quinta-feira, 29 de abril de 2021

OS ESCRITOS DO ODIADO

 


Ele se isolava e era detestado. Na vila próxima de onde morava sentia-se um leproso andando pela rua, todos o evitavam. Precisava sair dali, mas algo o prendia naquele lugar horrível, entre as montanhas de um canto de Minas Gerais que parecia perdido no tempo.

Sargento era seu cachorro fiel. Dormia com ele, almoçavam a mesma comida, acompanhava-o nas caçadas e no trabalho no pequeno sítio de dois alqueires que herdou do pai. O casebre era mal faxinado. Sujeira e falta de higiene. O odiado, já lhe chamavam assim, passava três a quatro dias sem se banhar. Caprichava um pouco quando dava um pulo até a cidade. Havia um velho ônibus apenas duas vezes por semana. Recebia sua aposentadoria e comprava poucas coisas. O necessário. Sua casa sem energia elétrica, sua água de uma mina próxima da sua morada. Tudo simples, tudo rústico.

Duas caixas de madeira, daquelas antigas, onde guardava coisas. E serviam de assento também. Em uma delas as escassas peças do seu vestuário, na outra os cadernos.

Nesses cadernos ele escrevia suas histórias arrancadas da sua desacreditada imaginação. Histórias que ninguém lia e ninguém era capaz de imaginar que ele conseguia tal proeza. Tinha sido alfabetizado até o terceiro ano quando pegou raiva da escola onde os outros garotos gostavam de tirar sarro da sua cara emburrada.

Mas leu a Bíblia inteira três vezes. Lia tudo que lhe chegava às mãos. Escrevia muito bem apesar dos tropeços na gramática. Escrevia pela tarde.

fonte: da imagem: http://terrorcontos.blogspot.com/

Houve uma noite, um bando de garotos drogados e a péssima ideia de colocar fogo na casa dele. Ele dormia. Desmaiou sufocado pela fumaça e morreu carbonizado. Quase tudo foi queimado, exceto a caixa de madeira com os cadernos. O cachorro ficou, farejava tudo e parecia vigiar o pouco que sobrou. Dormia sobre a caixa.

Lucas, um garoto perspicaz, na manhã seguinte passava pela estrada, ouvindo os latidos do cachorro solitário, teve a curiosidade visitar os escombros do casebre. Pegou para si os cadernos do velho homem queimado covardemente. O cão parecia não se opor, mas o acompanhou até a sua casa.  Ele leu e entendeu que se tratava de histórias interessantes. Precisava trazer à tona o talento do homem mais odiado da vila. Com ajuda da Secretaria de Cultura, conseguiu publicar uma coletânea das histórias mais interessantes. Foi às escolas, deu entrevista na rádio comunitária, postou em suas redes sociais e atraiu um pequeno público para a noite de autógrafo.

No lançamento do livro, Os Escritos Do Odiado, enquanto o rapaz, responsável a dar luz àquelas histórias, falava do seu encanto da primeira vez que leu os manuscritos, Sargento, com seu corpo magricelo, entrou no recinto.

Lucas esbanjava orgulho e alguma timidez perante o público atencioso. Sargento foi se acomodando ao lado do jovem. Enquanto o nome do velho era lembrado, o corpo do cachorro foi ganhando massa muscular e mudando sua morfologia. Ninguém percebeu o inicio da transformação, foi um garoto desatento às palavras do rapaz que achou estranho o cão se transformando em um homem. Gritou, e então passaram a perceber. Lucas olhou de lado e viu a transformação acontecendo. Ficou atônito, boquiaberto. O animal tomou a forma do homem, autor das histórias contidas naquele livro. Boa parte dos presentes, apavorados, diante do corpo do maltrapilho já tido como morto, saiu correndo e se acotovelando na porta do salão. Os poucos que ficaram viram o homem pegar o microfone da mão do rapaz que, assim que se viu livre do objeto, caiu no chão, desmaiou. O homem odiado se apresentou e pediu para que ninguém se assustasse. Ele não havia morrido no incêndio. Esperava o momento certo para voltar a ser humano. Quem estava no corpo humano carbonizado naquela noite criminosa era o do seu único e fiel amigo, o cachorro, que trocou de alma com ele. Nem ele sabe como isso aconteceu.

Quando a polícia chegou juntamente com os socorristas, o homem tomava água calmante. Não havia porque prendê-lo. Viver como um cachorro não é crime.

Mas as mortes misteriosas dos cinco delinquentes que atearam fogo naquele casebre, que não tinham sido inocentados por serem filhos de famílias influentes, podiam até ser crime. Mas elas tinham cara de justiça.



