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domingo, 26 de dezembro de 2021

À SOMBRA DE UM CEDRO EU SENTEI E LI: OPERAÇÃO MUTUM

TEM COISA ERRADA NESSA HISTÓRIA TODA

 

Série de Resenhas: À Sombra De Um Cedro Eu Sentei e Li

Livro: OPERAÇÃO MUTUM

Autor: José Araujo de Souza

Gênero: Romance histórico

Ano de publicação: 2016.

Editora: Amazon (e-book)

 

            Não é que a história de Operação Mutum, escrita por José Araujo de Souza esteja errada. Não há nada de errado nela. Aliás, em se tratando de romance histórico, assim eu o classifico, ele acerta de mão cheia. Cumpre a missão de uma narrativa longa, que vai além de um conto, imposta pelo argentino Júlio Córtazar. Golpeia o leitor a cada capítulo e nos vence por pontos no final da luta.

            Quem acha que sempre tem coisa errada é o personagem mais emblemático que encontrei na obra. Manfredo Kurt, como chefe do repórter que volta em sua terra natal para cobrir um possível sumiço de bombas após caírem de um avião é quem vai cutucando o narrador para que ele busque a notícia, e se possível, o furo de reportagem. É o mesmo alemão que o instiga a escrever o livro que temos em mão, ou seja, na tela do computador ou do celular através da Amazon.

            Enquanto romance histórico, o autor nos enriquece com detalhes da história do Brasil e busca fatos além das fronteiras, como o incidente de Palomares, na Espanha.

A contextualização no tempo se desenvolve em três momentos. Ela começa pela voz do narrador em 31 de agosto de 2016. Ele, de seu apartamento em Belo Horizonte, vê-se diante de um momento que será um divisor de água na história recente do país quando encerrou-se a sessão no congresso em que o senado concluiu pela culpabilidade da então presidente da República Dilma Rousseff.  Volta para Mutum nos anos 70 em que os fatos da primeira camada do romance se dá. E com recortes das lembranças do narrador que nos remetem à sua infância e adolescência na cidade interiorana de Minas Gerais.

            Vemos uma Mutum nos anos 70 com todo o contexto de uma cidade interiorana. Com a vida social girando em torno de uma pracinha e bares. Dois dos bares são cenários para a conversa e distração, reunião para assistir um final de novela, aparelhos de tevê não havia em todos os lares, certamente, para o jogo de futebol, que só passava do Rio de Janeiro e de São Paulo, ou para a notícia. Sob o chumbo dos anos ditatoriais, Mutum se vê em uma trama onde o povo simples da barbearia, do bar, do dia a dia, acaba sendo apenas figurante. Um e outro teve a sorte de se envolver mais a fundo, como o fotógrafo que o narrador contrata para registrar com a luz os fatos. Um “Catarina” forasteiro que passou a gostar de viver entre nossas montanhas e ajuda na caça pelos artefatos.

            As lembranças em forma de causos que o narrador vai permeando com a história principal dá aquele refresco aos olhos do leitor, trazendo aqui e acolá narrativas, que se isoladas seriam bons contos, se espalhando pela dramaticidade da vida de diversas formas, mas todas têm uma pitada de Nelson Rodrigues.

            Enquanto seu amigo de infância, Clemente, vive a traição de sua namorada com um soldado, o que culmina em homicídio e prisão do mesmo, para tristeza da sua mãe, a adolescente Mirtes é afogada em sua sexualidade pela burguesia que vê nela a oportuna saciedade dos seus apetites carnais.

            Acompanhamos através da lembrança do narrador uma história singular. A história da sereia Totonha e fatos típicos de adolescência que lembra, ainda que de longe, os garotos e a garota de It, A Coisa. No entanto, o destino reservou uma vida adulta para Antonia nada confortável. Vemos nesta história o rapaz de classe mais favorecida querer saciar-se da pobre menina e se dando mal.  

            Em algumas destas lembranças o narrador é protagonista ou envolvido mais a fundo. Com Alice, a companheira Duarte, e no encontro com Marta, primeiro garota e depois mulher, dona de uma determinação ímpar.

            Por se tratar de uma ficção histórica, o autor, sabiamente, nos deixa com pouquíssimas ferramentas para diferenciar o que é fato e o que criação narrativa em seu texto. E eu, que tenho vontade de colher o maior número possível de informação sobre o passado da minha cidade, fico por hora só com as anotações.

            E apesar de ter neste momento um meio de contato com o autor, preferi não fazê-lo para passar somente minhas impressões. Evitando assim macular minha resenha de possíveis leituras vindo de fora.

            Confesso que fiquei surpreso com o ritmo que os fatos vão tendo no final. É um plot twist dentro do plot twist mais amplo. Depois de passarmos a maioria do capítulos acompanhando a saga das forças armadas atrás de quatro bombas, descobrimos que Manfredo Kurt com sua intuição tão necessária ao jornalismo investigativo estava certo, tinha mais coisas. E a traição do Lobo, o Sílvio, foi o arremate final para dar aquele golpe sacramentador em uma luta vitoriosa por parte do autor.

