terça-feira, 5 de dezembro de 2017

OBRA - DECALOGIAS POÉTICAS

DECALOGIAS POÉTICAS nasce dessa mania de padronizar o impadronizável. Um tema na mente e daí germinam dez poemas e isso acontecendo em dez dias. Pensava eu em fins do ano 1996 quais os temas musicais, hoje no meu pen-drive tenhos pastinhas temáticas, que mais gosto. Assistindo Silvio Santos em seu Qual É A Música? reforçou a ideia. 
O poema que fica pairando no ar até ser fixado no papel;
O quarto, esse reino a parte onde reino ou sou servo;
A fábrica que nos empacota dentro de um progresso, ou regresso, que nos limita;
O sol, esse insolente que nos dissolve, ainda que na solidez;
O pensamento, esse sujeito que se ajeita dentro de nós e não cala sua matraca;
A cidade, um tema recorrente em minha escrita, esse labirinto que nos permite sentir solidão em meio à multidão;
O livro, mais que um bem material, é uma caixa de pandora que pode nos supreender;
A voz, seja a voz anatômica, seja a voz figural, essa latência nos impelindo a ir em busca do pão e da palavra de cada dia;
O fogo, que cozinha o alimento, que queima dentro quando há paixão, que incendeia as ideias em ebulição, move o mundo. Fogo de menos não resolve, o mundo fica frígido. Fogo demais acinzenta tudo;
A saudade, palavra restrita nos idiomas, mas que traz o passado de volta;
Dez temas que são como canteiros em que vieram germinar os poemas presentes nessa obra.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

ALDRAVIAS PARA QUARTA FLORADA



I
poema
ao
acaso
quando
viramos
caso

***

II
nunca
despolpei
mexericas
tão
pouco
mexericos

***

III
minas
minera
palavras
como
bate-se
aldravas

***

IV
sonhos
muito
soltos
tornam-se
pesadelos
pesados

***

V
palavras
voam
feito
poeira
formando
versos

***

VI
leram
tantos
poetas
sentados
em
gramas

***

VII
soltou
berros
quando
descobriu
seus

erros

domingo, 19 de novembro de 2017

VIDE BULA


Um beijo molhado e demorado não compensa
Ouvir o sussurro do prazer não rende lucros
Passear pelo parque de mãos dadas é perda de tempo
O que paira sobre o concreto rachado do asfalto
É apenas um espectro do que foi o amor

Sentir a brisa da tarde acariciando nossos rostos
Não torna o corpo mais leve e preparado para a paixão
Pisar descalço sobre a relva orvalhada é anti-higiênico
O mundo inteiro está empacotado em ganâncias
Disfarçadas de pretensões ultramodernas

Soltar uma pipa para brincar de deuses dos pássaros
Coloca em risco a sanidade da criança já letrada
Sentir saudades do sítio lá no sertão é retrocesso
Não podemos esquecer a hora de tomar nossa felicidade
Em cápsulas acompanhadas de um copo de água industrial



segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A GAROTA Nº 10


A garota morreu de acidente
Mal posso acreditar
Que ouvi a voz dela
Ecoando pelos corredores da tarde

O pátio da escola está mais triste
E perdeu um dos últimos fragmentos
Que nos faziam acreditar na ingenuidade

Os sonhos se capotam a qualquer velocidade
E se quebram sobre qualquer pavimentação
Seja Glace Kelly, seja Hellen Glayce
As princesas precisam se tornar eternas

As salas de aula transpiram lições de vida
Que vão além de revisões ou questões de exames
Por isso a noite chorou copiosamente
Por não ter mais o brilho de suas estrelas
Refletido nos sorrisos de um coração tão grande
E tão sem espaço para guardar rancores

Eu sei que a vida segue
Mas sem Hellen Glayce
As curvas serão sempre
Mais sinuosas
Perante nossas mãos trêmulas
Na hora da chamada


