de 2018

SABORES ESQUECIDOS





Sabores amargos em bocas desiludidas
De onde saem canções de revolta
E o menino pede mais que uma migalha
Do pão que alguém amassou por acaso

Senhores da guerra e de toda miséria
Sentados em suas cadeiras elétricas
Encadearam o mundo em suas angústias
Para anestesiarem suas sarnas mentais

Sinceros adeuses são dados sob o vento
Varrendo os momentos inesquecíveis
Quando a mão tocou a pele ressabiada
Entre o gozo e o nojo de tanto desamor

Socaram as flores que insistiram em existir
Sobre os papéis e contratos assinados
Para serem desrespeitados ao aroma
De uma conveniência que sopra sem avisar

Sussurros de algum poeta do outro lado do muro
Acalentando os olhos que já nada vê
Apenas houve a realidade distorcida
Corrompida pelo interesse da rede de tevê

Sussurros socando a síntese de sabores esquecidos!

TODO CAMINHONEIRO TEM UM PARENTE





O cara é parente de alguém. Todo mundo da família é parente. A direita brasileira também tem seu parente. Sim, ele se chama Pedro. E ele é uma espécie de pedra quando um governo de direita está no poder. Ele estava lá naquele apagão.
Mas todo mundo já ficou escuro por causa de um parente. É que o sujeito vai te visitar, gasta a energia indevida. Ou quando era lamparina, ficava até lá pelas dez da noite batendo papo, lembrando-se da infância, contando piadinhas sem graça, perguntando pela tinha que não vê há tempos. A gente não percebe que a querosene vai acabando dentro da latinha. E de repente o fogo mingua. A luz se vai e o parente deixa a gente no escuro.
Tem também aquela prima, que também é parente, que mesmo não apagando a luz, convida a gente para encostar um pouco mais prum canto, para a gente se beijar.
Mas tudo isso passa, hoje na casa da maioria dos parentes não há mais lamparina. E nem na nossa casa. Então a gente recebe o cara, ou a cara, que traz um monte de bugigangas eletrônicas. A primeira coisa é carregar o celular, depois de pedir a senha o wifi, claro. Depois vem o secador de cabelo, a chapinha, pede para usar o liquidificador para fazer sua mistureba que emagrece, usa o barbeador para barbear sei lá o que, e vai usando, abusando, se lambuzando, e de repente, a energia do barraco que é gato, cai. Fica todo mundo no escuro. E o parente segue causando apagão.
E quando a gente pensa que o parente foi embora, ele volta. Agora mais moderno. Mais abusado. Pede o carro emprestado e dá uma volta, duas, pede mais uma vez, e quando a gente percebe a gasolina acabou. Com a chegada do parente, agora há mais concorrência. Se o dólar subir, a gasolina também vai subir, o parente é sempre aborrecente. Então é preocupação e canseira, a gente tem vontade de estacionar a carreta no meio do caminho. Temos a sensação que o combustível está acabando.  Dá vontade de parafrasear o homem de Itabira de onde partem os poucos trens que ainda restam, “há um parente no meio do caminho, no meio do caminho há um parente.” Não tinha, ainda tem, há, agora , no Brasil onde a maioria pode escolher o seu Parente.
Cada um ganha a vida como pode e nem sempre se tem o parente que quer. Mas há quem escolheu o Parente. O Parente, com P maiúsculo, que gosta de causar apagão ou deixar o preço da gasolina, do etanol e do diesel flutuar e esquece que o que é volátil só sobe, nunca desce. O Parente parece não entender disso.
E o caminhoneiro parado no trevo, com um trevo de quatro folhas no bolso, arriscando a sorte nas estradas noturnas, trazendo tudo, levando tudo, da maionese do hambúrguer a erva que abastece a boca. Do remédio do hospital ao chumbinho para matar os ratos, os gatos, as cachorras, e abastece cada um no seu quadrado, tem o parente para sustentar e para se aperriar. Então o Parente chega como sua alegria, parece ser a salvação. A gente abre mão de outras pessoas e o acolhe. Ele vai ficando quieto no seu canto, ganha a confiança e a gente confia que ele sabe. Mas ele faz do jeito dele e bagunça a vida, se deixar, de um país inteiro. Então a gente passa a desejar a saída dele. A gente começa a entender a lição: a nem todo Pedro deve se dar a chave do céu e nem do galinheiro, mesmo se ele for Parente.
Então passamos a não ver a hora do parente voltar para donde veio e cuidar dos seus próprios frangos.


