domingo, 26 de março de 2017

PENSAMENTO



PENSAMENTO

(5º DECALOGIA DO LIVRO I)

EU PENSO

Eu penso no céu
Sem nuvens
Sem anunciar
Como será
O meu dia

Eu penso no século
Cem anos
Entre russos e americanos
E seus planos
E os planos do planalto

Eu penso na sétima arte
Um longa, um curta
Eu que tanto curto
Ando sem tempo
Eu nunca tive

Eu penso no serviço
servidão
Produção
Apropriação do ser
A própria criação

Eu penso no sexo
E nos teus seios
E nos meus anseios
E não sei o que faço
Só um abraço talvez

*****

AO MENOS

O pensamento
Aumenta
O livramento

Ao menos isso...

*****

IMPRENSA

Quem pensa
Na imprensa
Sempre pisa
Em terrenos minados

 *****

BARCOS A VELA

Livre pensamento
Livros abertos
E todos veem
O movimento
Dos barcos a vela

 *****

MENTE FAMINTA

Alimente a minha mente
Com teu sorriso caliente
E cale-me com teus beijos
Dessa boca fremente

Tua mente faminta
Tudo pensa, tudo sente
E se mentir
Famintamente?
Tomara que não minta.

Alimente minha mente
Certamente faminta
Com teu riso delinquente
Que se mente, não sinto.

E calo-te com meus lábios
Tudo penso, tudo sinto
Meu beijo fremente
Ferve e não mente

 *****

MEU PESAR

O meu pensamento e
O meu pesar
Estão pensando
Estão pesando
Sobre o planeta Terra

Sob os planos
Desses plasmoides
Que nos deixam pasmos
Com suas palavras
Para as quais
Não tenho paladar

 *****

ELE & ELA

Ela pensa nele
Ele pensa nela

Ela ama ele
Ele ama ela

Ela faz amor com ele
Ele faz amor com ela

Ele
     &
         Ela
Se amam
E fazem amor
No pensamento
Pois lonjuras
Não é impedimento

 *****

TODO PENSAMENTO

I

Todo pensamento positivo
Com o pó da poluição
Com o pólen da proliferação
E o produto tipo exportação
Deposita
Esquisitos votos de confiança
Como requisito
Na economia
Sem trilhas
Sem ecos nas montanhas
Sem ego
Sem sexo
Sem coração

II

Todo pensamento negativo
É neve no verão
Leva-me pela mão
Pelos labirintos
Dos lábios da ilusão
E sem luz
E sem instrução
Na escuridão
E sem escudo
Na exclusão

III
Todo pensamento neutro
À luz de neon
Pode ser bom
Pode ser bomba
E explodir
E expandir
E expressar
A nossa pressa
Em nos perder
Entre as pernas
Do podre poder

 *****
NÃO PESA

Qual o teu pensar?
Qual a tua ideia
A respeito do mar
E da sereia
Sempre a entoar
A melodia que semeia
Encantos
Em cantos

Não penso no mar
Não penso nas ideias
Não ouço cantos
Não ouso cantar
Na beira do mar

Acho que não penso
E não me pesa
Não pensar

 *****

COMO PODE II

Penso no poema
Progenitor sem pósteros
Cachorro sem poste
Cidade sem postal

Penso no poema
Casa sem porta
Sol sem poente
Estrada sem ponte

Penso no poeta
Trilhando sem horizonte
Sedento sem ter uma fonte
Singrando sem porto

Como pode ser gente
Esse poeta tão estranho
Falando da gente

Em poemas sem ponto


POEMAS CONCEBIDOS EM: Mutum, 30 de dezembro de 1996

domingo, 19 de março de 2017

BALZAQUIANAS




BALZAQUIANAS

Duas amigas balzaquianas conversavam pelo whatsApp.
– Tem um ser humano dentro de mim.
– Você está grávida?
– Não, apenas me descobrindo a cada dia em que envelheço.


O CAÇADOR
Armou-se para a caçada do dia. Olhou para o sol instigante no céu. Aves de rapina voavam em círculos. Suas unhas grandes afiadas. Suas roupas e seu odor o camuflariam no ambiente. Começou a caça, tirava os obstáculos do seu caminho em busca de restos de comida no lixão na cidade.


O LENHADOR
Enquanto ele estava na floresta tirando lenha, sua esposa o traía com o vizinho. Um dia, desconfiado, fez que foi para o trabalho e ficou escondido. Viu o homem chegar e adentrar em sua casa. Hoje seu machado seria cravado em outros troncos.

A FUGA
Estressado com sua profissão, cirurgião renomado abandonou sua brilhante carreira. Comprou um sítio longe da grande cidade. Pensou consigo: Mexer com plantas é bem melhor que com ser humano. Na primeira enxadada fez uma incisão profunda no peito do cadáver mal enterrado.