POEMA DEDICADO A HELLEN GLAYCE, Vítima de capotamento de carro em 12.11.2017 ( Aluna nº 10 do 3º E)


terça-feira, 7 de novembro de 2017

MEU DOMÍNIO



Não me adiantou amar as rosas
Plantadas em jardins alheios
A morte veio sem pedir licença
E sulcou um peito infértil
Para as ilusões do mundo

Precisei gritar em diversas noites
Por um nome desconhecido
Vi minha voz voar como morcegos
Entre as velhas casas da cidade
Em seus segredos extenuantes

Não exerci nenhum fascínio
Nunca ouvi um aplauso
Meu domínio não passou do meu corpo
E dos abraços que eu dei
Em miragens insinuantes

Morri como se morre naturalmente
Como uma lâmpada que se apaga
Na madrugada já tão escura
Na verdade eu é que desisti
De ver o sol raiar sem nenhuma razão


DA SÉRIE: GOTIKLAUS II

sábado, 21 de outubro de 2017

TUTU DE DOMINGO

Estradas tortuosas rajam o vale da minha existência
Trazendo até a mim a síntese da tristeza e da alegria
Engarrafada dentro do homem de sonhos em cacos
Empacotada dentro da mulher de paciência cansada

Eu não vejo mais a noite como traiçoeira
Agora é a tarde
Com sua machadinha afiada na angústia
Partindo ao meio a vida
Que eu tenho no dia de hoje

Mas o mundo segue a agenda rabiscada em escritórios
Em seu itinerário entre montanhas esfoladas
O sol da tarde que arde em meus olhos só não chora
Por ter sido educado para engolir seus próprios desencantos

O trem da vale passa enquanto eu me desvio dos cancros no asfalto
Levando para o porto o que pode ser um pedaço de Drummond
Que esquartejem o homem de Itabira e repartam seu encanto
Ainda que os continentes não sejam dignos da sublime arte

Eu amo a natureza que respira a história dos homens de coragem
E absorve nossos passos como o cogumelo a matéria orgânica
Eu quero respirar, mas a poeira em minha garganta sufoca
A poesia que era para ser apenas um tempero no tutu de domingo


domingo, 15 de outubro de 2017

DENTRO DE VIDRAÇA E POTE


Um dia é para ser engarrafado
Dentro de vidraças de janela e potes de geleia
Quando a tarde se aproxima lenta e voraz
Saboreando-se com metas não realizadas

O vazio fica no ar onde oxigênio não existe
Um rosto perdido na imensidão do pequeno apartamento
Vaga entre a poeira de uma cidade que se descama
Estrangulando seus homens e mulheres
Tragando seus sonhos adubados com fuligem

Eu venho de um mundo onde a natureza pulsa
Em seu esplendor como um coração feliz
Mas agora piso sobre lençóis de minerais aquecidos
Fritando esperanças em passos apressados

Eu venho de outros enredos onde os dramas não sufocam
E os abraços, ainda que não dados, são mais sinceros
Olhares atentos vigiam a vida em seus rasgos
Aptos para costurar com seus fios pensativos
A simplicidade de andar descalço sobre os atalhos serenos

Eu não me acostumo com as programações urbanas
Ventiladas com redemoinhos sobre o asfalto pálido
Em cada momento que sou produtor, produto e consumidor

Rabisco em minha agenda o próximo passo sem direção

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

FOGO DA INCERTEZA (ROLETILHA POÉTICA)



Aquele sentimento versejado
Pelas mãos do poeta obscuro
Corre o risco de ser carbonizado
Pelo fogo da incerteza do futuro

Aquele sentimento obscuro
Pelas mãos do poeta carbonizado
Corre o risco de ser o futuro
Pelo fogo da incerteza versejado

Aquele sentimento carbonizado
Pelas mãos do poeta do futuro
Corre o risco de ser versejado
Pelo fogo da incerteza e do obscuro

