sexta-feira, 30 de junho de 2017

O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ - CAPÍTULO VI

NOTA DO AUTOR: Se você está acessando pela primeira vez um capítulo de O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ, sugiro que você retorne ao PRIMEIRO CAPÍTULO.



Nas primeiras vezes que Meire viu Afonsinho o classificou como um rapaz qualquer. Mas, pouco a pouco, sentiu-se cativada pelo jeito do balconista. Renasceu dentro de si aquele desejo que havia começado a morrer na noite em que foi flagrada no bar pela mãe. No início pensou que seria uma sensação passageira. Coisa de mulher. Enganou-se. O desejo de ter Afonsinho entre seus braços, de beijar aqueles lábios, enfim, de possuí-lo e ser possuída, crescia. Não. Não era só para alguns goles de cerveja em um bar lúgubre ou para um sarro no canto da cidade. Desejava-o para todas as diversões e para todas as noites.
Há tempos que carecia de um toque masculino. Carecia de uma cantada e até mesmo de um pouco de carinho. Reconquistada a confiança da mãe, reprimia o desejo de ir à busca de um homem. Desligara-se completamente de Luzia. Foram dois anos e meio sem diversão, sem passeios, sem uma emoção sequer. Temia que seu coração estivesse se transformando em pedra. Revirginou-se psicologicamente.
Aquele sentimento por Afonsinho, descobriu, era paixão. O que devia fazer? Era a primeira vez que vivia esta situação.
Afonsinho jamais notou nela alguma coisa que lhe atraísse. Tinha-a apenas por vizinha e freguesa. Talvez quisesse paquerá-la e nada mais. Mas ainda não havia pintado oportunidade.
Era quinta-feira. Antes de começar a preparar o almoço, Meire enfiou a mão na gaveta do armário, achou alguns trocados e teve a uma ideia. Mas como coloca-la em prática?
Foi até à mercearia e pediu suco de morango.
— Não temos — respondeu Afonsinho. — Só temos refresco Royal de laranja. Serve?
— Não, deixa pra lá. — animou-se. — Você estuda?
— Faço a oitava série. — respondeu sem grande ânimo.
— Você gosta de ler livros de romance? — Meire encontrava as palavras, não sabia de onde elas vinham. Mas as encontravam. Talvez estivesse vindo do meio das latas de óleo de soja.
— Leio. — mentiu o rapaz.
— Se você quiser um livro emprestado, vá hoje à tarde ali a minha casa.
—O.K. — respondeu como quem começasse a entender a pretensão da moça.

A verdade é que Afonsinho nunca tivera preferência pelos livros de romance, mas ter romance com quem lia livros. Achava as histórias sempre iguais. No fim sempre um final feliz. Lembrava-se de apenas um que não terminava assim. Preferia suas revistinhas de quadrinhos. Iria aceitar o livro não pelo oferecido, mas pela oferente. De uma garota não se rejeita nada, ainda que seja um fora. Não era o caso. Ele leu nos olhos dela se oferecendo como uma presa desatenta ao predador.
Meire, na verdade, só tinha um livro. Já estava velho, comprado em banca de jornal de rodoviária. O livro fora ganho do esquecimento de uma de suas tias que moravam em Vitória. Ela já sabia a história narrada no livro de cor e salteada. Não entendia por que aquele nome Sabrina em letras garrafais, mas já tinha visto outros livretinhos desses nas mãos de algumas de suas colegas de aula. Mas o título chamou a sua atenção.
Agora o livro seria apenas um meio para se aproximar mais do pretendido rapaz.

Meire planejara tudo. À tarde sempre estava sozinha. Seu irmão sia para a escola e sua mãe ainda estaria no trabalho. Não haveria outra chance melhor de oferecer a Afonsinho a única coisa que possuía: seu corpo. E fazer o que ainda não esquecera apesar de se reprimir por algum tempo.

