Através da página de ALKAS (Alcibíades Castelo Branco) no Recanto das Letras chegou a minhas mãos a coletânea Chá das cinco. Deparei com vários poetas conhecidos de leituras e comentários no referido site.
Na minha aprendizagem sobre resenhas ousei fazer a leitura destas pérolas que compõem o colar precioso que esta coletânea, organizada pelo Canal Comentando a Poesia e idealizada por Maurício de Oliveira, buscando conexão com o Poema de sete faces de Carlos Drummond de Andrade.
E sob esta ótica apresento mais uma postagem da série SETE FACES DOS POEMAS em....
Pelo fato dos poemas explorarem em sua maioria o romantismo,
aprofundando em sentimentos e exaltando a pessoa amada, acabei encontrando relações
com o modernismo drummondiano através de termos como sombras e luas, da busca
por felicidade ou fazendo contraponto com o homem sério, simples e forte atrás dos óculos e do bigode.
FACE I
Mas, algo estranho nega essa tal verdade
Tendo-te longe de mim como cruel castigo!
MARIA AUGUSTA S CALIARI em "SINTO-TE NU COMIGO DELICIOSO A FAZER ARTE!
À sombra da
amendoeira, vestida de primavera
Cabelos soltos ao
vento, sorriso largo no rosto
Rosas e jasmins nas
mãos, estarei à tua espera.
APARECIDA RAMOS em DEIXA LÁ FORA OS RUÍDOS
Tem a índole dos céus,
Me segura pelas mãos,
Tira-me da escuridão;
MAURÍCIO DE OLIVEIRA em MULHER VIRTUOSA
O estranho, o diferente, que faz de Carlos um gauche aparece no poema de Sinto-te nu
comigo delicioso a fazer arte! de Maria
Augusta S Caliari em que algo nega a tal verdade infringindo um castigo.
A sombra, onde vive o anjo torto de Drummond seve de local de espera para Aparecida Ramos em Deixa lá fora os ruídos. É o contrapondo em que a sombra da amoreira faz com o habitat do anjo torto que entorta destinos.
Já Maurício de Oliveira descreve seu anjo em Mulher Virtuosa. Um anjo que só não vive nas sombras, mas arranca o eu-poético da escuridão. É um anjo certo, reto, com índole dos céus.
FACE II
Ele não vinha
No coração só tinha
A espera que doía!
SANDRA LAURITA em IMPASSES.
Corro velozmente no bosque
Estou perdida entre as árvores
Ouço o piado da coruja agourenta
Meu coração sangra e lamenta
Tenho que encontrar meu amor
ANNA LUCIA GADELLHA em AFLIÇÃO
Procuram os meus
E já não há mais chão
A busca d’os homens que correm atrás das mulheres na segunda
estrofe de Drummond é retratada aqui no impasse que tantas vezes ocorre nos
versos de Sandra Laurita no seu belo poema Impasses. Uma procura transvestida
de espera torna-se doída.
Já em Anna Lucia Gadelha o eu-lírico é como os homens, corre na aflição de encontrar a sua cara-metade, ainda que tenha que se aventurar no bosque, revelando um ambiente ultrarromântico. A aflição aqui descrita tem a intensidade da aflição relatada na paisagem urbana de Poema de sete faces.
Sandra Laurita volta em Onda de fascínio a falar desta busca
que ocorre com o olhar que procura pelo outro. Já não há mais chão, é o desejo
que interfere no ambiente como interfere na cor do céu.
FACE III
transmitiu esse pensamento
amargo...
Que mecanismo detonou
essa brusca melancolia...
Que fenômeno criou
em mim essa dúvida,
que lembrança inventou
essa lágrima...!?
ALKAS em DE REPENTE ASSIM, TRISTE...
Não é nenhum piquenique.
O lugar nem mesmo é chique!
Imundície e umidade;
miséria e fome; calamidade.
SEMPRE FELIZ em SÓ ESTÁ FALTANDO VOCÊ
a rua,
depois me atravessou...
