terça-feira, 30 de agosto de 2016

A ÚLTIMA RECONCILIAÇÃO - CAPÍTULO 07

ATENÇÃO: IMPRÓPRIO PARA MENORES DE 18 ANOS.

Se você não leu ainda, sugerimos que você leia os capítulos em sequência a partir do primeiro: CAPÍTULO 01
O domingo amanheceu meio emarasmado. Marli espichou-se na cama, sentou, fez o sinal da cruz com tanta pressa que seu gesto parecia mais um círculo que uma cruz. Trocou o baby-doll por uma bermuda de jeans batido e uma camiseta azul lisa. Depois de fazer o toalete e tomar seu café, começou a varrer a casa.
Estava varrendo a calçada quando Carlinhos passou de bicicleta. Olhou para ela e sorriu.
-Engraçado. Riu por dentro lembrando-se de Juninho. Não soube por que murmurou aquele “engraçado”. Talvez quisesse dizer coitado. Sentia pena. Não devia ter traído Carlinhos. E se ele ficasse sabendo?
À tarde Celina apareceu em sua casa com uma fita cassete para as duas ouvirem. Era uma coletânea de músicas lentas internacionais.
A certa altura, Celina perguntou séria para Marli.
-Você terminou com Carlinhos?
-Não. Por quê?
-Ontem vi só ele na praça.
-Ah! Fui a um aniversário.
-Pensei que vocês tinham terminado porque vi ele... Ah. Deixa pra lá. Falou Celina confusamente.
-O que Celina? Agora fala que você me deixou curiosa. Interessou se Marli.
-Como foi lá no aniversário? Tentou desviar o assunto.
Marli mesmo interessada em saber o que Celina tinha visto na praça, não quis encher a amiga de perguntas secas e diretas. Mais tarde Celina acabaria contando. Por isso resolveu responder.
-Foi legal. Se eu te contar uma coisa, jura que vai ficar só entre nós duas?
-Claro que juro.
-Conheci no aniversário um cara lá do Rio. Ele é primo da Deyse.
-Bonito? Perguntou Celina.
-Gatinho.
Perguntou de novo Celina.
-Ele ficou com alguém? Celina ainda não havia entendido nas entrelinhas aonde Marli pretendia chegar.
-Ficou. Advinha com quem?
-Não faço a menor ideia.
-Comigo. Marli ficou séria e prestou atenção na reação da amiga. Celina reagiu surpresa.
-É verdade? Então você terminou com Carlinhos? Celina ainda não estava entendendo nada.
-Não Celina. E aí é que tem uma coisa. Eu não devia ter ficado com ele. E se agora Carlinhos ficar sabendo é capaz de terminar comigo. Eu não queria que fosse assim. Marli viu que havia algo de estranho em Celina que abriu um imenso sorriso e anunciou que ira contar o que tinha visto na praça.
-Marli, já que você contou o que você fez, eu vou te contar o que eu vi ontem. Carlinhos ficou com uma garota morena, aquela que anda com a Juliana que trabalha no caixa do supermercado. Então ele também te traiu. Ficou pau a pau.
Marli ficou confusa. Não soube o que dizer. Parecia que tinha levado uma bofetada na cara.
Passaram a prestar atenção no ritmo da música e daí a pouco tempo Celina foi embora.
À noite Marli estava ansiosa pra ver o que ia acontecer.
Aconteceu que Carlinhos estava com a tal garota que Celina falou. Marli teve uma vontade louca de encontrar Juninho. Queria que Carlinhos a visse com o carioca. Ficou dando volta sozinha. Celina estava de paquera nova.
Encontrou Juninho já na companhia de uma garota do grupo de adolescentes. Marli começou a sentir no coração as surras que a gente leva no amor. Sentiu-se sozinha e a pessoa mais infeliz do mundo. Foi embora mais cedo e quis dormir para esquecer aquele dia.
Três meses se passaram. Marli continuava trabalhando no mesmo lugar. Às vezes achava seu trabalho inútil. Todo dia limpava a casa e todo dia a mesma casa precisava ser limpa novamente.
Marli olhava com certo desprezo para Lauciene, filha da patroa. Moça grossa e um tanto rude essa tal de Lauciene. Acordava sempre tarde, ouvia muito rock, pintava uns quadros num ateliê improvisado em um cômodo nos fundos do quintal. Era bem desorganizada. Roupas pelo chão, cadernos abertos em cima da cama, até absorventes usados misturados com o resto da bagunça. Marli quase fazia vômito ao entrar no quarto para fazer a faxina.
Os quartos dos irmãos de Lauciene eram mais bem organizados. Destes Marli não tinha nenhuma repulsa. Mantinha certa distância dos rapazes bem como de Lauciene.
Guido, o mais velho, estava para se formar na faculdade de administração no fim do ano. Dizia as más línguas que ele já era papai. Namorava uma moça loura, que quase todos os dias, ia a casa dele pela tarde. Trancavam-se no quarto. Algumas vezes Marli ouvia alguma coisa que a levava a imaginar que estavam transando. Mas não arriscava a fazer tal afirmação.
Geovane era caçula. Dezessete anos. Cursava o ensino médio de técnico em contabilidade. Era um rapazinho meio esquisitinho. Tinha um amigo chamado Tony e os dois só andavam juntos.
Era por volta das duas da tarde e Marli faltava apenas fazer a limpeza dos três quartos ocupados pelos jovens da família. Agora já fazia cinco meses que tinha rompido com Carlinhos e daí até esse dia apenas uma paquerinha com um rapaz chamado Genivaldo que não lhe agradou.
Marli foi se aproximando do quarto e ouviu algo parecido com o que ouvia quando Guido e sua namorada se trancavam. Uns gemidos de dor misturado com prazer. Uns gemidos que a fazia ficar excitada e louca de vontade de ser possuída por um homem. Ela nunca havia transado. Apenas se masturbado de leve. Ainda conservava o hímen que não rompera com as excitações clitorianas. Permitia carícias nos seios e não mais nada que isso. Sua cabeça encheu-se de curiosidade.
Os gemidos estavam vindos do quarto de Geovane. Mas com quem? Não se lembrava dele entrando com nenhuma garota em casa. Será que ele estava se masturbando ou vendo filme pornográfico? Não resistiu. Olhou pelo buraco da fechadura. Quase não acreditou na cena diante dos seus olhos. Não era masturbação e nem cenas de vídeos pornográficos. Bem que ela no fundo sempre desconfiara de Geovane, agora estava vendo com seus olhos azuis. Geovane e Tony estavam transando. O filho de sua patroa era o passivo. Ali, nus, estavam os dois. Marli ficou atônita. Não sabia o que fazer. Decidiu guardar segredo. Toda vez que via Geovane lembrava-se do fato que vira.