sábado, 24 de junho de 2017

O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ - CAPÍTULO V


Essa história começa aqui:AFONSINHO: O GALÃ DA MERCEARIA

CAPÍTULO V
A mãe de Meire teve que arranjar uma folguinha no emprego para dar uma chegadinha até a escola dela sem entender o porquê da solicitação tão urgente.
         — A senhora sabia que sua filha tem faltado frequentemente às aulas? — perguntou a supervisora em tom autoritário.
         — Faltando? — surpreendeu-se — Mais como? Todos os dias ela sai de cada para vir à escola.
         — Mas não vem. Está com um número excessivo de faltas. Na certa vai ficar reprovada.
         — Vou procurar saber o que está acontecendo.
         Despediu humildemente da supervisora e voltou para o trabalho
         Ao chegar a sua casa, saindo mais cedo, foi logo querendo passar a limpo a afirmação da escola. Porém Meire achou uma saída. Disse que muitas vezes chegava atrasada. O portão já estava fechado e com medo que a mãe soubesse, esperava as colegas na volta. Disse que também estava preocupada com a situação.
         Numa noite o azar bateu na porta de Meire. Sua mãe estava indo ao aniversário de uma colega. Ao passar em frente a um bar, resolveu dar uma espiada por curiosidade. Ficou atônita. Viu sua filha como jamais imaginara. Em mesa de bar sendo cortejada por rapazes desclassificados. — Não, não era verdade. — pensou.
         A reação foi instantânea:
         — Para casa, sua vagabunda, antes que eu te dê uma surra aqui mesmo.
         Saíram mãe e filha sem dizer nada uma para a outra e seguiram para casa.
         Surrada, Meire não voltou mais às aulas e foi proibida por tempo ilimitado de sair de casa, a não ser na companhia da mãe. Desviciou-se do cigarro, da bebida e do sexo fácil.
         Pouco a pouco a poeira foi abaixando e ela reconquistou a confiança em casa.
         Talvez pudesse voltar a estudar, mas não teve coragem.

         Depois de algum tempo mudou com toda família, mãe e irmão, para a pequena casa ao lado do estabelecimento comercial.


quarta-feira, 21 de junho de 2017

PÃO, VINHO E ESTRICNINA

PRIMEIRA
ESTOCADA
MICHEL FOUCAULT
Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta... Não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, criticá-la, usá-la.

PÃO, VINHO E ESTRICNINA
 O novo sacristão prestava atenção no sermão sobre confissões. Talvez um dia ele confesse seu mais novo segredo. Só ele sabia naquela catedral superlotada que a comunhão seria sob três espécies: pão, vinho e estricnina.


 
CENÁRIO

 Antes de usar a velha catedral como locação do seu filme de terror, o diretor de cena precisou do sangue do bispo.


 
O BISTURI DO CIRURGIÃO 

— Ei doutor, passa o seu bisturi em mim. — falou toda sinuosa para o jovem cirurgião que foi fazer uma palestra na escola. No dia seguinte ela estava morta, toda retalhada. Ele havia realizado seu desejo.

 
NA CARNE DO CORVO

 Enquanto o corvo beliscava seu corpo, sua alma apossou-se do animal asqueroso. Só agora percebe como o mundo é lindo e as pessoas são doces.
  
CHURRASQUINHO UNIVERSITÁRIO

 Ele vendia churrasquinhos em frente à faculdade de medicina. Todos compravam seu petisco para aplacar a fome após longas aulas. Era de um sabor diferente. A cada semana ele tinha um freguês a menos. Ainda assim seu negócio rendia. Coisas de ex-universitário frustrado.


 
ENXADADA INCISIVA

Estressado com sua profissão, cirurgião renomado abandonou sua brilhante carreira. Comprou um sítio longe da grande cidade. Pensou consigo: Mexer com plantas é bem melhor que com ser humano. Na primeira enxadada fez uma incisão bem no peito do cadáver mal enterrado.


 
COMEMORAÇÃO NO TREVO

 — Oi amor, estou te ligando para sairmos hoje, vamos comemorar a noite toda.
— Comemorar o que?
— Você não se lembrar? Vem que eu te conto. Encontre-se comigo no trevo depois das 10.
Ele havia esquecido que hoje faz um ano que sua namorada morreu atropelada no mesmo trevo que sempre a encontrava.
O VILAREJO

Quando chegou ao vilarejo, não encontrou uma viva alma sequer. O lugar era realmente sinistro. Mal sabia ele que também sairia dali sem a sua.

 
PENA!

 O estripador ao retalhar o corpo de mais uma vítima, depara com uma cicatriz que ela trazia de um grave acidente automobilístico. Sentiu pena!


