A CERTEZA fala daquele amor prisional, do amor em meio a
esta pauperização que estamos vivendo no Brasil. Qual a certeza que o eu-lírico
tem nesta condição?
A LÁGRIMA NOS OLHOS traz um eu-lírico vagante pelo mundo e
sua constatação de que uma lágrima em seus olhos pode causar mais danos que
purificação quando não há amor verdadeiro.
A QUEDA NA FUGA segue a temática da desilusão. O fugitivo
depara com lábios sedutores e aí se inicia a sua queda verdadeira.
AQUELA SIMPLICIDADE destoa dos demais poemas. Há aqui uma
pegada inspirada em Arnaldo Antunes. O poema traz aquele quezinho
de crítica a partir de uma nostalgia.
ENCONTRO O PARAÍSO fecha nossa pentalogia dando um alento
com o romantismo. Pode ser aquele romantismo doentio? Pode. Mas vamos dar uma
chance.
A CERTEZA
O que me inquieta tantoSão seus olhos caçadores
Buscando algo de papável
No meu coração tumultuado.
É esta sua insistência no amor
Enquanto nossos armários
Carecem da migalha consentida.
Quando ela nos arranca a razão
E nos joga na cova das emoções
E eu fico cego tateando conflitos.
São os vazios irreparáveis
Que ficam no peito pulsando
Ferido depois do seu carinho.
É a certeza de que dos seus braços
Eu jamais terei forças para fugir
E me fundir com uma calçada fria.
A LÁGRIMA NOS OLHOS
Eu não reviso os meus sonhosEu não refaço meus caminhos
Passo por momentos bisonhos
Pelas flores enfrentei espinhos
Mas tudo na vida vale a pena
Quando se luta com destemor
Mas se a gente não tiver amor
A lágrima nos olhos envenena
Eu não menosprezo a paquera
Só para ter um prazer na vida
Aquela troca de carícia sincera
E um romance breve se encena
Para dissipar o nosso dissabor
Mas se a gente não tiver amor
A lágrima nos olhos envenena
Vagar pelo mundo sem destino
Levando na mala desesperança
E no peito um quê de desatino
Finjo que seu sorriso me acena
E no meu coração alivio a dor
Mas se a gente não tiver amor
A lágrima nos olhos envenena
A QUEDA NA FUGA
Entreguei ao vazioO que eu tinha de melhor
Um mar agitado
Dentro do meu coração
E aquele arco-íris de múltiplas cores
Em meus olhos.
Uma força hercúlea
Para trilhar caminhos impossíveis
Sem passos trôpegos
Sobre ladrilhos famintos
Em noites de lua duplicada.
O que me fazia pulsar
Diante dos desafios seculares
Que lançam tristezas contra o peito
Fiquei de mãos empobrecidas
Acenando um adeus enxuto
Para o que eu tinha de melhor.
Dita por lábios sedentos por fraquezas
Eu estava lá, presa fácil
Buscando fugas para minhas desilusões
Bastou aquele sorriso
E desde o primeiro beijo
AQUELA SIMPLICIDADE
A careca encontrava o penteA escova acariciava o dente
Era nosso dia com requinte
Que se repetia no dia seguinte
Engolindo a nossa feli-cidade
Nunca vi tamanha vora-cidade
Da fome com cara de fero-cidade
E o monóculo
Foram soterrados
Por um vocabulário
Monossilábico
Já não se saboreia mais o pudim
Já não se teme o coronel Bim-bim
E dinheiro é chamado de dim-dim
Só de soletrar já se era inteligente
Aquela simplicidade tão pungente
Morreu diante do mundo urgente
E o monociclo
Foram imolados
Por um imaginário
Monolítico
ENCONTRO O PARAÍSO
ImprecisoImperfeito
É este amor por você
Dentro do meu peito.
Nele me ajeito
Eu faço dos teus braços
O meu leito.
Ar rarefeito
Mas em teu corpo
Eu me ajeito.
Quase rejeito
Em teus olhos bonitos
O meu espelho.
Que eu beijo
Encontro o paraíso
E seu desejo.
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