            Em Operação Mutum nosso encanto no canto de Minas está para a ficção assim como o Vale do Ribeira está para a história do Brasil. Sargento Flores, (Comandante Mário/Paulo Otávio) é o Lamarca desta luta que José Araujo de Souza trouxe para as paragens do antigo contestado. Sendo estes fatos talvez o último suspiro de uma utopia.


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À SOMBRA DE UM CEDRO EU SENTEI E LI

À SOMBRA DE UM IMBONDEIRO

quarta-feira, 21 de abril de 2021

DOIS VERÕES: UM QUE HOUVE

Existe uma relação entre o livro Frankenstein de Mary Shelley e meus poemas em Decalogias poéticas. Não pelo tema. No meu livro os poemas estão mais para o modernismo dos anos 50, escritos sob a influência dos poemas de Ferreira Gullar que eu tanto admiro.
 
Quero afirmar de início que verão e ócio é uma combinação explosivamente literária, seja em Léman, seja em Mutum.


O VERÃO QUE NÃO HOUVE

1816 foi um ano que não teve verão. Aconteceu que no ano anterior, nas longínquas Ilhas Orientais Holandesas, hoje Indonésia, ferveu sob a superfície terrestre a matéria-prima para uma tragédia que mudaria a história do mundo nos anos subsequentes. A devastação deu-se sob a forma de uma explosão vulcânica cataclísmica no monte Tambora. Foi, segundo especialistas, a erupção mais poderosa até hoje. Suas cinzas ocasionaram mudanças climáticas singulares na América do Norte e na Europa.

Hoje historiadores levantam a relação desta erupção com a derrota de Napoleão em Waterloo. “Em Waterloo, Napoleão poderia ter ganhado, e talvez seja por isso que nunca deixarão de ser escritos livros sobre aquela jornada”, dizia o historiador italiano Alessandro Barbero ao El País numa reportagem por ocasião do bicentenário da batalha.
Fonte: El País.
 
Os efeitos foram terríveis: A erupção provocou um frio que gelou as lavouras da América do Norte, onde ainda nevava

em junho de 1816, e reduziu de forma notável as temperaturas na Europa, que chegaram a três graus negativos na Espanha em pleno verão. Na França, enquanto seu imperador era derrotado, multiplicavam-se os distúrbios pelo aumento do pão, por causa da falta de grãos. Segue o artigo do El País.Mas há quem analisa o que foi produzido sob cinzas do Tambora, sobretudo na literatura depara com um marco importante atribuído como dano colateral do ano sem Verão, foi o fato de Frankenstein, considerado a primeira obra de Ficção Científica, ter surgido quando Mary Shelley,  tendo passado uma longa temporada confinada à beira do Lago Léman, nos Alpes, devido às condições meteorológicas hostis que condicionaram as esperadas férias de Verão que não aconteceria, na companhia de Lord Byron, e John Polidori. Tendo sido lançado o desafio por Lord Byron de criar histórias de terror, Mary Shelley surgiu com o que viria a ser Frankenstein, Polidori criou algo que viria a dar origem ao romance “O Vampiro”, que mais tarde serviria de inspiração a Bram Stoker para o seu “Drácula”. 
Fonte: Quando as folhas caem.

Baseado neste fato a ABERST (Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror) criou a Ghost Story Challenge, que consiste no desafio de isolar por uma noite escritores de crime e terror em algum lugar sugestivo.
 

O VERÃO QUE HOUVE


Na virada do ano 1996 para 1997 havia verão aqui no hemisfério sul. Eu estava engatinhando nos versos. Fiquei em casa e, ocioso, comecei a produzir poemas me inspirando em um livro com os melhores poemas de Ferreira Gullar. Tendo em mente alguns temas, peguei um caderno brochura e comecei a rascunhar dez poemas por dia. Comecei no dia 26 de dezembro de 1996, dei uma respirada no dia 31 e retomei no dia 1º de janeiro de 1997. Obra rascunhada até o dia 05. Não conhecia ainda a história da produção de Frankenstein por Mary Shelley.  Eu estava mais para a literatura policial com os contos absorvidos em dois livros de Luiz Lopes Coelho e seu Dr. Leite.

Shelley publicou seu livro após dois anos e ter sua obra recusada duas vezes. Somente agora tenho falado da minha obra, mais de 20 anos se passaram daquele verão de 1996, com 180 anos de distância daquela reunião às margens suíças do Lago Léman. Em ambiente de tertúlia literária quando os escritores George Gordon Byron (Lord Byron), John William Polidori, Percy Bysshe Shelley e Mary Godwin (mais tarde Mary Shelley, após casar com Percy), entretinham dias de frio e chuva no seu refúgio de férias. Juntos, recriavam histórias de terror saídas da literatura gótica alemã.
Uma ideia interessante seria em um sábado de inverno, juntando a experiência do Corujando da Editora Andross, pela qual já publiquei em duas antologias (Vendetta e Ponto de criação) e estamos aguardando a saída de Fio vermelho para este ano, com a Ghost Story Challenge da Aberst. Penso aqui em denominar de Noite Byroniana. O que acham?