O MEL DA SUA LUA

Foi durante a recepção do casamento que ele passou para ela o veneno dentro de uma pequena ampola. O noivo ao lado sorriu inocente, nem percebeu que o mel de sua lua estava sendo temperado com estricnina.


FUGINDO DO PERSONAGEM

Entrou na loja e todas as balconistas se esconderam. Ninguém queria virar personagem nos contos do escritor. Isso sim é um terror para ele.

 
EU SANGUE FERVE

De seus olhos gotejam sangue. Seus passos são cambaleantes pela trilha estreita, cabelos desalinhados e um corpo frágil fora do prumo. Disseram-me que essa montanha é amaldiçoada. Não acredito, pois meu sangue ferve por essa mulher caminhando em minha direção.



NÃO HAVIA COMIDA


A chuva e a fome eram as duas companhias do andarilho. Ele avistou uma casa solitária. Julgou haver abrigo e comida. Enganou-se. Não havia nenhuma comida na casa antes dele se abrigar nela.

terça-feira, 20 de junho de 2017

UM INSETO PRESO EM TEIAS

CARTAS AO CAMARADA OLEV, CARTA Nº 04


Mutum, 04 de junho de 2017
 Caro Camarada Olev

Você pode não acreditar, mas há dias eu tento te escrever. Tenho estado acumulado de tarefas. Provas para corrigir e me enveredei pela literatura. Talvez seja a literatura meu refúgio. Sim, eu ando precisando de um refúgio. Decepcionado com o meu país. É uma tragédia que nós aqui no Brasil já sentíamos ao menos o cheiro de pólvora. Mas quando tudo explode a gente ainda lamenta. Meu país não tinha como escapar desse enredo. O partido da presidenta eleita em 2014 envolvido. O vice, envolvido, e o adversário também. Não tinha com sair dessa. Meu país é um inseto preso em teias cada vez mais pegajosas. Sofro muito. Ser esquerda no Brasil é ser humilhado com os fatos. É ter que renovar a esperança a cada dia. Você sabe que eu ando afastado da política. Não sou mais tão militante com outrora fui. Na minha cidade, o partido a qual pertenço governa bem. Em Minas Gerais, meu estado, faz o que pode, mas, a nível nacional, não tem como exaltar e nem tem como criticar. 
E quanto a você, o que anda fazendo em Burgas? A Bulgária anda fora do noticiário daqui. Não vejo mais nem a seleção de futebol e nem a seleção de vôlei do seu país. O que me despertou a retomar o contato com você foi uma menção feita à Bulgária no filme “Doce Vingança 2” que assisti ontem pelo telecine na TV paga.
Quando você virá ao Brasil me visitar? Parece-me que você falou de uma palestra que terá em Buenos Aires no mês de agosto. Argentina é aqui do lado. Organize aí e depois de passar pela cidade portenha, dê um chego aqui no leste de Minas Gerais. Vai ser interessante para você, como professor universitário saber o que é viver nesse meu país.
Se você vier aqui, quero discutir com você a ideia que tem se formado em minha mente. Penso que o capitalismo não dá mesmo. Então, aqui no Brasil, temos espaço para o surgimento de um novo tipo de socialismo. Eu primeiramente estou denominando essa ideia de Socialismo Orgânico. O adjetivo não te deve ser estranho. Temos muitas coisas orgânicas pelo mundo com a produção de alimento. Seria um socialismo baseado na organicidade de qualquer sociedade. Onde cada parte está ligada ao todo. Não parti de uma ideia fechada para depois dar um titulo, na verdade parti do título para ir fechando as ideias.
Mas penso que tudo precisa ser repensando, talvez seja uma evolução do que chamo Democracia de Projetos.
Mais uma renovo minha intenção de lhe escrever em espaços mais curtos.