DIVINO ÃNGELO ROLA em ISCA POÉTICA
Apesar de viver na multidão
NORMA A S MORAES em INSTROPECÇÃO
Assim como a primeira, a terceira estrofe de Poema de sete faces apresenta várias leituras. Em De repente assim, triste... ALKAS traz a leitura do questionamento diante da perplexidade. A indagação é a espinha dorsal em Alkas e uma tônica de Drummond.
Já em Sempre feliz na parte inicial do poema Só está faltando você vai pelo caminho da observação. Assim como em Drummond, o mineiro no Rio de Janeiro, o poeta, também mineiro, observa o ambiente urbano com suas misérias.
Divino Ângelo Rola em uma de suas iscas poéticas sugere uma mulher caminhando pela rua no lugar do bonde, convergindo com Drummond na urbanidade.
As tantas pernas é uma metonímia que reflete a multidão. É nesta multidão que em Introspecção Norma Aparecida S. Moraes nos apresenta o sentimento de solidão enquanto a vida passa, um link perfeito com a Face IV, sintetizando a visão do poeta de olhar férreo.
FACE IV
Assim, assemelhava-se meu coração
Vivendo na mais triste solidão
LILIAN VARGAS em EM FLOR
só para aquecer minha alma dilacerada pela solidão ao frio,
buscado nos árticos celestiais de uma pandemia,
de um amor impossível de se viver.
TCINTRA em FIM DOS TEMPOS
Assim como lá, no poema que serve de ótica nesta série de
descrição das obras poéticas, aqui em Em flor Lilian Vargas fala do eu-poético
que transpira solidão a ponto de comparar seu interior com um jardim estéril e
seco. Já TCintra contextualiza esta mesma solidão em Fim dos tempos com este
momento de ares apocalípticos em meio a uma pandemia. Aparece em TCintras a
mesma resignação do homem de óculos e bigode da quarta face de lá.
FACE V
Faça um pacto comigo
Leva minha prece a Jesus Menino
ANNA LÚCIA GADELHA em TEMPO, TEMPO
rajadas do vento tão ilusórias
SANCARDOSO em UM TEMPO...
Explícita ou implicitamente, a religiosidade aparece na maioria dos poemas. No entanto a inquietude de uma alma religiosa encontrei mais presente Tempo, tempo de Anna Lúcia Gadelha e Um tempo de SanCardoso. Drummond parece fortalecer a Aliança com o sagrado quando repete as frases de Jesus na sua agonia. Aqui Anna Lúcia Gadellha quer um pacto com o tempo para que ele seja mensageiro da sua prece. Já San Cardoso evoca a imagem do paraíso para dizer que este mesmo paraíso agora sofre com a ilusão, ou com a atualização da mesma ilusão que Adão e Eva foram submetidos no Éden. A coincidência nos títulos dos dois poemas nos traz à lembrança o livro de exegese O tempo que se chama hoje, de Wolfgang Gruen.
FACE VI
sombra e frutos,
eu pratico,
amor e poesias.
DIVINO ÂNGELO ROLA em ISCA POÉTICA
Na alma havia bondade
Ele era a própria poesia
Em vida não foi celebridade
ANNA LUCIA GADELHA em O POETA
O poeta de vasto coração aparece em mais uma Isca poética de
Divino Ângelo Rola contrapondo seu fazer poético com o ela produz. Em O poeta
de Anna Lúcia Gadelha temos a mesma vastidão na alma bondosa que faz do poeta a
sua própria poesia e do não
reconhecimento que temos nas entrelinhas em rimas não é solução para a
sobrevivência.
FACE VII
vejo o colosso da lua.
Minha praia é sua.
DIVINO ÂNGELO ROLA em RIMA/RISO
Colorindo a madrugada
Na paisagem emoldurada
Esperando a poesia
Que chega ao fim do dia
SANDRA LAURITA em LUA DENGOSA
Sem o conhaque, a lua por si inspira bons -. É o que
vemos em Rima/
Riso de Divino Ângelo Rola e Lua Dengosa de Sandra Laurita.
É na comoção da proximidade com a lua que o poeta chega ao fim do seu dia de
solidão no meio da multidão, de questionamento com sua religiosidade, da sua
desilusão com o ofício de escritor, se encanta e se entrega: Minha praia é sua.
Vendo a madrugada colorida para enfrentar o Éden carcomido e urbano do dia
seguinte.
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