OUTRAS CONTOS DE OUTRAS QUINTAS

POR CAUSA DE CAMILA

A BARGANHA

A DESEMPREGADA

domingo, 25 de abril de 2021

PANDEMIA, AMOR E CAMINHOS: PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS XIII

 


"Havia um sarau para se realizar
Para se realizar um sarau havia
Já que sarau não houve
Vamos com mais uma pentalogia."

 

Confesso que havia um projeto para 20 de abril, véspera da Inconfidênica Mineira. Sarau dos poetas inconfidentes. Falei em uma crônica que não houve. Mas a ideia persiste. A ideia de comunicar a poesia como forma de liberdade. No entanto podemos preservar a ideia e criar um grupo, quem sabe uma academia virtual, dos poetas inconfidentes do leste. Ficaria legal, acho.
 
A pentalogia deste domingo das minhas pétalas semanais fala de Pandemia, tema do meu livro Versos Infectantes, de amor e de caminhos que temos para percorrer. Intercalei com quadras, do projeto Poemas em pó, entrando na metalinguagem do agir/não-agir poético.
 
PÉTALA I: Sobre apertos e aprendizados em uma pandemia.
 
PÉTALA II: Sobre a rejeição do poeta para temas concretos que pode se reflexão da pouca absorção dos poemas que abordam a realidade.
 
PÉTALA III: Viver de amor é o mesmo que morrer de amor. Vida e morte no amor não existem. Amor é além destes acontecimentos.
 
PÉTALA IV: Uma quadra falando do fazer poesia, do trabalho árduo de se compor um poema.
 
PÉTALA V: Fazer a mesma coisa todo dia é não conhecer a diversidade de caminhos que a vida nos proporciona. É um convite para conhecermos a riqueza da existência humana.
 




EM UMA PANDEMIA
 
Em uma pandemia a gente apanha
Em uma pandemia a gente aprende
Se ela não te mata ao menos arranha
É um imprevisto que te surpreende.
 
Na pandemia nossos dias são frios
Mas o calor da família é que aquece
As notícias na tevê causam arrepios
Em casa o teletrabalho enlouquece.
 
Não brinque agora que é muito sério
E não brinde agora que não é a hora
Se você não teme ir para o cemitério
Sinceramente eu não quero ir agora.
 
Toda pandemia faz a gente adoecer
Eu só quero que isto tudo passe logo
Toda pandemia faz a gente padecer
Para a sensatez dos homens eu rogo.
 
Em uma pandemia revemos valores
Em uma pandemia a gente defronta
Com amores e com nossos rancores
Tudo que em nós calado nos afronta.
 
Em meio a tantos desafios há beleza
Na partilha do pão na desigualdade
Pandemia é desequilíbrio da natureza
Ou reflexo do abuso da humanidade?
 
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QUADRA 66
 
Não cabe em minha cabeça
Um poema tão concreto
Inda que o poeta cresça
Prefiro o meu papo reto.
 
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VIVER DE AMOR
 
Eu posso viver de amor
Colorir a vida de tons leves
Eternizar momentos breves
Agarrado aos fios de esperança.
 
Eu posso cavar poços no deserto
Atrás de um futuro ainda incerto
Somente para ter você por perto.
 
Eu posso morrer de amor
Em cada volta do ponteiro
Estar com os bolsos vazios
E te dar um mundo inteiro.
 
Mas nada vai adiantar
Se você não se encantar
Com o azul do seu mar.
 
Viver de amor, morrer de amor
Amor não é tempo, nem espaço
É beijo que arremata o abraço
É toque leve para além da pele
Enquanto meu coração expele
Mais um poema em seus lábios.
 
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QUADRA 67

Um poeta usa a caneta
Estraçalha uma loucura
Como se fosse a marreta
Batendo na pedra dura.
 
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CAMINHOS DIVERSOS
 
Eu não faço todo dia as mesmas coisas
Eu não bato todo dia nas mesmas teclas
Não reproduzo todo dia as mesmas cópias
Eu não sigo todo dia as mesmas regras.
 
Quero ser uma coisa em cada dia que vivo
E ter uma nova atmosfera no ar que respiro
Quero olhar para o sol e ver um novo motivo
E um novo alvo para eu acertar o meu tiro.
 
Eu não faço todo dia as mesmas contas
Eu não fumo todo dia a mesma erva
Eu não aponto todo dia as mesmas pontas
Nem todo dia o meu voto é o de minerva.
 
Quero ver no meu arco-íris outras cores
Quero um remédio sem efeito colateral
Meu paladar sempre busca novos sabores
Nem todo dia eu ponho a bola para lateral.
 
Eu não escrevo todo dia o mesmo conto
Eu não rimo todo dia os mesmos versos
Eu não termino o dia com o mesmo ponto
Pois há no meu destino caminhos diversos.
 
Ainda que não haja sobre a mesa refeição
Ainda que a vida seja apenas massa bruta
Hoje eu quero sentir como é uma perfeição
Por hoje eu não vou desistir da minha luta.