Fraternalmente, um abraço
Camarada Mendes


O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ - CAPÍTULO IV




COMECE DO COMEÇO: Se você vai ler pela primeira vez, comece do CAPÍTULO I

Depois de um dia cansativo, lutando com as panelas contra o fogo, manejando o cozimento, a fritura e o tempero, a mãe de Meire estava dormindo como nunca. Um sono pesado, profundo, melodiado com um estridente roncar.
         Meire entrou pé por pé. Deitou-se em sua dura cama com um colchão tão magro como o rapaz que há pouco instantes a possuíra. Sentia a rigidez das ripas em suas costas. Algo lhe parecia sujo, levantou-se e foi ao banheiro. Despiu-se rapidamente e lavou o sangue coagulado que ficou escorrido perna abaixo. — Até que não sangrou tanto. Com tanta dor até achei que meu sangue iria sair todo por entre as pernas. — pensou.
         Enxugou as pernas e voltou para cama. Puxou para cima de si uma desbotada colcha de retalhos. Não tinha sono. Não tinha mais hímen.
         Começou a pensar na sua primeira vez, no seu primeiro beijo, na sua primeira transa e até os copos de cerveja tomados assim num bar eram os primeiros. Sentiu que agora sua vida ia mudar. Ia ser diferente. Descobriu finalmente a função de suas curvas bem definidas e das partes íntimas, aquelas que a educação rígida e tradicional lhe dissera que eram proibidas. Intocável vulva, nádegas e seios.

         Os dias passaram. Luzia e Meire se tornaram agora mais amigas, inseparáveis. Viviam de segredos pelos cantos da escola. Onde uma estava outra também. Combinavam aventuras, provocavam os rapazes e fingiam estarem sempre felizes. Matavam com mais frequência os dias letivos.
         Primeiro uma rodada de cerveja, alguns cigarros divididos entre cinzas no chão e nicotina nos pulmões. Depois de escolhido os parceiros, lá se iam para um canto qualquer. Bom é quando o parceiro tinha um carro, ainda que fosse um Chevette velho. Não tendo, fosse onde pudesse.

         Meira sentia grande prazer em ficar com um em cada noite. Julgava ser isso a única diversão que a vida oferecia a uma pobre garota de quatorze anos.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

JOIO & TRIGO



CARTAS AO CAMARADA OLEV - III


Mutum, 19 de janeiro de 2016

Caro camarada Olev

Começo essa missiva que vos envio com uma daquelas frases de efeito que costumo formular, e que venho guardando em uma pastinha no meu computador com o título de Clauditos & Claudices. Quem sabe um dia eu publico essa coletânea de aforismos com o título da pasta. Bem, esse é mais um dos tantos projetos literários que tenho.
Minha frase é:  “Todos os politiqueiros, do congresso nacional às câmaras municipais, são responsáveis pela chacina dos nossos sonhos”. Ou seja, “Всички политици, Националния конгрес на общинските съвети са отговорни за избиването на нашите мечти”.
Sei que você, cientista político aí em Burgas, vai me perguntar pelos projetos políticos. Não sou mais assim tão militante de rua, como você sabe. Ora, caro amigo Dimitri, digamos que faço política com as letras, apesar das dificuldades. Você sabe que sou formado em Ciências Biológicas. Logo, tenho dificuldades com a gramática. Essa última flor de Lácio que tanto me embriaga, às vezes me deixa de porre.
Agradeço pelos livros que você me enviou. São três excelentes livros. Espero que já tenha, pelo menos, folheado os que eu te enviei.
Mas caro amigo, não poderia eu deixar de falar da política em si, ou melhor, da politicagem que toma conta do Brasil. Percebe-se que a lama da mineradora no Rio Doce é um desastre literal que serve de metáfora para o que temos na política do Brasil. Dizia Renato Russo em uma das músicas da Legião Urbana: É sujeira para todo lado.
Pelo que você me relata, aí na Bulgária não é diferente. Então como vamos formatar um sistema político que seja imune à corrupção, suborno, nepotismo e outras patologias da política?
Deve haver algum jeito. Não podemos admitir estarmos condenados ao nosso próprio egoísmo, egocentrismo, que somos eternos assassinos de sonhos coletivos. Não podemos aceitar que somos isso, que o joio sempre vai crescer mais que o trigo.
Seja em religiosos, seja em ateus, a fé no ser humano tem que existir. Eu sigo aqui, nos sertões do leste, a viver em meu lar minha doce utopia de pensar que um dia, um belo dia, nós vamos acertar. Vamos encontrar um meio de educar, desde o útero, nossas crianças para viverem em um mundo diferente. Um mundo onde a política goze de perfeita saúde e seja cercada de pessoas que estão vigilantes para não deixar que nenhuma patologia avance pelas células do sistema.
Sei que tanto eu, quanto você, acreditamos que o mundo caminha, ainda que capenga, para o socialismo. O reino de liberdade se traduz em uma sociedade socialista, e jamais em uma sociedade capitalista. No entanto, atores sociais vão fazendo o papel que lhes cabe esse teatro da pós-modernidade.
Dimitri, leia meus escritos, se puder, no site Recanto das Letras. Tenho flertado com os chamados contos de terror para exercitar um pouco a maldade humana em forma de literatura. E aí eu penso que o joio, só para usar a metáfora de Jesus, deveria ser sublimado em arte. A literatura de Terror, que jamais chamarei de literatura negra, e a música como Death Metal, que eu curto, são apenas expressões artísticas que sublimam esse lado da alma, para que, nas ações concretas, aflore o trigo. O que há de bondade em cada mulher e em cada homem.
A um tempo atrás, eu terminaria essa carta dizendo, saudações petistas. Hoje eu prefiro terminar dizendo, saudações utópicas.
Fraternalmente, um abraço,