Aquele sentimento do futuro
Pelas mãos do poeta versejado
Corre o risco de ser tão obscuro
Pelo fogo da incerteza carbonizado

Aquele sentimento versejado
Pelas mãos do poeta obscuro
Corre o risco de ser carbonizado
Pelo fogo da incerteza do futuro


NOTA DO AUTOR: Roletilha poética é um estilo experimental criado por mim que ainda está em fase de desenvolvimento. Uma divertida maneira de brincar com os versos.


terça-feira, 10 de outubro de 2017

O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ - CAPÍTULO VIII

                 Meire estava feliz e só não percebia que não a notasse ou não a mirasse como a sua mãe.
        
Meire se felicitava consigo mesmo, conseguira o que queria. Nem que fosse um só momento, amara e fora amada.
         No dia seguinte os olhos de Meire começaram a perder o brilho. Arrependeu-se de ter se entregado logo no primeiro encontro. Ele poderia julgá-la vadia que se entregava a todos que encontrasse. Mas agora nada poderia fazer. Fora a primeira para ele e disso ele jamais esqueceria. Sabia disso. Foi ele mesmo que disse e pareceu ser realmente principiante na arte do amor. Poderia estar mentido e fingindo. Mas não teria necessidade disso.
         Relembrava com emoção cada gesto, cada abraço, cada beijo e cada detalhe. Mas a indecisão sempre entrava sem bater à porta. O que ele estaria sentindo em relação a ela?
         Dois dias se passaram e ele não a procurou nem para dizer que foi bom. Não tinha coragem de ir à mercearia. Quando precisava mandava seu irmão.
         As dúvidas foram brotando com ervas daninhas no meio de uma lavoura.
         Sábado a tarde ela estava no portão quando ele surgiu e já ia passando sem dizer nada.
         — Afonsinho. — chamou quase gritando.
         — Oi Meire, como vai você? Hoje você está linda. — tentou ser agradável.
         — Afonsinho, tudo aquilo que aconteceu entre nós foi maravilhoso para mim. Eu só... — as palavras começaram a faltar — Eu só queria que você não pensasse mal de mim. Eu não sou vadia como você deve estar pensando. Eu só me entreguei por que eu sou apaixonada por você.
         — Olha Meire. — disse Afonsinho depois de um longo suspiro. — eu te acho legal.
         — Então por que você não paquera comigo?
         — Porque eu não estou a fim de ficar com ninguém. Foi bom ter ficado com você. Foi minha primeira experiência e isso deve ser nosso segredo. Mas eu não posso te namorar.
         Mal Afonsinho terminou a última frase, Meire deu de costas e entrou na pequena casa com os olhos cheios de lágrimas.
         Sua paixão por Afonsinho continuou mesmo depois de três meses tentado esquecê-lo.
         Depois de um tempo, mudou para outro bairro onde conheceu Carlos com quem começou a ter um relacionamento.



domingo, 8 de outubro de 2017

AS FRASES


As frases soltas pela folha em branco
Histórias que não rompem o círculo do óbvio
Eu me esqueci de te dizer que nem todo traço
É um divisor de águas no plano das tolerâncias

Amanhã eu posso ver como a vida funciona
Por hoje eu ficarei vendo o mundo balançar
Pela tela do meu smartphone acesso as frases
Que se deixaram ficar soltas pela folha em branco

O que me entala no meio da noite pode passar despercebido
As marcas da angústia não contam na bolsa de valores
Em celulares há mais informação que em latas de sardinha
Mas eu prefiro não expressar o que está no porão da alma