VERSOS INFECTANTES
(MÓ)MENTOS DE UMA PANDEMIA

Sobre um eu-poético
que evita contato com o vírus
que se envolve com seu versos.

Sobre um eu-poético
em um mundo que se infecta
com seu profundo se conecta.

CONTATO PARA AQUISIÇÃO

mendesclaudioantonio@gmail.com


PENTALOGIAS DE PÉTALAS ANTERIORES






quinta-feira, 22 de abril de 2021

POR CAUSA DA CAMILA

 


Deixou de morrer dentro daquele quarto escuro. Não era hora para isso. Dono do seu tempo e da sua vida, seus torturadores não foram sensíveis o suficiente para perceberem que ele era mais que um agitador político. Seus olhos não estavam vermelhos de sangue e de cansaço da surra que levava.

Não tinha o que confessar durante o intervalo de um choque e outro. Ninguém para entregar, não era de nenhuma célula terrorista. Não conhecia nenhum plano, os milicos estavam mesmo é doído.  Jogaram seu corpo já quase sem vida aos olhos humanos. Mas ele precisava chegar em sua quase-morte para ganhar força vital. Foi o que a voz em sua cabeça o orientou.

Naquela noite saiu sem rumo pela cidade. Achou um panfleto revolucionário que chamava o presidente de genocida. Ou melhor, foi o panfleto que o achou. Ele agora lembra bem. Não tinha ideia de como chegar a esse estado. O vento em sua frente formou um redemoinho roçando o asfalto e fez suspender até às suas mãos o papel com palavras de ordem contra a ditadura. Teve tempo apenas de ler parte do que dizia quando apareceram os camburões lotados de militares.

Talvez ele tivesse sido preso por engano. Talvez parecesse com algum estudante de esquerda. Ele não era militante de nenhum movimento, mas quase perdeu a vida. O destino. A voz disse que ele precisava viver essa experiência para ter supremacia. Ele pediu por isso em suas evocações do sombrio.

No chão frio e imundo da cela escura ele aguardava o que iria acontecer. Suas veias se dilataram.

Os músculos foram se enrijecendo, ganhando consistência, aumentando o volume. O magricelo se encorpava. Levantou-se. Soltou um urro.

Dentro de segundos os carcereiros apareceram. Antes que eles abrissem a porta para esmurrar novamente o suposto rebelde, ele arrancou a porta da cela sem muita dificuldade. Levou uma rajada de balas e não se assustou. Saiu correndo pelo recinto opressor atropelando quem estivesse pela frente. Arrancou mais duas portas de grade e ganhou a rua. Sem direção, hesitou um pouco. Olhou para os dois lados e um carro passou acelerado por ele. Seu aspecto tenebroso devia estar causando horror àquela hora. Por instinto seguiu para onde estava mais escuro.

Através de suas narinas enormes sentiu cheiro de sangue. Era isso que ele perseguia. Era o cheiro acre que o guiava para o fim da rua. Entrou no matagal.  O cheiro cada vez mais forte. Sentia o sangue dilatado nas veias de um corpo em apuros. Não deu outra, encontrou atrás de uma moita uma mulher seminua a ponto de ser violentada por dois marginais. Com agilidade jamais demostrada antes, ele segurou um dos meliantes pelo pescoço enquanto com seus pés espremia o outro contra o solo. Ambos se debatiam em vão.

A mulher apenas via a sombra do monstro que estraçalhava os criminosos. Suas pernas trêmulas não a permitiam abandonar o local. Pensava apenas que seria a próxima vítima do desconhecido e pouco visível naquele matagal.

Ele urrou novamente o que fez a mulher tremer ainda mais. Esticou um dos braços indicando a direção de luzes longínquas. Ela entendeu e saiu em disparada. Ele precisava sair dali. Ela certamente buscaria a polícia e a traria de volta. Eles o encontrariam. Sua audição estava mais aguçada o que lhe permitiu ouvir sirenes. A essa altura um pelotão já estava no seu encalço. Saiu correndo para se esconder. No final da mata encontrou uma casa abandonada. Refugiou-se ali.

Um monstro, ele olhava para si. Seus braços peludos, unhas grandes e afiadas. Sentidos aguçados e uma vontade de estraçalhar maldades em corpos de pessoas. Um monstro justiceiro? A luz do dia o incomodava. Melhor ficar escondido. Não sentia fome. Ele queria ser isso, mas jamais achou que seria atendido em seu desejo macabro.

A criatura relembrou do que o levou a desejar ser um justiceiro com força suprema. Uma interpretação da música Camila, Camila da banda que ele mais gostava de ouvir.