Estes são os melhores microcontos de minha autoria classificados no Prêmio Escambau de microcontos de janeiro/2017.

Pela regra do Prêmio considera-se microcontos narrativas de até 300 caracteres.

sábado, 18 de março de 2017

PARTO 11 DA III FLORADA




Nenhum

Mundo
Descreve
Nosso
Sentimento
Profundo

***

Abelhas
Compõem
Mel
Enquanto
Adoço
Melancolias

***

Ela
Pediu-me
Tempo
Quando
Tentei
Temperar-lhe

***

Tua
Poesia
Rugia
Com
Força
Fugi

 ***
 
Escrevo
Pelos
Trevos
De
Três
Folhas

***
Agonizo
Enquanto
Priorizo
Finalizar
Poemas
Eternos

 ***

Entre
Sombras
Nada
Sobra-me
Tudo
Assombra-me

quarta-feira, 15 de março de 2017

DIÁLOGOS POÉTICOS

A POETISA ROBERTA LESSA, em sua série DIÁLOGOS POÉTICOS, dialogou com meu poema SERVE DE FESTA publicado no Recanto das Letras.


TRANSMUTAÇÃO (Série Diálogos Poéticos) ROBERTA LESSA/CLAUDIO ANTONIO MENDES*


… e quem sabe um dia todos os poetas se revoltem e reescrevam então novos encontros, parâmetros, espectros, desencontros…
… e quem sabe um dia todas as colinas se cruzem e surjam então outras poesias, alegorias, fantasias, magias…
… e quem sabem um dia todos os monjolos se silenciem e promovam então todas naturezas, espertezas, fraquezas, incertezas…
… e quem sabe um dia todos os olhares se ceguem e reprogramem tantas mágoas, mínguas, línguas, réguas…
… e quem sabe um dia todas as famílias se desconstruam e somem suas esperanças, alianças, bonanças, heranças…
… e quem sabe um dia todos os corpos se unam e percebam assim suas boas formas, normas, armas, plataformas…
… e quem sabe um dia todos os barcos retornem e tragam assim plenas harmonia, sintonias, alegrias, hegemonias…

EM DIÁLOGO COM O POEMA “serve de festa” CLAUDIO ANTONIO MENDES

LINK PARA A POSTAGEM DE ROBERTA LESSA:  https://robertalessablog.wordpress.com/2016/08/17/transmutacao-serie-dialogos-poeticos-roberta-lessaclaudio-antonio-mendes/