Camarada Mendes

sábado, 17 de junho de 2017

O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ - CAP III


NOTA: Se for a primeira vez que ler a nossa novela, não pague o preço, volte ao CAPÍTULO I

         Ao passar por uma rua escura, Meire sentiu o braço do rapaz envolvendo seu corpo. Parou sem saber por que. Parou sem dizer nada. Havia quinze minutos que estava calada. Pensou em fugir. Sabia que não era apenas o abraço que ele queria. Sabia que iria ser difícil dizer não, ou melhor, fazê-lo entender o não. Não adiantaria muito tentar resistir o que o seu próprio corpo queria. Já ia dize que hoje não, mas sentia os lábios de João Carlos tocando nos seus. Fechou os olhos e deixou acontecer.
         Era o seu primeiro beijo. Depois quis mais e mais. Mesmo não sendo João Carlos o rapaz da sua preferencia. Ainda, é bem verdade, não preferia ninguém. Com seus problemas familiares e a péssima condição financeira, não lhe restava tempo para os primeiros namorinhos comuns na adolescência.
         De repente sem saber o que fazer, perguntou:
         — Porque você me beijou?
         — É por que eu te acho uma gracinha. — respondeu o rapaz convicto de si.
         — É que eu nunca beijei antes.
         — Relaxa, tudo tem a primeira vez. – rebateu.
         Na segunda rodada de beijos, a mão do rapaz roçou-lhe as coxas em direção às suas partes mais íntimas. Ela tentou se defender. Mas a insistência venceu a resistência.
         Seguindo com os beijos, as mesmas mãos que roçavam suas coxas, contraia seus seios.
         Meire sentia-se suspensa e sem perceber foi puxada um pouco para o canto onde o escuro era mais forte que o resto da rua. Poucos minutos depois, Meire sentia, pela primeira vez, um corpo estranho em suas entranhas.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