Música antiga, da década 80 do século passado, o país estava saindo de um regime de exceção. Depois de mais de trinta anos de liberdade os tempos de chumbo voltaram. Leu em um caderno de cultura de jornal que a música fala de uma menina colega dos integrantes, vítima de abuso sexual. Ao lado da casa dele havia uma Camila, menina triste que também poderia estar vivendo o mesmo.

A certeza de que sua vizinha vivia o mesmo pesadelo da Camila da música do Nenhum de Nós fez com que ele fosse cultivando dentro da sua mente melancólica vontade de ser um herói. Nutriu por dias o desejo de ter alguma capacidade descomunal, o que ele chamava de força suprema, mas que seria apenas uma força superior, capaz de fazer justiça para as mulheres desamparadas em situação de risco.

Herói. É isso que a criatura esperava ver naquele espelho quebrado. Não viu nada. Não havia reflexo de nenhum rosto diante dos seus olhos vermelhos. Como desfazer-se do que se transformara? Não tinha como. A voz dizia que não tinha retorno. Jamais seria o fracote, o medroso. Agora ele tinha coragem e dois homicídios. Os homens mortos foram encontrados. Estava em uma das páginas da edição sensacionalista vespertina do grande jornal que um vento, inesperadamente, trouxe até ele.

Um rato atreveu-se aparecer por ali. Seu estômago resmungou. Correu atrás do animal até capturá-lo e devorá-lo. Um rato apenas serviu-lhe de refeição naquela tarde.

O sol se pôs e ele farejou novamente violência. Levantou-se para o combate. Mas precisava esperar. Quando a cidade parecia mais calma, ele voltou pelo mesmo caminho da noite anterior. Seguia seu instinto. Viu-se diante da penitenciária onde havia sido torturado. A voz disse para ele: — Toda ditadura é um estupro.

Entrou e não sobrou ninguém ali de farda. Os que ainda sobreviviam naquele porão da sociedade foram libertos.


Depois a criatura seguiu para a casa de Camila, sua vizinha, que diante dos olhos perversos do seu padrasto, clamava em silêncio por alguma ajuda.




CONTOS DA QUINTA

A DESEMPREGADA

A BARGANHA


 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

DOIS VERÕES: UM QUE HOUVE

Existe uma relação entre o livro Frankenstein de Mary Shelley e meus poemas em Decalogias poéticas. Não pelo tema. No meu livro os poemas estão mais para o modernismo dos anos 50, escritos sob a influência dos poemas de Ferreira Gullar que eu tanto admiro.
 
Quero afirmar de início que verão e ócio é uma combinação explosivamente literária, seja em Léman, seja em Mutum.


O VERÃO QUE NÃO HOUVE

1816 foi um ano que não teve verão. Aconteceu que no ano anterior, nas longínquas Ilhas Orientais Holandesas, hoje Indonésia, ferveu sob a superfície terrestre a matéria-prima para uma tragédia que mudaria a história do mundo nos anos subsequentes. A devastação deu-se sob a forma de uma explosão vulcânica cataclísmica no monte Tambora. Foi, segundo especialistas, a erupção mais poderosa até hoje. Suas cinzas ocasionaram mudanças climáticas singulares na América do Norte e na Europa.

Hoje historiadores levantam a relação desta erupção com a derrota de Napoleão em Waterloo. “Em Waterloo, Napoleão poderia ter ganhado, e talvez seja por isso que nunca deixarão de ser escritos livros sobre aquela jornada”, dizia o historiador italiano Alessandro Barbero ao El País numa reportagem por ocasião do bicentenário da batalha.
Fonte: El País.
 
Os efeitos foram terríveis: A erupção provocou um frio que gelou as lavouras da América do Norte, onde ainda nevava

em junho de 1816, e reduziu de forma notável as temperaturas na Europa, que chegaram a três graus negativos na Espanha em pleno verão. Na França, enquanto seu imperador era derrotado, multiplicavam-se os distúrbios pelo aumento do pão, por causa da falta de grãos. Segue o artigo do El País.Mas há quem analisa o que foi produzido sob cinzas do Tambora, sobretudo na literatura depara com um marco importante atribuído como dano colateral do ano sem Verão, foi o fato de Frankenstein, considerado a primeira obra de Ficção Científica, ter surgido quando Mary Shelley,  tendo passado uma longa temporada confinada à beira do Lago Léman, nos Alpes, devido às condições meteorológicas hostis que condicionaram as esperadas férias de Verão que não aconteceria, na companhia de Lord Byron, e John Polidori. Tendo sido lançado o desafio por Lord Byron de criar histórias de terror, Mary Shelley surgiu com o que viria a ser Frankenstein, Polidori criou algo que viria a dar origem ao romance “O Vampiro”, que mais tarde serviria de inspiração a Bram Stoker para o seu “Drácula”. 
Fonte: Quando as folhas caem.