domingo, 20 de maio de 2018

RETORNO




Nessa distância que me contém
Diante do imenso deserto sufocante
Eu avanço passo a passo e construo
As ruas que sonhei ontem à noite

Rastejo-me por campos verdejantes
Emoldurados por colinas infelizes
Meu sopro virulento dissolve a vida
Que resta diante dos meus olhos

Não sei definir o que me move
E se são lágrimas quando chove
Mas sei que meu existir é um peso
Se não consigo versejar sobre flores

Daqui a alguns quilômetros espera-se
Pelo meu retorno depois de séculos
Alguns braços estarão abertos
Algumas mãos estarão cerradas

Eu me movo lépido, com cuidado
Nenhum mato pode ficar amassado
Não quero deixar nenhum rastro
Do meu cansaço e da minha ruína

Sigo a direção que o sol me aponta
E vasculho os respingos da noite
Em busca de uma migalha de amor
Para ofertar se acaso eu encontrar
Alguém que ame o que resta de mim

sábado, 19 de maio de 2018

TODO CASAMENTO É REAL



Uma parte da famigerada população de Homo sapiens do nosso planetinha está com as atenções voltadas, enquanto a outra parte está com suas tensões revoltadas, para o casamento real.
De minha parte eu só sei que vai haver um casamento. Lá na Inglaterra. Vai ter gente chique pra chuchu. E vai ter gente ganhando dinheiro tirando boas fotografias e revistas vendendo. Fico imaginando se todos os casamentos não são reais.
Sim, todos. Posso afirmar sem medo de errar. O seu casamento desandou? Não deu certo? Não se preocupe. Nem por isso ele deixou de ser real. Verdade. Ele existiu. Não foi ilusão. Aconteceu. Você e a outra pessoinha estavam lá.
O leitor vai dizer que o pseudocronista aqui está fazendo trocadilho barato. E está. Mas nem por isso deixarei de desenvolver a pseudocrônica que vai manchando a brancura da tela.
Mesmo sabendo que o real é de realeza e não de realidade, posso afirmar que todo casamento é de fato real. Somos príncipes e princesas de algum reino. Ainda que seja uma choupana no interior do interior do interior do Brasil, ou de qualquer país do sul. Ser príncipe e princesa está no nosso DNA de Homo sapiens. Comandamos alguma coisa em algum momento da vida. Esse pseudoescriba, de vida fútil, comanda agora os destinos desse texto. Então a tela em branco é seu reinado, ora bolas.
Lavando o copo na pia sobre os pratos sujos do almoço quando já são quatro horas da tarde, ou na bica d’água que desce da lasca de bambu lá pelos anos oitenta no córrego do Cedro, todos nós temos nossos principados. E ansiamos dentro do coração encontrar nossa cara metade. O amor é uma infecção que vem do útero. Penso até que o amor deveria ser considerado uma das DSTs. Não há quem não deseje, lá no fundo, amar e ser amado.
Mas ainda que o principado de alguém seja uma pia cheia de vasilha suja ou um beco de milho para ser capinado, não deixa de trazer as complicações da política. Do conduzir para o bem ou para o mal as circunstâncias. Como tudo na vida, o pequeno principado de cada um deve ser conduzido com maestria. E até o casamento pode vir a ser conchavo para alianças como já foi no passado, no tempo dos reinos. Aí é que a coisa fica encoberta ou desanda.
Confesso que não estou por dentro de quem casou com quem hoje lá na Inglaterra, e nem sequer, no meu torrão amado. Portanto não opinarei sobre o quanto há de política e o quanto há de amor de fato no casamento. O que eu sei é que as coisas se misturam. A política não é ruim. Ruim é a politicagem. O uso dela para fins nada humanos e sociais. Mas o casamento pode até ser um arranjo político, sobretudo entre realezas, mas para terem durabilidade, não podem abrir mão do amor.
O contrário também é verdadeiro. O casamento pode ser motivado pelo nobre sentimento, mas se os cônjuges não colocarem em prática a política da boa convivência, não haverá amor que mantenha dois Homo sapiens vivendo debaixo do mesmo teto e rocando sob a mesma coberta. Por isso todo casamento é real de realeza e real de realidade.