O silêncio cortante em teus lábios fere minha curiosidade
Enquanto passos espalham histórias pelas calçadas do bairro
Vejo as flores que abafam as segundas intenções
Como cortinas surradas em janelas abertas às frases
Que bailam pelo céu da cidade feito vagalumes
Atraídos pelas luzes cintilantes de olhos transeuntes
Eu decifro o silêncio da noite antes que o amanhã apareça



terça-feira, 12 de setembro de 2017

CARÊNCIA DE POESIA



Enquanto eu te faço carinho
O mundo taca fogo na floresta
Enquanto colho flor sem espinho
Solitários se embriagam em festa
Enquanto contigo sigo o caminho
E amanheço sem estar sozinho
Quando quase nada me resta

Enquanto me sacio com teu beijo
O mundo esmorece de tão faminto
Enquanto pelo teu corpo eu velejo
O mundo ainda se move por absinto
Mesmo sem ter a faca e ter o queijo
Eu nutro-me do teu louco desejo
O meu amor é mais que instinto

Enquanto componho os meus versos
O mundo agoniza carente de poesia
Enquanto viajo em outros universos
O mundo sequer foge da hipocrisia
Alheio aos sentimentos perversos
Eu batalho com meus reversos
Tendo você, eterna companhia


terça-feira, 5 de setembro de 2017

ÁRVORES SOLITÁRIAS - 001










A CHEGADA DA MORTE

04. A CHEGADA DA MORTE

Aquele apito de início de turno
Aqueles portões enormes
Aquela tez de cimento
Aquele vociferar dantesco
Aqueles uniformes fétidos
Aqueles cumprimentos gélidos
Aqueles burgueses de ternos e gravatas
Aquelas chaminés pintando na tela
Uma gravura infernal
Aqueles produtos de belas embalagens
Aquele enfeiamento de pessoas
Era a morte que havia chegado
E eu não sabia


MUTUM, 18.12.1996

LEIA MAIS EM:

DENTRO DE MIM



Falar com as palavras
Brincar com as palavras
Prosear com os verbos
Aquecer-se nas noites de invernos
Com poesia da boa

Falar sobre o mundo
Faltar da escola na segunda
Fechar a porta e ir acordar
Para a fantasia mais sincera

Quem me dera ser a palavra
Na garganta seca do oprimido
Na garrucha velha do velho poeta
Alvejando o papel de vida

Rolar no tapete com os livros
Rosnar alto diante dos livros
Livrar-se das vestes e se acariciar
Exibir-se diante dos grilos da cabeça
Viver a beira do abismo da alma

Respingar-se pelas horas do dia escuro
Buscando um furo na parede do tempo
Entre páginas secretas e segredos desvendados
De mãos dadas com a dúvida mais cruel
Meu céu, meu sol
Um som florescendo no silêncio do jardim

Dentro de mim, bem dentro de mim!

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

TRINCA DE HAIKAIS




névoa sobre a serra
manhã - frio temperado
só para nós dois

***

cólicas da noite
meus sentimentos sangrando
sobre desilusões

***

boca dessa noite
engolindo todo amor
mesmo seco e frio

terça-feira, 8 de agosto de 2017

CARTAS MARCADAS

É possível que as coisas
Continuem como estão
Hora de dizer sim
Hora de dizer não
E uma placa de proibição
Por aonde vamos

É possível que as cartas
Estejam todas marcadas
Não é fácil saber quem é rei
E quem é coringa
Basta decifrar os sinais
Basta decidir desafiar

É possível que a poesia
De nada vai adiantar
Se hoje nem almoçamos
Não vamos tentar jantar
É possível que não haja chances
Para a gente acertar

terça-feira, 1 de agosto de 2017

DESAFIOS DE UMA NOITE DE AUTÓGRAFOS

Não sei se o que vou postar é uma crônica ou um desabafo. Estará em primeira pessoa. Talvez apenas a necessidade de compartilhar algo com alguém.

Estou divulgando uma noite de autógrafo do meu livreto O HOMEM & SUAS PERDAS, com poemas no estilo indriso. Em Mutum poucos conhecem o que é um indriso e isso é normal. Somente aqueles que são recantistas (postam no site Recanto das Letras) travam contatos com variados estilos poéticos.
 