Baseado neste fato a ABERST (Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror) criou a Ghost Story Challenge, que consiste no desafio de isolar por uma noite escritores de crime e terror em algum lugar sugestivo.
 

O VERÃO QUE HOUVE


Na virada do ano 1996 para 1997 havia verão aqui no hemisfério sul. Eu estava engatinhando nos versos. Fiquei em casa e, ocioso, comecei a produzir poemas me inspirando em um livro com os melhores poemas de Ferreira Gullar. Tendo em mente alguns temas, peguei um caderno brochura e comecei a rascunhar dez poemas por dia. Comecei no dia 26 de dezembro de 1996, dei uma respirada no dia 31 e retomei no dia 1º de janeiro de 1997. Obra rascunhada até o dia 05. Não conhecia ainda a história da produção de Frankenstein por Mary Shelley.  Eu estava mais para a literatura policial com os contos absorvidos em dois livros de Luiz Lopes Coelho e seu Dr. Leite.

Shelley publicou seu livro após dois anos e ter sua obra recusada duas vezes. Somente agora tenho falado da minha obra, mais de 20 anos se passaram daquele verão de 1996, com 180 anos de distância daquela reunião às margens suíças do Lago Léman. Em ambiente de tertúlia literária quando os escritores George Gordon Byron (Lord Byron), John William Polidori, Percy Bysshe Shelley e Mary Godwin (mais tarde Mary Shelley, após casar com Percy), entretinham dias de frio e chuva no seu refúgio de férias. Juntos, recriavam histórias de terror saídas da literatura gótica alemã.
Uma ideia interessante seria em um sábado de inverno, juntando a experiência do Corujando da Editora Andross, pela qual já publiquei em duas antologias (Vendetta e Ponto de criação) e estamos aguardando a saída de Fio vermelho para este ano, com a Ghost Story Challenge da Aberst. Penso aqui em denominar de Noite Byroniana. O que acham?




domingo, 18 de abril de 2021

CERTEZA, QUEDA E ENCONTRO: PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS - XII

Trago mais uma pentalogia da minha lavra neste domingo outonal de abril quando a certeza é incerta, as folhas caem e encontram o chão. E na nossa vida também é outono? Quais certezas que temos? Nossas quedas são sempre perdas? O encontro é sempre enriquecedor? Nestes cinco poemas vamos refletir um pouco sobre isto. Estes poemas fazem parte do nosso projeto iniciado esta semana provisoriamente intitulado de Inflexões de Cantondes. 

A CERTEZA fala daquele amor prisional, do amor em meio a esta pauperização que estamos vivendo no Brasil. Qual a certeza que o eu-lírico tem nesta condição?

A LÁGRIMA NOS OLHOS traz um eu-lírico vagante pelo mundo e sua constatação de que uma lágrima em seus olhos pode causar mais danos que purificação quando não há amor verdadeiro.

A QUEDA NA FUGA segue a temática da desilusão. O fugitivo depara com lábios sedutores e aí se inicia a sua queda verdadeira.

AQUELA SIMPLICIDADE destoa dos demais poemas. Há aqui uma pegada inspirada em Arnaldo Antunes. O poema traz aquele quezinho de crítica a partir de uma nostalgia.

ENCONTRO O PARAÍSO fecha nossa pentalogia dando um alento com o romantismo. Pode ser aquele romantismo doentio? Pode. Mas vamos dar uma chance.


A CERTEZA

O que me inquieta tanto
São seus olhos caçadores
Buscando algo de papável
No meu coração tumultuado.
 
O que me puxa para baixo
É esta sua insistência no amor
Enquanto nossos armários
Carecem da migalha consentida.
 
Não consigo entender a paixão
Quando ela nos arranca a razão
E nos joga na cova das emoções
E eu fico cego tateando conflitos.
 
O que me atormenta tanto
São os vazios irreparáveis
Que ficam no peito pulsando
Ferido depois do seu carinho.
 
O que ainda me faz respirar
É a certeza de que dos seus braços
Eu jamais terei forças para fugir
E me fundir com uma calçada fria.


A LÁGRIMA NOS OLHOS

Eu não reviso os meus sonhos
Eu não refaço meus caminhos
Passo por momentos bisonhos
Pelas flores enfrentei espinhos
Mas tudo na vida vale a pena
Quando se luta com destemor
Mas se a gente não tiver amor
A lágrima nos olhos envenena
 
Eu não desprezo uma acolhida
Eu não menosprezo a paquera
Só para ter um prazer na vida
Aquela troca de carícia sincera
E um romance breve se encena
Para dissipar o nosso dissabor
Mas se a gente não tiver amor
A lágrima nos olhos envenena
 
Eu confesso que às vezes cansa
Vagar pelo mundo sem destino
Levando na mala desesperança
E no peito um quê de desatino
Finjo que seu sorriso me acena
E no meu coração alivio a dor
Mas se a gente não tiver amor
A lágrima nos olhos envenena


A QUEDA NA FUGA

Entreguei ao vazio
O que eu tinha de melhor
Um mar agitado
Dentro do meu coração
E aquele arco-íris de múltiplas cores
Em meus olhos.
 
