sábado, 17 de abril de 2021

SETE FACES DOS POEMAS: CHÁ DAS CINCO (COLETÂNEA)

Através da página de ALKAS (Alcibíades Castelo Branco) no Recanto das Letras chegou a minhas mãos a coletânea Chá das cinco. Deparei com vários poetas conhecidos de leituras e comentários no referido site.

Na minha aprendizagem sobre resenhas ousei fazer a leitura destas pérolas que compõem o colar precioso que esta coletânea, organizada pelo Canal Comentando a Poesia e idealizada por Maurício de Oliveira, buscando conexão com o Poema de sete faces de Carlos Drummond de Andrade.

E sob esta ótica apresento mais uma postagem da série SETE FACES DOS POEMAS em....

Pelo fato dos poemas explorarem em sua maioria o romantismo, aprofundando em sentimentos e exaltando a pessoa amada, acabei encontrando relações com o modernismo drummondiano através de termos como sombras e luas, da busca por felicidade ou fazendo contraponto com o homem sério, simples e forte atrás dos óculos e do bigode.

 

FACE I

Sinto-me feliz como quem pede e alcança
Mas, algo estranho nega essa tal verdade
Tendo-te longe de mim como cruel castigo!

MARIA AUGUSTA S CALIARI em "SINTO-TE NU COMIGO DELICIOSO A FAZER ARTE!


À sombra da amendoeira, vestida de primavera
Cabelos soltos ao vento, sorriso largo no rosto
Rosas e jasmins nas mãos, estarei à tua espera.

APARECIDA RAMOS em DEIXA LÁ FORA OS RUÍDOS


Meu anjo possui asas,
Tem a índole dos céus,
Me segura pelas mãos,
Tira-me da escuridão;

MAURÍCIO DE OLIVEIRA em MULHER VIRTUOSA

O estranho, o diferente, que faz de Carlos um gauche aparece no poema de Sinto-te nu comigo delicioso a fazer arte!  de Maria Augusta S Caliari em que algo nega a tal verdade infringindo um castigo.

A sombra, onde vive o anjo torto de Drummond seve de local de espera para Aparecida Ramos em Deixa lá fora os ruídos. É o contrapondo em que a sombra da amoreira faz com o habitat do anjo torto que entorta destinos.

Já Maurício de Oliveira descreve seu anjo em Mulher Virtuosa. Um anjo que só não vive nas sombras, mas arranca o eu-poético da escuridão. É um anjo certo, reto, com índole dos céus.

FACE II

Ela não ia
Ele não vinha
No coração só tinha
A espera que doía!

SANDRA LAURITA em IMPASSES.


Madrugada fria e amedrontadora
Corro velozmente no bosque
Estou perdida entre as árvores
Ouço o piado da coruja agourenta
Meu coração sangra e lamenta
Tenho que encontrar meu amor

ANNA LUCIA GADELLHA em AFLIÇÃO

Cada vez que teus olhos
Procuram os meus
E já não há mais chão

SANDRA LAURITA em ONDA DE FASCÍNIO

A busca d’os homens que correm atrás das mulheres na segunda estrofe de Drummond é retratada aqui no impasse que tantas vezes ocorre nos versos de Sandra Laurita no seu belo poema Impasses. Uma procura transvestida de espera torna-se doída.

Já em Anna Lucia Gadelha o eu-lírico é como os homens, corre na aflição de encontrar a sua cara-metade, ainda que tenha que se aventurar no bosque, revelando um ambiente ultrarromântico. A aflição aqui descrita tem a intensidade da aflição relatada na paisagem urbana de Poema de sete faces.

Sandra Laurita volta em Onda de fascínio a falar desta busca que ocorre com o olhar que procura pelo outro. Já não há mais chão, é o desejo que interfere no ambiente como interfere na cor do céu.

 

FACE III

Que força oculta
transmitiu esse pensamento
amargo...
Que mecanismo detonou
essa brusca melancolia...
Que fenômeno criou
em mim essa dúvida,
que lembrança inventou
essa lágrima...!?

ALKAS em DE REPENTE ASSIM, TRISTE...

Eles, no chão.
Não é nenhum piquenique.
O lugar nem mesmo é chique!
Monturo...
Imundície e umidade;
miséria e fome; calamidade.

SEMPRE FELIZ em SÓ ESTÁ FALTANDO VOCÊ


Ela atravessou
a rua,
depois me atravessou...