Geralmente meus indrisos abordam as dificuldades para se viver nesse mundo. Ocasionalmente ocorrem perdas, mesmo naquilo que aparentemente é ganho, em relacionamentos e na busca do pão de cada dia. É disso que meu livro trata.

Tendo em mãos poucos exemplares autopublicados pela Clube de Autores, não me arrisco a fazer uma noite de lançamento como conhecemos. Teria eu a casa de cultura, como já proposto pelo secretário, mas optei por um bar. Não haverá os comes e bebes, nem as falas iniciais. Haverá apenas o autor, nesse caso, euzinho aqui, sentado na mesa do bar aguardando os convidados e aqueles que ficaram sabendo pelas redes sociais. Estarei também dispondo os exemplares que restam das antologias de contos Ponto de Criação e Vendetta (Contos de Vingança) pela Andross, das quais participei com contos.


Por isso intitulo esse meu evento de Noite de Autógrafos e não de lançamento. Não espere lá nada pomposo. Se der certo, em breve lançarei outras obras que estão a caminho como Uni Versos e A Vida Contida em 300.



LINKS

O HOMEM & SUAS PERDAS - LIVRO FÍSICO

O HOMEM & SUAS PERDAS - DIGITAL

INDRISOS POSTADOS

domingo, 30 de julho de 2017

Como Não Escrever Histórias Ingênuas? I Sacadas Literárias #2

DESILUSÃO & SOLIDÃO (TRINCA DE POEMAS)




APENAS POESIA


Enquanto o amor flui
Minha poesia em nada influi
Apenas flutua
Feito bruma
Pelo vento aberto

Enquanto o amor vaga
Minha poesia divaga
Pelas ruas de concreto restrito
Entre gritos de socorro
E a insônia de um apito

Enquanto o amor evapora
Minha poesia não se apavora
Não é olhar que chora
Mas hora de ver a vida que rasteja
Sobre uma litosfera
Quente por dentro e fria por fora

Enquanto o amor nos decepciona
Minha poesia é lente que espiona
Cada vestígio de luta
Cada gruta da crosta
E não se furta
De ser apenas poesia







OUTRA DIMENSÃO


Não há nenhum risco
Em atravessar a ponte
Eu não confio na fonte
Pode ser falsa informação

Por isso eu sempre arrisco
Dar um passo a frente
Pode não ser tão urgente
Mas tenho muita aflição

Não quero ser mero petisco
Nesse escabroso banquete
Pode até ser meu cacoete
Essa minha repetição

Eu só busco um aprisco
Fora dessa nossa realidade
Pode ser perda de sanidade
Tentar ir à outra dimensão

Eu fico feito pássaro arisco
Dentro dessa nossa gaiola
Tudo que aprendi na escola
Não passou da decoração

Apesar do seu chamarisco
Vou partir daqui a pouco
Não me tenha como louco
Apenas sigo minha intuição





O TEU ADEUS

Eu varri para debaixo do tapete
A tristeza que me assolava
Sei que não vai adiantar
Vai ficar a tristeza debaixo do tapete
Junta com tantas outras tristezas
De tantos outros dias

Mas o ato de varrer
Talvez seja terapia
Talvez deixe meu coração alvo
Por alguns instantes
Entre o último balanço da vassoura
E a próxima mosca
A pousar na minha sopa

Pois com o teu adeus
Eu já me acostumei!