Foi-se o que eu tinha de vital
Uma força hercúlea
Para trilhar caminhos impossíveis
Sem passos trôpegos
Sobre ladrilhos famintos
Em noites de lua duplicada.
 
Entreguei ao vazio
O que me fazia pulsar
Diante dos desafios seculares
Que lançam tristezas contra o peito
Fiquei de mãos empobrecidas
Acenando um adeus enxuto
Para o que eu tinha de melhor.
 
É que eu acreditei na velha promessa
Dita por lábios sedentos por fraquezas
Eu estava lá, presa fácil
Buscando fugas para minhas desilusões
Bastou aquele sorriso
E desde o primeiro beijo
Deparei-me com o precipício.


AQUELA SIMPLICIDADE

A careca encontrava o pente
A escova acariciava o dente
Era nosso dia com requinte
Que se repetia no dia seguinte
 
Mas um dia veio a velo-cidade
Engolindo a nossa feli-cidade
Nunca vi tamanha vora-cidade
Da fome com cara de fero-cidade
 
E o monociclo
E o monóculo
Foram soterrados
Por um vocabulário
Monossilábico
 
Já não se passeia mais no jardim
Já não se saboreia mais o pudim
Já não se teme o coronel Bim-bim
E dinheiro é chamado de dim-dim
 
Na pequena caixinha se via gente
Só de soletrar já se era inteligente
Aquela simplicidade tão pungente
Morreu diante do mundo urgente
 
E o monóculo
E o monociclo
Foram imolados
Por um imaginário
Monolítico


ENCONTRO O PARAÍSO

Impreciso
Imperfeito
É este amor por você
Dentro do meu peito.
 
Dele eu preciso
Nele me ajeito
Eu faço dos teus braços
O meu leito.
 
Céu poluído
Ar rarefeito
Mas em teu corpo
Eu me ajeito.
 
Indeciso
Quase rejeito
Em teus olhos bonitos
O meu espelho.
 
No teu sorriso
Que eu beijo
Encontro o paraíso
E seu desejo.


OUTRAS PÉTALAS SEMANAIS:








FONTE DA IMAGEM: www.nopontoaromas.com.br


sábado, 17 de abril de 2021

SETE FACES DOS POEMAS: CHÁ DAS CINCO (COLETÂNEA)

Através da página de ALKAS (Alcibíades Castelo Branco) no Recanto das Letras chegou a minhas mãos a coletânea Chá das cinco. Deparei com vários poetas conhecidos de leituras e comentários no referido site.

Na minha aprendizagem sobre resenhas ousei fazer a leitura destas pérolas que compõem o colar precioso que esta coletânea, organizada pelo Canal Comentando a Poesia e idealizada por Maurício de Oliveira, buscando conexão com o Poema de sete faces de Carlos Drummond de Andrade.

E sob esta ótica apresento mais uma postagem da série SETE FACES DOS POEMAS em....

Pelo fato dos poemas explorarem em sua maioria o romantismo, aprofundando em sentimentos e exaltando a pessoa amada, acabei encontrando relações com o modernismo drummondiano através de termos como sombras e luas, da busca por felicidade ou fazendo contraponto com o homem sério, simples e forte atrás dos óculos e do bigode.

 

FACE I

Sinto-me feliz como quem pede e alcança
Mas, algo estranho nega essa tal verdade
Tendo-te longe de mim como cruel castigo!

MARIA AUGUSTA S CALIARI em "SINTO-TE NU COMIGO DELICIOSO A FAZER ARTE!


À sombra da amendoeira, vestida de primavera
Cabelos soltos ao vento, sorriso largo no rosto
Rosas e jasmins nas mãos, estarei à tua espera.

APARECIDA RAMOS em DEIXA LÁ FORA OS RUÍDOS


Meu anjo possui asas,
Tem a índole dos céus,
Me segura pelas mãos,
Tira-me da escuridão;

MAURÍCIO DE OLIVEIRA em MULHER VIRTUOSA

O estranho, o diferente, que faz de Carlos um gauche aparece no poema de Sinto-te nu comigo delicioso a fazer arte!  de Maria Augusta S Caliari em que algo nega a tal verdade infringindo um castigo.

A sombra, onde vive o anjo torto de Drummond seve de local de espera para Aparecida Ramos em Deixa lá fora os ruídos. É o contrapondo em que a sombra da amoreira faz com o habitat do anjo torto que entorta destinos.