A 3ª GUERRA MUNDIAL JÁ ACONTECEU




A 3ª Guerra Mundial já aconteceu. Foi uma guerra lenta, cautelosa, sem estardalhaço. Não foi uma guerra entre países, entre a aliança e o eixo. Foi uma guerra contra o humano e seus sentimentos. Foi uma guerra contra a identidade pessoal, contra a esperança e a nossa capacidade de sonhar. Decidiu-se destruir nossa mais poderosa arma, a utopia. Essa vontade de realizar algo que caiba em qualquer lugar, em qualquer cidade, em qualquer nação.
Você não viu bombardeiros no céu. Apenas aviões comerciais darem o beijo da morte em torres de babel. Os satélites de comunicação ficam mais alto que nossas vistas não os alcançam
 Você não viu trincheiras no chão. O asfalto é duro para se cavar. Não precisou de muitos soldados, mas técnicos necessitando vender seus trabalhos.
Não houve nenhum Pearl Jarbor, não houve cogumelo gigante em Hiroshima e Nagasaki. Não houve tentativa de paz. Não houve nada. Apenas a guerra silenciosa, cega e surda.
A guerra foi surda. Os fones em nossos ouvidos não nos deixaram ouvir os pedidos de socorro. Os senhores da Guerra não ouviram as jornadas de junho, a primavera árabe, o Green Peace, as mães da praça, de qualquer praça, e ninguém ouviu ninguém. No mar Egeu morre-se em silêncio. Apenas um corpo pequeno na praia pela manhã indica que a morte também sabe andar sobre as águas.
A guerra foi cega. Não viram nada. Nem os seios do Femen, nem as burcas das afegãs. Não viram a paulista lotada, não viram o Estado Islâmico avançar, não viram os escombros de Aleppo.
A guerra foi silenciosa. Não se fala mais. Em frente à Tevê, ao Netflix, ao tablet, i-phone, i-pad, i-qualquer coisa, a gente não se fala mais, o diálogo é uma exceção, um oásis no deserto das relações excessivamente áridas. Envia-se um “zap” como um míssil. Na calada da noite eles agem. Medidas provisórias, bolsas na Ásia, paraísos ficais. Tudo em silêncio. A suprema corte sem nenhuma cortesia. Direitos trabalhistas sendo esquartejados pelos açougueiros da democracia representativa. Eles trabalham em silêncio. Nós, em silêncio, morremos. Nem a canção nada questiona.
Nós perdemos essa guerra. Quem ganhou?
Ganhou o “hitler” que há dentro de cada um de nós. Nossos preconceitos, nossa ideia que somos os melhores. Nossa apropriação de símbolos que antes eram de paz. Nosso anseio de aprisionar o próximo em uma câmara de gás. Hitler venceu a Terceira Guerra Mundial.
Ganhou o “mussolini” que há dentro de cada um de nós. Nossa oportuna usurpação de pequenos poderes. O poder de ser aprovado na escola sem ter aprendido nada. O poder de contrair viroses na ânsia de ser superpotente.
Ganhou o “stálin” dentro das organizações com princípios socializantes, mas que agiu com mão de ferro. Endureceu-se tanto que perdeu-se a ternura.
Ganhou nossas viagens kamikazes sem combustível para a volta. Ganhou nossas drogas e nossas aventuras suicidas.
Ganhou o extremismo em todas as religiões e ganhou o outro lado da mesma moeda, nossa passividade, nossa falta de radicalidade, nosso excesso de radicalismo.
Ganhou nossas bombas nucleares que trazemos dentro do peito e detonamos sobre as pessoas que apenas buscam o pão de cada dia, sob qualquer pressão.
Ganhou a canalhice que usurpou da política, e a política que usurpou o Estado que agora diz não poder fazer nada por nós. Chauvinistas de si mesmos e de grandes corporações entrincheirados na cidade planejada. Os três poderes é o Reich
Nós perdemos. Estamos assinando nosso Versalhes de morte e não temos mais o carvão e o ferro de Álsacia-Lorena.  Mas nem tudo está perdido.
Precisamos nos reerguer das cinzas. O Estado não pode fazer mais nada por nós. Mas nós podemos fazer outro Estado. Um Estado composto por três poderes. O poder da partilha, o poder da justiça social e, sobretudo, o poder da solidariedade. Se assim fizermos, venceremos a Quarta Guerra Mundial.



quinta-feira, 15 de junho de 2017

EcoSys - Darda Livraria


Autores: 27. Simplesmente Sys/Aila Brito/Ana Maria Marques/Anagui/Cleir Santos/ Dinapoetisadapaz/Dolores Fender/Élia Macêdo/Esther Lessa/Evânia Medeiros /Guida/Helena Luna/Ilda Maria Costa Brasil/Josefa Felix/Kátia Teles /Klaus Mendes/Leandro ...

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O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ - CAPÍTULO II


SUGESTÃO: Antes leia o CAPÍTULO 01

Entre tantas fãs do jovem galã estava Meire, sua vizinha. Ela não estudava e nunca havia estado a sós com ele. Às vezes achava que só o admirava porque todas as garotas o admiravam. Todas as vezes que tinha que comprar alguma coisa no estabelecimento comercial ao lado, antes de por os pés na rua, já se imaginava diante dos olhos castanhos do balconista, que certamente estaria lá, entre o balcão e as prateleiras ao fundo, com suas empoeiradas garrafas de vinho tinto. Sabia que Afonsinho sempre notava o seu embaraço ao pedir a mercadoria e ela sempre trazia para casa, além do embrulho na mão, aquela lembrança na cabeça: o balconista singelamente trajado, com um jeito maroto de atender, de ir buscar a mercadoria em uma prateleira ou vitrine qualquer, de fazer o embrulho, de receber e conferir o dinheiro, devolver o troco ou anotar o que fica fiado, de agradecer a preferência e de sobra, cativar numa cantada com os olhos.
Meire ia ao estabelecimento menos que na verdade seria preciso, normalmente. Sua família era de baixa condição financeira. Órfã de pai desde aos seis anos de idade, morava numa pequena casa, que contrastava com a grande construção da loja comercial do pai de Afonsinho, com sua mãe e seu único irmão mais moço. Sempre estava lembrando de que era um ano mais velha que o príncipe encantado dos seus sonhos.