Poemas postados no site RECANTO DAS LETRAS, visite minha páginas:KLAUS MENDES

terça-feira, 18 de julho de 2017

O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ - CAPÍTULO VII

Era pouco mais de duas horas da tarde quando o balconista deixou a mercearia e seguiu para a casa ao lado. Bateu palmas e foi recebido por uma moça sorridente que deixava transparecer a tentativa de ser gentil.
         A casa era realmente pequena. Possuía um banheiro que mal dava para se locomover dentro dele, uma cozinha só com os moveis necessários e sala uma mesa envernizada com quatro cadeiras mais a cama do irmão mais novo de Meire. No quarto uma cama de casal e um guarda-roupa de duas portas com alguns cantos com o compensado solto.
         Os dois jovens sentaram na cama da sala com a porta fechada.
         Meire puxou assunto:
         — Quanto te falei sobre os livros, esqueci-me que havia emprestado o pouco que possuo, só estou com um aqui em casa. Ele está velho e rasgado.
         — Olha, sabe que eu não faz mal, eu vou ler assim mesmo.
         — Afonsinho — Meire começou a falar num tom meigo, romântico. — eu não queria que você lesse apenas livros de romance. Eu preferia que você vivesse um romance, comigo de preferência.
        
Mais uma vez Meire não sabia de onde vinham as palavras.
         Surpreso, Afonsinho a olhou mais atenciosamente e seu olhar perdeu-se na pele loira de Meire, indo parar nos seus seios alvos que pareciam querer pular para fora da camiseta.
         Antes que os maus pensamentos viessem à tona na cabeça de Afonsinho, sentiu em sua boca o hálito de Meire com gosto de creme dental e o primeiro de vários beijos aconteceu.

         Poucos instantes depois dois corpos nus fundiam-se ali mesmo na cama da sala. Pela primeira vez Afonsinho recebeu tudo que uma mulher ousada pode oferecer em momentos de excitação.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

EcoSys - Darda Livraria

EcoSys - Darda Livraria: Autores: 27. Simplesmente Sys/Aila Brito/Ana Maria Marques/Anagui/Cleir Santos/ Dinapoetisadapaz/Dolores Fender/Élia Macêdo/Esther Lessa/Evânia Medeiros /Guida/Helena Luna/Ilda Maria Costa Brasil/Josefa Felix/Kátia Teles /Klaus Mendes/Leandro ...

quinta-feira, 6 de julho de 2017

UM RETRATO D'EU MESMO


Minha chegada aqui na terra
Foi algo esplêndido, triunfal
Num sábado frio de agosto
O ano caminhando pro final
Eu nasci para vencer na vida
Apesar de tão dura seja a lida
Eu venço cada batalha campal

Cheguei pelas mãos da parteira
Aquelas santas mãos abençoadas
Fez todo o trabalho de parto
Era sua missão naquelas paradas
Trabalhou com jeito e destreza
No seu rosto nenhuma tristeza
Eram alegria as lágrimas choradas

Logo que nasci fui me amamentar
Da seiva vinda do sangue materno
Eu sentia um pouco de frio, verdade
Afinal, no hemisfério sul era inverno
Leite para um bebê frágil e pequeno
Antídoto a cortar efeito de veneno
Nesse meu labutar que parece eterno

Vivi a infância no córrego do Cedro
Lugar bonito entre grotas e capins
Tinha uma vaca chamada Mansinha
Pelo pasto entre murundus de cupins
E no córrego lambari sempre tinha
No terreiro o ciscar torto da galinha
Havia patos, marrecos e aves afins

Mas cresci e vim para a cidade
Tentar estudar e crescer na vida
Enfrentei a chacota dos colegas
E a brincadeira às vezes doída
Mas das aulas tirei aproveito
Todo dia o dever estava feito
A lição da escola foi aprendida

Na vida é que se estuda de fato
E todo dia tem uma nova lição
É preciso escrever na linha certa
Não adianta ficar na lamentação
Se acaso errar, é preciso refazer
Saber na lida tirar o seu prazer
E não deixar o prazer virar ilusão

Agora casado e pai de família
Ainda tenho sonho e esperança
Que depois de cada tempestade
Haja momentos de pura bonança
E sigo feliz apesar da cara fechada
Mas minha cara é apenas fachada
Pois meu coração parece de criança

SÉRIE: O CORDEL DE COSTA FERREIRA

sexta-feira, 30 de junho de 2017

O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ - CAPÍTULO VI

NOTA DO AUTOR: Se você está acessando pela primeira vez um capítulo de O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ, sugiro que você retorne ao PRIMEIRO CAPÍTULO.