Já Maurício de Oliveira descreve seu anjo em Mulher Virtuosa. Um anjo que só não vive nas sombras, mas arranca o eu-poético da escuridão. É um anjo certo, reto, com índole dos céus.

FACE II

Ela não ia
Ele não vinha
No coração só tinha
A espera que doía!

SANDRA LAURITA em IMPASSES.


Madrugada fria e amedrontadora
Corro velozmente no bosque
Estou perdida entre as árvores
Ouço o piado da coruja agourenta
Meu coração sangra e lamenta
Tenho que encontrar meu amor

ANNA LUCIA GADELLHA em AFLIÇÃO

Cada vez que teus olhos
Procuram os meus
E já não há mais chão

SANDRA LAURITA em ONDA DE FASCÍNIO

A busca d’os homens que correm atrás das mulheres na segunda estrofe de Drummond é retratada aqui no impasse que tantas vezes ocorre nos versos de Sandra Laurita no seu belo poema Impasses. Uma procura transvestida de espera torna-se doída.

Já em Anna Lucia Gadelha o eu-lírico é como os homens, corre na aflição de encontrar a sua cara-metade, ainda que tenha que se aventurar no bosque, revelando um ambiente ultrarromântico. A aflição aqui descrita tem a intensidade da aflição relatada na paisagem urbana de Poema de sete faces.

Sandra Laurita volta em Onda de fascínio a falar desta busca que ocorre com o olhar que procura pelo outro. Já não há mais chão, é o desejo que interfere no ambiente como interfere na cor do céu.

 

FACE III

Que força oculta
transmitiu esse pensamento
amargo...
Que mecanismo detonou
essa brusca melancolia...
Que fenômeno criou
em mim essa dúvida,
que lembrança inventou
essa lágrima...!?

ALKAS em DE REPENTE ASSIM, TRISTE...

Eles, no chão.
Não é nenhum piquenique.
O lugar nem mesmo é chique!
Monturo...
Imundície e umidade;
miséria e fome; calamidade.

SEMPRE FELIZ em SÓ ESTÁ FALTANDO VOCÊ


Ela atravessou
a rua,
depois me atravessou...

DIVINO ÃNGELO ROLA em ISCA POÉTICA

 

A Vida passa e eu aqui tão só
Apesar de viver na multidão

NORMA A S MORAES em INSTROPECÇÃO

Assim como a primeira, a terceira estrofe de Poema de sete faces apresenta várias leituras. Em De repente assim, triste... ALKAS  traz a leitura do questionamento diante da perplexidade. A indagação é a espinha dorsal em Alkas e uma tônica de Drummond.

Já em Sempre feliz na parte inicial do poema Só está faltando você vai pelo caminho da observação. Assim como em Drummond, o mineiro no Rio de Janeiro, o poeta, também mineiro, observa o ambiente urbano com suas misérias.

Divino Ângelo Rola em uma de suas iscas poéticas sugere uma mulher caminhando pela rua no lugar do bonde, convergindo com Drummond na urbanidade.

As tantas pernas é uma metonímia que reflete a multidão. É nesta multidão que em Introspecção Norma Aparecida S. Moraes nos apresenta o sentimento de solidão enquanto a vida passa, um link perfeito com a Face IV, sintetizando a visão do poeta de olhar férreo.


FACE IV

Um jardim estéril e seco
Assim, assemelhava-se meu coração
Vivendo na mais triste solidão

LILIAN VARGAS em EM FLOR

 

Empresta-me um pouquinho do seu calor
só para aquecer minha alma dilacerada pela solidão ao frio,
buscado nos árticos celestiais de uma pandemia,
de um amor impossível de se viver.

TCINTRA em FIM DOS TEMPOS

Assim como lá, no poema que serve de ótica nesta série de descrição das obras poéticas, aqui em Em flor Lilian Vargas fala do eu-poético que transpira solidão a ponto de comparar seu interior com um jardim estéril e seco. Já TCintra contextualiza esta mesma solidão em Fim dos tempos com este momento de ares apocalípticos em meio a uma pandemia. Aparece em TCintras a mesma resignação do homem de óculos e bigode da quarta face de lá.

 


FACE V

Tempo, és senhor do destino
Faça um pacto comigo
Leva minha prece a Jesus Menino

ANNA LÚCIA GADELHA em TEMPO, TEMPO

 

Nesse paraíso de Adão e Eva
rajadas do vento tão ilusórias

SANCARDOSO em  UM TEMPO...

Explícita ou implicitamente, a religiosidade aparece na maioria dos poemas. No entanto a inquietude de uma alma religiosa encontrei mais presente Tempo, tempo de Anna Lúcia Gadelha e Um tempo de SanCardoso. Drummond parece fortalecer a Aliança com o sagrado quando repete as frases de Jesus na sua agonia. Aqui Anna Lúcia Gadellha quer um pacto com o tempo para que ele seja mensageiro da sua prece. Já San Cardoso evoca a imagem do paraíso para dizer que este mesmo paraíso agora sofre com a ilusão, ou com a atualização da mesma ilusão que Adão e Eva foram submetidos no Éden. A coincidência nos títulos dos dois poemas nos traz à lembrança o livro de exegese O tempo que se chama hoje, de Wolfgang Gruen. 