-Pior que o peste é até bonitão. Quem diria que ele é gay? Mas quem disse que gay tem que ser feio? Pensava enquanto espanava os livros na estante.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

TODOS NA CIDADE


A cidade flutuando
Sobre os esgotos
E de todos os gostos
Há de tudo
O que é simples
O que é absurdo
Mudos, surdos e cegos
Mulatos, brancos
Morenos, negros

Bandeiras do flu
Bandeiras do fla
Bandas de música, bandas de rock
Bundas de fora, bundalelê logo ali
Bandidos, banidos e banguelas
Todos na cidade
Todos são cidades de nascimento
Todos somos narcisos
Vendo nossas imagens
Nas margens dos esgotos da cidade

domingo, 21 de agosto de 2016

ENXERTIAS POÉTICAS

COMO LER
TIQUIM ENXERTADO

Tiquim enxertado é essencialmente minimalista. É o mínimo quero expressar o máximo. Cada tiquim é composto de dois versos, o 1ª verso deve ser uma sentença. Ter um sentido em si. O 2º verso é composto de apenas uma palavra ou duas, se for dissociação da última palavra do primeiro verso. Exemplo: supernova (super nova), supervisão (supervisão), ou um verbo precedido de pronome oblíquo. (me amassa).
O único vocábulo do segundo verso recebe complemento (em negrito) ou suplemento, quando fonemas são trocados no início, meio ou fim do último vocábulo do primeiro parágrafo. Os suplementos aparecem entre parênteses. A raiz que se repete fica em itálico.
Complemento:
Encontrei um conhecido e ente
................................parente

 veja que o termo ente em itálico tanto no primeiro quanto no segundo verso e o complemento par em negrito.

Suplemento:
Teu esforço a gente [s]ente
.................compla[c]ente

Veja que o fonema produzido pelo esse de sente é foi suplementado no segundo verso pelo cê de complacente.

Leia um tiquim por vez. Faça sempre uma pausa após a leitura do tiquim enxertado e deixa a imaginação (a imagem em ação) tomar conta da sua mente e busque a dramaticidade ou o humor que há em apenas dois versos. Esse é o desafio do tiquim enxertado. Passar muito em poucas palavras.

Boa
leitura!


A VENDA EM: Confira minha obra publicada no Clube de Autores em

A ÚLTIMA RECONCILIAÇÃO - CAPÍTULO 06


CAPÍTULO VI
SUGESTÃO: Se você está começando a ler agora nossa novela, vá ao capítulo 01.