Nas primeiras vezes que Meire viu Afonsinho o classificou como um rapaz qualquer. Mas, pouco a pouco, sentiu-se cativada pelo jeito do balconista. Renasceu dentro de si aquele desejo que havia começado a morrer na noite em que foi flagrada no bar pela mãe. No início pensou que seria uma sensação passageira. Coisa de mulher. Enganou-se. O desejo de ter Afonsinho entre seus braços, de beijar aqueles lábios, enfim, de possuí-lo e ser possuída, crescia. Não. Não era só para alguns goles de cerveja em um bar lúgubre ou para um sarro no canto da cidade. Desejava-o para todas as diversões e para todas as noites.
Há tempos que carecia de um toque masculino. Carecia de uma cantada e até mesmo de um pouco de carinho. Reconquistada a confiança da mãe, reprimia o desejo de ir à busca de um homem. Desligara-se completamente de Luzia. Foram dois anos e meio sem diversão, sem passeios, sem uma emoção sequer. Temia que seu coração estivesse se transformando em pedra. Revirginou-se psicologicamente.
Aquele sentimento por Afonsinho, descobriu, era paixão. O que devia fazer? Era a primeira vez que vivia esta situação.
Afonsinho jamais notou nela alguma coisa que lhe atraísse. Tinha-a apenas por vizinha e freguesa. Talvez quisesse paquerá-la e nada mais. Mas ainda não havia pintado oportunidade.
Era quinta-feira. Antes de começar a preparar o almoço, Meire enfiou a mão na gaveta do armário, achou alguns trocados e teve a uma ideia. Mas como coloca-la em prática?
Foi até à mercearia e pediu suco de morango.
— Não temos — respondeu Afonsinho. — Só temos refresco Royal de laranja. Serve?
— Não, deixa pra lá. — animou-se. — Você estuda?
— Faço a oitava série. — respondeu sem grande ânimo.
— Você gosta de ler livros de romance? — Meire encontrava as palavras, não sabia de onde elas vinham. Mas as encontravam. Talvez estivesse vindo do meio das latas de óleo de soja.
— Leio. — mentiu o rapaz.
— Se você quiser um livro emprestado, vá hoje à tarde ali a minha casa.
—O.K. — respondeu como quem começasse a entender a pretensão da moça.

A verdade é que Afonsinho nunca tivera preferência pelos livros de romance, mas ter romance com quem lia livros. Achava as histórias sempre iguais. No fim sempre um final feliz. Lembrava-se de apenas um que não terminava assim. Preferia suas revistinhas de quadrinhos. Iria aceitar o livro não pelo oferecido, mas pela oferente. De uma garota não se rejeita nada, ainda que seja um fora. Não era o caso. Ele leu nos olhos dela se oferecendo como uma presa desatenta ao predador.
Meire, na verdade, só tinha um livro. Já estava velho, comprado em banca de jornal de rodoviária. O livro fora ganho do esquecimento de uma de suas tias que moravam em Vitória. Ela já sabia a história narrada no livro de cor e salteada. Não entendia por que aquele nome Sabrina em letras garrafais, mas já tinha visto outros livretinhos desses nas mãos de algumas de suas colegas de aula. Mas o título chamou a sua atenção.
Agora o livro seria apenas um meio para se aproximar mais do pretendido rapaz.

Meire planejara tudo. À tarde sempre estava sozinha. Seu irmão sia para a escola e sua mãe ainda estaria no trabalho. Não haveria outra chance melhor de oferecer a Afonsinho a única coisa que possuía: seu corpo. E fazer o que ainda não esquecera apesar de se reprimir por algum tempo.