 

FACE VI

ela produz
sombra e frutos,
eu pratico,
amor e poesias.

DIVINO ÂNGELO ROLA em ISCA POÉTICA

 

No coração tinha fantasia
Na alma havia bondade
Ele era a própria poesia
Em vida não foi celebridade

ANNA LUCIA GADELHA em O POETA

O poeta de vasto coração aparece em mais uma Isca poética de Divino Ângelo Rola contrapondo seu fazer poético com o ela produz. Em O poeta de Anna Lúcia Gadelha temos a mesma vastidão na alma bondosa que faz do poeta a sua própria poesia e do não  reconhecimento que temos nas entrelinhas em rimas não é solução para a sobrevivência.

 

FACE VII

Em teu riso
vejo o colosso da lua.
Minha praia é sua.

DIVINO ÂNGELO ROLA em RIMA/RISO


Lua nova prateada
Colorindo a madrugada
Na paisagem emoldurada

Perto de ti só alegria
Esperando a poesia
Que chega ao fim do dia

SANDRA LAURITA em LUA DENGOSA

Sem o conhaque, a lua por si inspira bons -. É o que vemos em Rima/

Riso de Divino Ângelo Rola e Lua Dengosa de Sandra Laurita. É na comoção da proximidade com a lua que o poeta chega ao fim do seu dia de solidão no meio da multidão, de questionamento com sua religiosidade, da sua desilusão com o ofício de escritor, se encanta e se entrega: Minha praia é sua. Vendo a madrugada colorida para enfrentar o Éden carcomido e urbano do dia seguinte.

 

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SETE FACES DOS POEMAS DE

MÁRCIO MUNIZ

ANTONIO JADEL




 

 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

A BARGANHA

 



A BARGANHA

 

 — Não precisava ser assim. Alberto não merecia morrer. Tudo bem, ele era um fanfarrão, um inútil, imprestável, mas era meu irmão gêmeo.  Envenená-lo foi uma ideia absurda. Vê-lo bebendo seu vinho preferido enquanto pescávamos naquela noite, recordando nossa infância pobre no interior de Minas Gerais e aí ele vai caindo para trás apontando as estrelas no céu que dizia serem nossos pais foi o assassinato mais paradoxal que cometi. Depois, jogá-lo dentro da represa deu pena.
         — Ah é?
     — E aquele mendigo embriagado na calçada? Ver seus miolos sob os pneus da minha moto foi muito angustiante. Já não lhe bastava dormir ao relento e ainda tinha que morrer covardemente assim? Eu mal imagino qual seja o seu nome. E ele certamente mal imagina o motivo que me levou a esmagá-lo. No dia seguinte li no noticiário em canto de folha de jornal. Falou-se dele como se fala de um animal morto ao acaso. Eu não me perdoo por isso.
         — Mas faz parte da nossa barganha. Eu te dou riquezas e proteção e você me dá mortes.
         — Com Munique foi mais difícil, eu amava de fato aquela mulher. Depois de dois anos a tendo por amante eu pensava em assumir nosso relacionamento. Desistir das demais e ficar somente com ela. Ela me acompanhou até aquele bosque para um piquenique. Eu a estrangulei com as mesmas mãos que tanto acariciei seu corpo macio. Vê-la arregalando os olhos diante dos meus enquanto sua vida se esvaía foi frieza demais da minha parte.
         — Ah, agora você tem pena? Agora você se arrepende? Vai lá. Entrega-te para a justiça dos homens. Você vai ver o que vai acontecer. Trinta e dois assassinatos sem autoria comprovada e de repente o famoso empresário se entrega. Que sensacional!
         — Vou sim. Primeiro eu reconheço a paternidade do meu filho que mora em Minas. Passo toda minha fortuna no nome dele. Depois contrato um bom advogado e no máximo eu vou ser internado no manicômio e lá viverei o que me resta da vida lendo os livros que sempre tive vontade de ler.
         — No manicômio? — gargalhou. — não te dou três dias, meu caro. Como que você acha que o diretor do manicômio se enriqueceu? Não foi sendo mero funcionário público. Três dias no máximo.
         — Poxa vida, você pensa em tudo.
         — Fez pacto comigo, aguenta. E só para te informar. Seu filho, que você ainda não teve coragem para reconhecer, acaba de morrer atropelado por uma carreta desgovernada perto de Manhuaçu.




PARA VOCÊ QUE ME DEU A HONRA DA SUA LEITURA