Já estudara.

Aos quatorze anos, estava cursando a sexta série no curso noturno. Estudava à noite ainda muito jovem, por que ao dia tinha que ficar em casa tomando conta dos afazeres domésticos em companhia do seu irmão de onze anos de idade. Sua mãe trabalhava de cozinheira com uma longa carga de trabalho em um restaurante.
Sua primeira amizade, no turno noturno, foi com Luzia, moça magra de ideias grossas, possuidora do terrível vício nicotínico.
Meire gostava de Luzia. Sentia-se bem em sua companhia. Até parecia que Luzia não era o que sempre falavam dela. Não, não acreditava. O povo tem a mania de inventar as coisas. Tudo bem que Luzia fumava muito. Fumava demais. Fumava no banheiro da escola. Tudo bem que suas roupas eram bastante decotadas, bastante curtas. Mas daí chamá-la de piranha não era justo. Por que não chamavam as filhas de papaizinho com esse nome? Todos sabem que quase todas as filhas de rico dessa cidade não têm lá muita moral. Mas tudo fica encoberto atrás do status dos pais. São quase todas, vacas de Basã. Só por que Luzia era pobre, chamam pelas costas com esse adjetivo desmoralizante.

A amizade das duas era perfeita. Eram carne e unha. Era sexta-feira, a turma não entrou para assistir aula. Ficaram empelotados no portão do colégio e pouco a pouco as turminhas foram se dispersando.

Luzia convidou Meire para irem a um bar, onde ela, Luzia, já haveria ido algumas vezes.

Meire, para não chegar cedo e ter que achar uma boa justificativa para a sua não entrada na escola, aceitou o convite da amiga.

O bar ficava num bairro de classe média da cidade. O local era lúgubre, as paredes salubres e as mesas desalinhadas. Ao lado de uma das portas de entrada, um cidadão anônimo tinha sido dominado pelo peso do álcool e caíra ali mesmo.

Luzia, puxando Meire pela mão, direcionou-se para uma mesa ocupada por três integrantes que já haviam esvaziado alguns copos enquanto conversavam alto e gracejavam à vontade. Meire foi apresentada pela amiga e calorosamente bem recebida pelo grupo enquanto Luzia providenciava assentos para as duas.

A conversa e os gracejos dos rapazes continuaram no mesmo ritmo e algumas vezes Luzia entrava no bate papo. Meire olhava de lado, olhava para fora, olhava para as outras pessoas e tentava ambientar-se. Era a primeira vez que estava num lugar assim. Desagradável? Não achava, apenas não estava habituada.

Depois de quarenta minutos já se ambientara. Passou a se interessar pelo assunto da patotinha e gracejava descontraidamente. Porém percebia o rumo bruto que aquela diversão ia tomando. Sentia medo. Talvez fosse melhor ter arriscado a chegar mais cedo em casa. Desculpa séria fácil achar uma. Enfim, resolveu deixar se levar para ver onde aquilo ia dar.

Luzia, que sentia bem a vontade desde que chegou, revezava a tragada com o gole. Meire a olhava e Luzia não percebia a reprovação da colega. Lembrou então do que falavam dela. Piranha. Será? Não. Reafirmou suas convicções. Daí a pouco viu que a mão de um dos rapazes roçava nas pernas de Luzia. Meire esperou uma reação de censura por parte da amiga. Decepcionou-se. Luzia retribuiu com um beijo permitindo que a mão do rapaz conquistasse mais terreno.