DIVINO ÃNGELO ROLA em ISCA POÉTICA

 

A Vida passa e eu aqui tão só
Apesar de viver na multidão

NORMA A S MORAES em INSTROPECÇÃO

Assim como a primeira, a terceira estrofe de Poema de sete faces apresenta várias leituras. Em De repente assim, triste... ALKAS  traz a leitura do questionamento diante da perplexidade. A indagação é a espinha dorsal em Alkas e uma tônica de Drummond.

Já em Sempre feliz na parte inicial do poema Só está faltando você vai pelo caminho da observação. Assim como em Drummond, o mineiro no Rio de Janeiro, o poeta, também mineiro, observa o ambiente urbano com suas misérias.

Divino Ângelo Rola em uma de suas iscas poéticas sugere uma mulher caminhando pela rua no lugar do bonde, convergindo com Drummond na urbanidade.

As tantas pernas é uma metonímia que reflete a multidão. É nesta multidão que em Introspecção Norma Aparecida S. Moraes nos apresenta o sentimento de solidão enquanto a vida passa, um link perfeito com a Face IV, sintetizando a visão do poeta de olhar férreo.


FACE IV

Um jardim estéril e seco
Assim, assemelhava-se meu coração
Vivendo na mais triste solidão

LILIAN VARGAS em EM FLOR

 

Empresta-me um pouquinho do seu calor
só para aquecer minha alma dilacerada pela solidão ao frio,
buscado nos árticos celestiais de uma pandemia,
de um amor impossível de se viver.

TCINTRA em FIM DOS TEMPOS

Assim como lá, no poema que serve de ótica nesta série de descrição das obras poéticas, aqui em Em flor Lilian Vargas fala do eu-poético que transpira solidão a ponto de comparar seu interior com um jardim estéril e seco. Já TCintra contextualiza esta mesma solidão em Fim dos tempos com este momento de ares apocalípticos em meio a uma pandemia. Aparece em TCintras a mesma resignação do homem de óculos e bigode da quarta face de lá.

 


FACE V

Tempo, és senhor do destino
Faça um pacto comigo
Leva minha prece a Jesus Menino

ANNA LÚCIA GADELHA em TEMPO, TEMPO

 

Nesse paraíso de Adão e Eva
rajadas do vento tão ilusórias

SANCARDOSO em  UM TEMPO...

Explícita ou implicitamente, a religiosidade aparece na maioria dos poemas. No entanto a inquietude de uma alma religiosa encontrei mais presente Tempo, tempo de Anna Lúcia Gadelha e Um tempo de SanCardoso. Drummond parece fortalecer a Aliança com o sagrado quando repete as frases de Jesus na sua agonia. Aqui Anna Lúcia Gadellha quer um pacto com o tempo para que ele seja mensageiro da sua prece. Já San Cardoso evoca a imagem do paraíso para dizer que este mesmo paraíso agora sofre com a ilusão, ou com a atualização da mesma ilusão que Adão e Eva foram submetidos no Éden. A coincidência nos títulos dos dois poemas nos traz à lembrança o livro de exegese O tempo que se chama hoje, de Wolfgang Gruen. 

 

FACE VI

ela produz
sombra e frutos,
eu pratico,
amor e poesias.

DIVINO ÂNGELO ROLA em ISCA POÉTICA

 

No coração tinha fantasia
Na alma havia bondade
Ele era a própria poesia
Em vida não foi celebridade

ANNA LUCIA GADELHA em O POETA

O poeta de vasto coração aparece em mais uma Isca poética de Divino Ângelo Rola contrapondo seu fazer poético com o ela produz. Em O poeta de Anna Lúcia Gadelha temos a mesma vastidão na alma bondosa que faz do poeta a sua própria poesia e do não  reconhecimento que temos nas entrelinhas em rimas não é solução para a sobrevivência.

 

FACE VII

Em teu riso
vejo o colosso da lua.
Minha praia é sua.

DIVINO ÂNGELO ROLA em RIMA/RISO


Lua nova prateada
Colorindo a madrugada
Na paisagem emoldurada

Perto de ti só alegria
Esperando a poesia
Que chega ao fim do dia

SANDRA LAURITA em LUA DENGOSA

Sem o conhaque, a lua por si inspira bons -. É o que vemos em Rima/

Riso de Divino Ângelo Rola e Lua Dengosa de Sandra Laurita. É na comoção da proximidade com a lua que o poeta chega ao fim do seu dia de solidão no meio da multidão, de questionamento com sua religiosidade, da sua desilusão com o ofício de escritor, se encanta e se entrega: Minha praia é sua. Vendo a madrugada colorida para enfrentar o Éden carcomido e urbano do dia seguinte.

 

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