quinta-feira, 1 de abril de 2021

À SOMBRA DO IMBONDEIRO: UMA HISTÓRIA DE AMOR, GUERRA E AVENTURA (PARTE I)

  DA SÉRIE: À SOMBRA DE UM CEDRO EU SENTEI E LI

 


TÍTULO: À SOMBRA DO IMBONDEIRO

SUBTÍTULO: UMA HISTÓRIA DE AMOR, GUERRA E AVENTURA

AUTOR: ANTÓNIO MARCELO

EDITORA: E-COLOR

GÊNERO: BIOGRAFIA

 

LEITURAS À SOMBRA DE UM CEDRO

 


Nos últimos anos do século XX eu mergulhava cada vez mais fundo na literatura sem saber nadar. Afoguei-me várias vezes. Ainda não li profundamente Paulo Coelho. Melhor dizendo, eu ainda não li nada, praticamente nada desse escritor que foi sucesso de vendas e recebeu críticas por isso. Mas sempre me interessei por títulos de livros. Na margem do rio Pietra eu sentei e chorei é um título que caiu nas águas frias da minha mente e virou pedra como a lenda sobre o referido rio. Era uma constante em minha vida. A petrificação do título virou em mim a ideia de escrever resenhas sobre romances para no futuro publicá-las sob o título À SOMBRA DE UM CEDRO EU SENTEI E LI. Cedro é o nome do córrego em que eu nasci e vivi a fase mágica da minha vida. A mesma magia que povoava a mente de uma criança exploradora das estradas poeirentas no extremo norte de Mutum é sentida por mim toda vez que estou diante de um livro. Ler é explorar vidas em páginas de livros.

Julguei ser necessária a introdução acima para justificar meu interesse pelo livro de António Marcelo que me trouxe à memória o título pensado há 25 anos para uma coleção de resenhas e me aninou a retomar a ideia. Talvez eu nunca venha publicar minhas resenhas em livro. Mas farei registros em neste blog. A aquisição pela troca de obras que proponho ocasionalmente aos meus colegas de Recanto das Letras me permitiu ter o livro em mãos.

 

 

ANTÓNIO MARCELO: UM HOMEM DE MUITAS CAMPINAS

 

(Divulgação do filme Forrest Gump - O Contador de História)

    António Marcelo nos deixa um relato de sua vida em três continentes. Nascido em 1939, pareceu-me um Forrest Gump lusófono no jeito de contar sua história, atravessando momentos ímpares de Portugal com o Salazarismo e de Angola no seu processo doloroso de libertação marcado por conflitos fraticidas.

    Julguei por bem dividir esta postagem em duas partes. A primeira que trago à luz hoje traz uma entrevista do nosso blog como o autor da obra. António Marcelo vive em campinas, interior de São Paulo. Suas respostas nos levarão para o espírito do seu livro, a lembrança de quem teve amores, guerras e aventuras tecendo um enredo real, desde a ida de seu pai para Angola até a sua estabilidade em paragens brasileiras.


— ENTREVISTA — 

Quando e por que você decidiu contar sua história?

Muita omissão e mentira sobre o êxodo de milhões de colonos brancos (cerca de 600.000)  para Portugal e outras partes do mundo obrigados a largarem todos os seus bens .Também milhares de negros trabalhando no norte de angola que fugiram a pé para suas terras no sul para não serem assassinados pelos rebeldes do Norte.

Meu testemunho pode não ser importante para o mundo, mas para mim foi um grito de libertação dos sentimentos de revolta que mantinha armazenados dentro de mim. Portugal não pode esquecer.

 

Sua autobiografia nos presenteia com textos de considerável teor literário quanto à forma com que você narra fatos da sua vida. Você tem outras obras publicadas?

Não tenho nada publicado. Apenas alguns versos e contos no Recanto das Letras.

 

Dos amores vividos, qual deles você destaca?

Sem dúvida o caso com Gabriela.

 

Das guerras vividas, bélicas ou não, qual mais te afetou?

Muitos empregados tanto os que vinham do interior como os de Luanda queriam fugir para Portugal. Os aviões estavam lotados por 6 meses e não havia como comprar passagens. Depois disso ninguém sabia o que o novo governo poderia fazer com os brancos. O governo português nada fazia para resolver o problema. As pessoas dormiam dentro do aeroporto ou até mesmo na rua na esperança de poderem embarcar. Hotéis e restaurantes lotados. Comida escasseando. Todo o mundo vendedor do que tinha, mas compradores não os havia. Todos em fuga.

Um amigo que trabalhava numa companhia aérea jogava com o overbooking para me conseguir passagens para esses funcionários e respectivas famílias. Essas pessoas eram um verdadeiro pesadelo para mim. Mais tarde vim a saber que os colegas que apoiavam a entrega do governo ao MPLA descobriram o que ele fazia .E isso aconteceu devido à ultima passagem que ele arrumou para mim. Ele teve que fugir para o Sul. Encontraram-no e mataram-no. Até hoje sofro com essa lembrança.

 

Das aventuras que você viveu, qual foi a mais marcante?

Quando recebo a noticia que uma das fazendas tinha sido ocupada por 30 guerrilheiros. Nessa fazenda trabalhavam 500 pessoas que corriam o risco de serem mortas. No livro conto como fui de avião para reunir com o general chefe das forças armadas na região, a reação tempestiva dele e depois as medidas que tomei para resolver o problema.

 

Você teve alguma dificuldade de se adaptar ao jeito brasileiro de ser?

Pelo contrário. Brasil se parece muito com Angola e o povo alegre e comunicativo sempre me havia atraído.

 

Após dez anos do livro publicado você se lembra de alguma parte da sua vida que deveria ter nos revelado?

O livro termina praticamente com a chegada ao Brasil. A minha vida neste País é digna de outro livro.

 

Atualmente você ainda tem alguma relação com Angola? Se sim, qual?

Absolutamente nenhuma. Uns 3 anos depois de chegar aqui veio um representante angolano me convidando para recuperar os meus bens produtivos em Angola. Pode imaginar qual foi a minha reação.


BLOG: Deixamos aqui nosso obrigado ao autor pela pequena entrevista, em breve postaremos a segunda parte comentando nossas sensações sobre o livro.


SEGUNDA PARTE DA RESENHA: PARTE II

Um comentário:

  1. Muito boa a sua reportagem,Obrigado pela divulgação.Os Angolanos retornados agradecem.

    ResponderExcluir