DA SÉRIE: À SOMBRA DE UM CEDRO EU SENTEI E LI
TÍTULO: À SOMBRA DO IMBONDEIRO
SUBTÍTULO: UMA HISTÓRIA DE AMOR, GUERRA E AVENTURA
AUTOR: ANTÓNIO MARCELO
EDITORA: E-COLOR
GÊNERO: BIOGRAFIA
LEITURAS À
SOMBRA DE UM CEDRO
Nos últimos
anos do século XX eu mergulhava cada vez mais fundo na literatura sem saber
nadar. Afoguei-me várias vezes. Ainda não li profundamente Paulo Coelho. Melhor
dizendo, eu ainda não li nada, praticamente nada desse escritor que foi sucesso
de vendas e recebeu críticas por isso. Mas sempre me interessei por títulos de
livros. Na margem do rio Pietra eu sentei e chorei é um título que caiu nas
águas frias da minha mente e virou pedra como a lenda sobre o referido rio. Era
uma constante em minha vida. A petrificação do título virou em mim a ideia de
escrever resenhas sobre romances para no futuro publicá-las sob o título À
SOMBRA DE UM CEDRO EU SENTEI E LI. Cedro é o nome do córrego em que eu nasci e
vivi a fase mágica da minha vida. A mesma magia que povoava a mente de uma
criança exploradora das estradas poeirentas no extremo norte de Mutum é sentida
por mim toda vez que estou diante de um livro. Ler é explorar vidas em páginas
de livros.
Julguei ser
necessária a introdução acima para justificar meu interesse pelo livro de
António Marcelo que me trouxe à memória o título pensado há 25 anos para uma
coleção de resenhas e me aninou a retomar a ideia. Talvez eu nunca venha
publicar minhas resenhas em livro. Mas farei registros em neste blog. A
aquisição pela troca de obras que proponho ocasionalmente aos meus colegas de
Recanto das Letras me permitiu ter o livro em mãos.
ANTÓNIO MARCELO: UM HOMEM DE MUITAS CAMPINAS
(Divulgação do filme Forrest Gump - O Contador de História) |
António Marcelo nos deixa um relato de sua vida em três continentes. Nascido em 1939, pareceu-me um Forrest Gump lusófono no jeito de contar sua história, atravessando momentos ímpares de Portugal com o Salazarismo e de Angola no seu processo doloroso de libertação marcado por conflitos fraticidas.
Julguei por bem dividir esta postagem em duas partes. A primeira que trago à luz hoje traz uma entrevista do nosso blog como o autor da obra. António Marcelo vive em campinas, interior de São Paulo. Suas respostas nos levarão para o espírito do seu livro, a lembrança de quem teve amores, guerras e aventuras tecendo um enredo real, desde a ida de seu pai para Angola até a sua estabilidade em paragens brasileiras.
— ENTREVISTA —
Quando e por que você decidiu contar sua história?
Muita omissão e mentira sobre o êxodo de milhões de colonos
brancos (cerca de 600.000) para Portugal
e outras partes do mundo obrigados a largarem todos os seus bens .Também
milhares de negros trabalhando no norte de angola que fugiram a pé para suas
terras no sul para não serem assassinados pelos rebeldes do Norte.
Meu testemunho pode não ser importante para o mundo, mas
para mim foi um grito de libertação dos sentimentos de revolta que mantinha
armazenados dentro de mim. Portugal não pode esquecer.
Sua autobiografia nos presenteia com textos de considerável teor
literário quanto à forma com que você narra fatos da sua vida. Você tem outras
obras publicadas?
Não tenho nada publicado. Apenas alguns versos e contos no
Recanto das Letras.
Dos amores vividos, qual deles você destaca?
Sem dúvida o caso com Gabriela.
Das guerras vividas, bélicas ou não, qual mais te afetou?
Muitos empregados tanto os que vinham do interior como os de
Luanda queriam fugir para Portugal. Os aviões estavam lotados por 6 meses e não
havia como comprar passagens. Depois disso ninguém sabia o que o novo governo
poderia fazer com os brancos. O governo português nada fazia para resolver o
problema. As pessoas dormiam dentro do aeroporto ou até mesmo na rua na
esperança de poderem embarcar. Hotéis e restaurantes lotados. Comida
escasseando. Todo o mundo vendedor do que tinha, mas compradores não os havia.
Todos em fuga.
Um amigo que trabalhava numa companhia aérea jogava com o
overbooking para me conseguir passagens para esses funcionários e respectivas
famílias. Essas pessoas eram um verdadeiro pesadelo para mim. Mais tarde vim a
saber que os colegas que apoiavam a entrega do governo ao MPLA descobriram o
que ele fazia .E isso aconteceu devido à ultima passagem que ele arrumou para
mim. Ele teve que fugir para o Sul. Encontraram-no e mataram-no. Até hoje sofro
com essa lembrança.
Das aventuras que você viveu, qual foi a mais marcante?
Quando recebo a noticia que uma das fazendas tinha sido
ocupada por 30 guerrilheiros. Nessa fazenda trabalhavam 500 pessoas que corriam
o risco de serem mortas. No livro conto como fui de avião para reunir com o
general chefe das forças armadas na região, a reação tempestiva dele e depois
as medidas que tomei para resolver o problema.
Você teve alguma dificuldade de se adaptar ao jeito brasileiro de ser?
Pelo contrário. Brasil se parece muito com Angola e o povo
alegre e comunicativo sempre me havia atraído.
Após dez anos do livro publicado você se lembra de alguma parte da sua
vida que deveria ter nos revelado?
O livro termina praticamente com a chegada ao Brasil. A
minha vida neste País é digna de outro livro.
Atualmente você ainda tem alguma relação com Angola? Se sim, qual?
Absolutamente nenhuma. Uns 3 anos depois de chegar aqui veio
um representante angolano me convidando para recuperar os meus bens produtivos
em Angola. Pode imaginar qual foi a minha reação.
BLOG: Deixamos aqui nosso obrigado ao autor pela pequena entrevista, em breve postaremos a segunda parte comentando nossas sensações sobre o livro.
SEGUNDA PARTE DA RESENHA: PARTE II
Muito boa a sua reportagem,Obrigado pela divulgação.Os Angolanos retornados agradecem.
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