domingo, 12 de março de 2017

ERROS & ACERTOS

ERROS & ACERTOS

Os dias ficam pairando pelo tempo em um turbilhão dentro do meu pequeno quarto alugado no velho casarão. Lá fora uma placa diz que aqui é uma pensão.
Quando saio para lecionar em minhas aulas de língua portuguesa, fico imaginando a história de cada aluno. Cada um com sua careta e com seus sonhos. Cada um com seus silêncios e com seus barulhos. Cada um com seus vazios.
Um desses alunos me chamou bastante atenção. Era um sujeito um pouco obeso, sempre de cabeça baixa. Era o Altivo, da turma E do primeiro ano. Sempre mediano em suas notas.
Um dia acordei com vontade de conversar com algum aluno meu. Altivo sobressaiu em meu cérebro. Até parece que ele estava escondido entre os neurônios.
Acolhi a imagem de Altivo em minha mente como um pedido de socorro. Era preciso conversar com ele. Olhei meu horário. A aula na turma dele será no quinto período, o último.
Assim que terminou meu último período, chamei Altivo para conversar mais um pouco. Ele começou estranhando:
- Que foi professor? Eu não sou de bagunçar sua aula.
- Não é isso Altivo. Eu só quero te falar que te acho muito quieto, muito no seu canto. Eu gostaria que você fosse mais participativo.
- Como assim professor?
- Você gosta de literatura? Vejo sempre você com um livro na mão.
- Gosto. Acho que leio para me distrair.
- Como assim?
- Meu mundo é muito chato, professor. Meu pai é um alcoólatra. Minha mãe, coitada, não sabe o que fazer da vida. Passa o dia trabalhando de faxineira e a noite adormece em frente à novela. Minha irmã vive envolvida com rapaz que não presta. Só tranqueira.
- Puxa vida. Um drama e tanto. Isso parece ser ruim, no entanto eu tenho uma dica para você.
- Dica? Ninguém nunca me dá dica de nada.
- Como você se sente diante disso?
- Confuso. Eu não sei o que vai ser de mim daqui a quatro anos. Com o quê eu vou trabalhar. Não tenho nenhuma indicação de como vai ser meu futuro.
- Você lê muito. Por que não escreve?    
- Um livro?
- Altivo, primeiramente a gente escreve o que der na telha. Se um dia isso vai virar um livro, eu não sei.
- Pode ser num blog, né?
- Tá aí uma boa ideia. Pode sim. Crie um blog e comece a escrever. Eu vou te ler e te ajudar.
- Valeu professor, pela dica. – Estendeu a mão e me cumprimentou.
Durante o resto do ano letivo, conversei mais algumas vezes com Altivo. O blog dele era relativamente lido. Suas histórias eram boas dentro do gênero fantástico. Confesso que não gosto muito de literatura fantástica, mas os textos dele eram bem estruturados.
- Terminado o ano letivo, voltei para minha cidade. Consegui remoção.
- Algumas vezes acessei o blog do Altivo. O garoto estava evoluindo. Eu fico feliz por ter dado aquele toque no garoto. Era alguém de baixa autoestima. Agora parece que sua vida tinha uma razão de ser, a literatura.
- Minha vida foi decaindo depois que voltei para minha cidade. Tentava consertar meus erros cometendo outros. Um deles foi ter engravidado Márcia Regina, o outro foi ter se casado com ela.
Márcia Regina não era o meu tipo desde o primeiro encontro. Mas eu não tinha tipo preferido, apenas uma necessidade masculina de cortejar uma fêmea da minha espécie. E quando não se tem tipo preferido, qualquer tipo serve. Ela parecia ser aquela pessoa que nasceu para ser infeliz. Nada estava bom para ela. Resmungava o dia todo. A gravidez só fez piorar o seu tipo.
Eu fui aumentando o número das minhas aulas para dar vida digna ao bebê. Ela se ralhava com tudo que eu comprava. Se eu comprasse um brinquedo, a criança precisava de roupinhas. Se eu dava a ela dinheiro para comprar algum agasalho para o bebê, ela dizia que eu não prestava nem para ir a loja adquirir algo para o filho. Caso eu, com ajuda de alguma amiga balconista de butique, comprasse um agasalho, ela então dizia que criança gosta é de brinquedo.
Não sei o que me cansava mais. Se eram os alunos desinteressados ou se era Márcia Regina. Um dia nublado de março, aconteceu a separação. Nada era amigável por parte dela. Exigiu pensão alimentícia em alto valor. Evitei polêmicas com ela e com sua família. Aceitei o que foi proposto.
Doenças foram se acumulando e metade do meu salário era para a pensão alimentícia e metade para os medicamentos.
Mudei para a capital. Trabalhava em três turnos. Um na rede estadual, outro na rede municipal e complementava minha renda na rede particular.
Não havia tempo para procurar uma parceira. Ocasionalmente eu tinha oportunidade de me satisfazer com algum tipo de prazer. Era trabalho e mais trabalho.
A vida foi ficando enjoativa. Eu fui me cansando de tudo. Cansando do trabalho, cansando das pessoas, cansado de mim mesmo. Nada mais fazia sentido para mim. Resolvi encerrar minha jornada nesse mundo. Era minha vitória sobre a vida chata que eu levava sem ter outra opção. Peguei a caixa de remédios tarja preta que me mantinha lúcido, sentei-me diante da televisão com meu coquetel mortal e um copo de água, Relembrei de todos os erros que cometi, sobretudo o do casamento com a megera da Márcia Regina, talvez o pior deles, a razão para eu estar nesse inferno. Meu filho, nem sei como ele é hoje. Não consigo separá-lo da sua mãe em minha mente. Ele é a prova cabal do meu erro. Não sinto amor por ele, essa é a verdade. São sete anos de distância.
Liguei a tevê no volume bem alto, talvez eu quisesse chamar atenção de alguém para meu ato de heroísmo. Por coincidência, o canal estava exibindo um programa de literatura. A entrevista do dia era com Tivo Medeiros, um novo escritor em ascensão.
- Quero agradecer um professor que tive no primeiro ano do Ensino Médio. Eu estava pensando em suicídio e ele me apontou os caminhos da literatura. Graças a ele estou vivo e quero celebrar com ele, algum dia que eu o encontrar, esse sucesso que venho fazendo. – Disse Altivo, meu ex-aluno.
Respirei fundo, olhei para o copo d’água e os comprimidos. Voltei até a cozinha e guardei tudo. Adiei meu ato de heroísmo e fui procurar Altivo para celebrar com ele um dos poucos acertos da minha vida.



sábado, 4 de março de 2017

2º VÍDEO POEMA 4 ANOS do estilo EcoSys



Publicado em 3 de mar de 2017

Uma coletânea de poemas EcoSys com a participação de vários poetas do recanto das letras.Estamos comemorando 04 anos do estilo EcoSys.