19/05/2018 14:43:15


sexta-feira, 18 de maio de 2018

A ÚLTIMA GOTA




Quando a subida não mais compensa
Quando a comida fica mais densa
Quando ninguém mais te pede licença
Quando o diálogo termina em desavença

Será que chegou a hora de fechar a porta
E de jogar fora o que pouco te importa?
Ninguém mais liga pelo jeito que você se comporta
Até parece que ninguém te suporta

Quando a rota não pode ser mais alterada
E tudo se esgota antes da hora marcada
E a roupa desbota toda vez que é lavada
E o ônibus lota antes da passagem ser comprada

Será que é momento de dizer aquele adeus
E marcar o sepultamento para hoje à tarde?
Fui apenas entretenimento em diferentes coliseus
 Fui apenas fermento na massa que arde

Apenas a vida e o latejar do impulso
A veia corrompida sustentando o pulso
A última gota de saliva ejaculada por instinto
A morte imperativa reina no corpo já extinto

segunda-feira, 14 de maio de 2018

CENAS DE UM CURTA-METRAGEM





O meu amor por Keith Trujillo começou naquela manhã de neblina. Estava eu prendendo o cachorro quando ela passou em frente à minha casa. Notei seu olhar desejoso e correspondi abrindo um belo de um sorriso. Ali percebi que algo começou a germinar dentro de mim por aquela garota que eu via pela primeira vez. A partir daí as coisas foram se encaixando.
Pela tarde, quando fui à padaria do bairro comprar pão para o lanche vespertino, ela estava lá fazendo o mesmo. Não deu outra, nos apresentamos e ela me falou que tinha se mudado no dia anterior para uma casa no final da rua. Entre risadas para preencher o vazio da conversa e questionamentos sobre o outro, o papo foi rolando até chegar ao portão da minha casa. Combinamos de lanchar à noite juntos no trailer que fica na avenida.
Assim foi o nosso primeiro dia de namoro, se assim podemos chamar. Lanchar juntos foi pretexto para o primeiro beijo. Parecíamos ao final do encontro, tão íntimos, que a sensação era de que estávamos nos relacionando há meses.
Eu nunca tinha namorado alguém com tanta convicção assim. Amanhecia e eu prendia lentamente o cachorro na esperança de vê-la passar para a escola. Eu frequentava um cursinho três vezes por semana na parte da tarde e agora aproveito as outras para estar com ela em algum lugar. Fui alertado pela família para não perder o foco. Concentrar-se nos estudos para prestar vestibular. Eu sempre respondia que tudo estava sobre controle. Tínhamos que nos encontrar pelas pracinhas. Ela nunca havia me convidado para ir à sua casa.
Certo dia, perguntei a ela se não era melhor para a gente se eu fosse apresentado aos seus pais. Ela me disse que não. Ela já havia me apresentado para eles. Mas eles entendiam que ainda não era o momento para ela levar namorado em casa. Eles permitiam que ela ficasse comigo assim, todo dia.
Keith Trujillo era cinéfila. Conhecia todos os filmes e toda semana íamos ao cinema. Sabia falar da carreira dos principais atores de Hollywood. Era fã de Rachel Weisz. Fui lembrado da atriz atuando em Constantine. Quando mencionei Quentin Tarantino, ela torceu o nariz. Não era seu diretor favorito. Reconhecia seu talento, mas seus filmes raramente a atraía.
Quando Keith me falou que estava com vontade de rever Titanic com Leonardo DiCaprio, eu não hesitei. Disse que tinha o filme em casa, dividido em dois DVDs. Ela parecia se sentir feliz e perguntou que dia poderíamos assistir. Marquei para domingo à tarde. Ela compareceu. Perguntei a ela o que a levou ter o desejo de rever o velho filme. Ela me disse de uma tese que circula na internet dizendo que o personagem Jack Dawson não é real, mas fruto da imaginação de Rose que o inventa para fugir da pressão que estava vivendo.
Sempre achei o filme longo demais. Mas dessa vez ele teve um sabor especial, Keith era a minha Rose. Ela ia me explicando a tese enquanto eu ia navegando com minha mão pela sua pele. Meus pais tinham saído. No fim, enquanto o navio afundava, eu explorava certas partes do corpo dela e o congelamento de Jack Dawson se contrastava com o meu aquecimento naquela tarde de domingo em frente à TV da minha casa.
Pouco a pouco percebi que eu também estava virando um cinéfilo. Passei a pesquisar sobre filmes, atores, diretores e até me arrisquei a escrever um roteiro. Keith riu de mim e disse para fazermos juntos alguma faculdade sobre cinema. Poderíamos trabalhar em parceria no futuro.
A vida ia caminhando normalmente. Tive que avançar no cursinho para ter êxito no Enem e conseguir entrar na Federal. Keith, ainda no 2º ano do Ensino Médio, faria também o Enem por insistência minha.
Faltando duas semanas para o exame, acordei com uma rajada de tiros perto da minha casa. Achei estranho. Abri a janela com medo. Vi sirenes de ambulâncias e viaturas indo para o final da rua. Não me contive, saí e vi que a tragédia tinha sido na casa de Keith. Ela e todos os demais da família foram assassinados.
Dias depois fiquei sabendo de um detalhe que ela não me contou. Talvez nem ela soubesse. Ou sabia, mas queria proteger o nosso amor. Seu pai fazia parte de uma rede internacional de tráfico de drogas.
Hoje revivo sempre nossas cenas de amor que talvez dê para fazer um curta-metragem. Um dia eu farei.