Ao lado de Meire estava outro rapaz, moreno, apresentava ter vinte e cinco anos de idade, fisionomia de mal nutrido e boêmio. Falava-lhe de filmes policiais: Quarenta e Oito Horas, Máquina Mortífera, Duro de Matar... Ela sorria e ouvia pouco interessada. Apenas ouvia e concordava. Torcia para que o conteúdo do rapaz fosse pouco nesse assunto. Era mais que ela esperava.


Já passava das dez da noite, Meire convidou Luzia para levá-la em casa. Esta recusou. O rapaz que estava ao seu lado ofereceu-se e Meire, sem nenhuma outra opção, não teve como recusar.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ - CAPÍTULO I

NOTA DO AUTOR: O Preço Pela Primeira Vez pretendeu ser a primeira história de uma suposta trilogia trágica: Trilogiando Tragicamente.   Seguido por A Última Reconciliação e Trágica Sedução, esta pequena novela não tem nenhuma pretensão de ser a melhor novela já escrita. É minha primeira história longa depois de alguns contos, que levo a um desfecho final. Não espere um happy-end, estou trilogiando tragicamente. É pra chamar atenção para o "animalismo" que cada um de nós carrega dentro do nosso ser.


CAPITULO I

            A sineta soou e Afonsinho despediu-se da sua colega. Em passos lentos, com semblante sorridente, cumprimentava fazendo um desce-e-sobe com a cabeça para as pessoas que passavam por ele.
            Entrou na sala de aula e sentou-se. Era aula de ciências. Daí a pouco a professora começou a falar de células e suas partes. Afonsinho bem que estava interessado em células. Em um conjunto de células que compunha o corpo de sua colega ao lado.
             Considerado lindo, atraente, provocador de sorrisos de todos os lábios femininos, por mais tímidos que fossem. Seu aproveitamento escolar era aluno mediano, sempre com nota necessária para ser aprovado. Mas por duas vezes, na oitava série, não tinha sido, por isso agora estudava no noturno.
            Ao dia Afonsinho trabalhava de balconista no comércio de secos e molhados de seu pai. Com dezesseis anos de idade, sabia a arte de conquistar garotas com seu olhar profundo e caridoso e com suas palavras doces e cativantes. Fazia derreter corações, mesmo os duros como pedra.
            Na escola, na rua, nas festinhas, era um sucesso diante do plantel feminino. Sempre era uma paquera diferente. Era Jaqueline, era Adriana, era Rosângela e tantos outros nomes. Mas não era de guardar nome. Era Almerita, era Erondina. Às vezes era loura, outras vezes, morena. Mas que diferença fazia? Nome, cor; isto não importava. O que valia era o momento, o prazer de estar com alguém. O lugar? Onde desse, onde encontrasse, onde começasse a rolar algum lance. Quantas? Contara apenas até a décima sétima... Depois as oportunidades começaram a se intensificar. Chegou a ser cinco em uma semana. E a vida foi sento entre trabalho, paqueras e um pouquinho de estudo.
            Teve dia de seu pai reclamar da presença indevida de garotas no estabelecimento.

        Nunca teve um namoro sério e duradouro e apesar de tantas paqueras, de tantas chances, Afonsinho ainda se mantinha virgem. A virgindade para ele não era como um câncer como era para alguns de seus colegas. Conservava ainda alguns princípios religiosos: Rezar ao se levantar e ao se deitar. Fazer o sinal da cruz quando estava passando em frente à matriz. Tomar bênção e chamar os mais idosos de senhores e senhoras. Não frequentava muito a vida da comunidade religiosa. O padre estava idoso e cansado, não atraia tanto a juventude. As missas eram verdadeiras ladainhas. Afonsinho chegou a ser coroinha. Mas desistiu logo. Somente de vez em quando ia à missa.


NOTA DO AUTOR: SIGA LENDO

CAPÍTULO 02

CAPÍTULO 03

domingo, 4 de junho de 2017

PORTAIS

















Aquilo que eu planto por ser tão feliz
Colho antes de o poente encerrar o dia
Risco a minha cela com desenhos a giz
Olho no espelho a imagem da rebeldia
Suspiro fundo e enfrento cada batalha
Tolerância zero eles terão por uma falha
Imagino portais se abrindo pela parede
Caminhos em direção à nova realidade
Alimentar-me-ei, saciarei a minha sede
Nas dimensões dessa minha insanidade
Devo ser feliz por eu não ter consciência
O mundo nunca chorou minha ausência