quinta-feira, 10 de maio de 2018

CATACLISMO

Restam-me todos os momentos
Alegres
Em que você configura
Sorridente
Ao meu lado nessa loucura
Fremente
De tentar amar sem medidas

Respingos do que são vidas
Decadentes
De dois corpos amantes
Dementes
Tentando reatar o antes
Nos dentes
Do desejo em tardes delirantes

Restolhos de tudo que gemeu
De prazer
E saiu dos lábios meus
E você
Lubrificou os lábios teus
A mercê
Do cataclismo de um adeus

sábado, 5 de maio de 2018

CONSUMAÇÃO



Foi essa chuva que me trouxe
O teu cheiro agridoce

E num relâmpago de relance
O calor do teu afago

E num trovão de sons guturais
A melodia dos teus ais

E a vida segue traiçoeira
Puxando-nos o tapete
No ápice da felicidade

A lembrança martela
Para além da morte

A saudade amarga a boca
E sangra os olhos

A verdade se esconde
Onde a gente não vasculha

E a vida segue a cada dia
Mais sádica, mais insana
Na panela da consumação

sexta-feira, 4 de maio de 2018

A BUSCA (PEQUENOS ESCRITOS, GRANDES NARRATIVAS! I)




A BUSCA

Ela sofre com seus casos de amor. Ninguém ainda sabe o segredo do seu cofre.



A CONDUÇÃO

Sentia a mão de algum deus conduzindo-lhe pela vida. O que lhe incomodava era a unha grande deixando chagas pelo corpo.


PRESENÇA

Assim que entrou no pátio da escola, foi o centro da atenção. Sua caderneta dizia que ela se fazia presente desde o dia da sua morte.


A JUSTIÇA PARALELA

Ele decidiu largar o crime. Mas na lei do crime, isto é muito crime. Foi sentenciado largamente.


PARTIDA

Estação lotada. Difícil pegar qualquer trem. Ela, um dia, 
conseguira partir,  para as estrelas.



quarta-feira, 2 de maio de 2018

5 melhores filmes baseados na obra de H.P. Lovecraft


H.P. Lovecraft foi um dos maiores autores da literatura clássica gótica. Morreu novo, com apenas 46 anos, em decorrência de um câncer no estômago, mas deixou uma enorme contribuição na ficção científica de horror, na qual ficou conhecida como “Terror Cósmico”. Nele, mostrava o ser humano sempre diante de uma realidade paralela hostil e assustadora habitada por criaturas estranhas que adentravam em nossa realidade para aniquilar os seres humanos.

Leia o artigo em: http://nerdpoint.com.br/26/03/2018/especial-5-melhores-filmes-baseados-na-obra-de-h-p-lovecraft/