Três meses se passaram. Marli e Carlinhos estavam se gostando cada vez mais. A canção que havia nos sussurros de amor e nas palavras ditas pelos olhos estava cada vez mais afinada. Encontravam-se todos os finais de semana. Marli voltou a participar mais frequentemente das missas aos domingos e do grupo de adolescentes. Algumas vezes Carlinhos, com dezoito anos, foi ao grupo de adolescentes a convite dela. Não se sentia bem, pensou em entrar em um grupo de jovens.
Os encontros entre eles eram sempre iguais. Começavam com um oi, ficavam a sós, beijavam-se, abraçavam-se, despediam-se e ia cada um para a sua casa. Porém, de vez em quando, ela tentava quebrar a monotonia, desafiava a comodidade e arriscava uma carícia mais ousada. Nem o beijo no pescoço ele dava. Ela sim, cansada de esperar pela iniciativa dele, agia. Se a canção ficava cada vez mais afinada, era a ousadia de Marli que ditava o ritmo. Da parte dele só um brilho nos olhos e a presença perfumada.
Mais três meses se passaram. Marli já começava a ficar cansada da monotonia. Era legal ficar com Carlinhos. Mas dele não vinha nenhuma novidade. Ele sempre era o mesmo. Ela gostava de acariciar seu peito peludo, de beijar seus lábios carnudos. Mas ele parecia não gostar e recusava terminantemente acariciar os seus palpitantes de Marli, roçar suas coxas. Era só alguns beijos e abraços e nada mais.
Em certo sábado, Marli foi a um aniversário com o grupo de adolescentes. Carlinhos não foi.
Depois da celebração, o costumeiro comes-e-bebes e o bate-papo para passar o tempo.
Marli reparou que dois olhos estranhos a ela a acompanhava por onde ela fosse. Tentou fingir que não tinha percebido. Tentou discretamente estudar o rapaz que não tirava seus olhos feitos duas jabuticabas de cima dela.
_Até que é bonitinho. Falou silenciosamente consigo.
_Quem é aquele cara ali? Perguntou para uma colega do grupo.
_É o primo de Deyse.
Marli chegou a pensar que era alguma paquerinha de Deyse, pois estava com ela. Agora sabia por quê.
_Já que era só primo, bem, Flávia não disse que era só primo, mas deve ser só isso pelo jeito. Se fosse paquera de Deyse não estaria me olhando assim tão descaradamente. Continuou falando consigo.
Cinco minutos depois se aproximou de Deyse. Sabia que seria bem acolhida pela moça de blazer vermelho. Ela sempre fora muito afetuosa e legal. Nas reuniões do grupo era sempre a mais loquaz.
Chegou deixando um sorriso aflorar nos lábios. Deyse acolheu-a com um “oi Marli” que saiu macio, deslizando no seu batom. Os olhos de jabuticabas do rapaz ao lado arregalaram-se.
Ele disse implorando:
_Prima, apresente-me sua amiguinha.
_Marli, este é o meu primo. Falou Deyse estendendo o braço em direção ao rapaz.
_Marli, muito prazer. Falou a recém-chegada esticando o pescoço para receber os lábios do rapaz que tocaram de leve.
_O meu nome é Juninho. Falou o de olhos de jabuticabas com calma.
Marli nem percebeu a retirada de Deyse, deixou-se envolver pelo encantamento dos olhos negros.
_Você mora aqui perto? Procurou o rapaz esticar assunto.
_Moro, quer dizer, não é tão perto assim. Uns vinte minutos a pé. E você, onde mora?
_Eu moro no Rio e estou a passeio aqui em Mutum.
_Já conhecia a nossa cidade?
_Não. Mamãe é que é daqui. Ela é irmã da mãe de Deyse.
_Está gostando do passeio? Perguntou. Marli, antes de ele dizer que era do Rio, já tinha notado seu sotaque acariocado.
_Poxa, aqui é tranquilo. Estou gostando a bessa.
Sorriram juntos.
Marli sentiu os dedos do rapaz preenchendo os espaços vazios entre os seus dedos da mão esquerda. Puxou sua mão para cima e o rapaz entendeu que aquilo era um “não posso”. Talvez um “aqui não”.
Cruzou os braços e olhou nos olhos de Marli que baixou seus olhos para fugir dele. Não resistiu muito tempo olhando o par de Nike do rapaz. Preferia o seu rosto. Mirou-o bem nas sobrancelhas e constatou que ele ainda a olhava nos olhos. Olhou para dentro da sala. Estavam na varandinha que também servia de garagem e viu um pequeno grupo de colegas seus dançarem ao som de uma música pop. Olhou para a rua e viu um homem que caminhava cambaleando. Estava bêbado na certa. Olhou para o rapaz e constatou que ele, Juninho, do Rio de Janeiro, ainda estava fitando seu rosto redondo. Teve vontade de abraça-lo e beija-lo. Sabia que ali não. O grupo todo sabia que ela namorava o Carlinhos. Teve vontade de explicar isso para Juninho, mas faltava ainda um pouco de certeza de saber que realmente ele estava afim dele, se era verdade aquilo que seus olhos diziam. Podia ser só impressão dela.
Marli resolveu ir embora. Não exitou em convidar Juninho para lhe acompanhar. Ele não exitou em aceitar o convite. Saíram os dois. Ela disse que gostava do Roupa Nova. Ele disse que gostava do Kid Abelha e dos Paralamas.
Ao passarem perto de uma árvore, foram envolvidos pela sombra. Pararam, olharam um para o outro. Entenderam-se. Aproximaram-se. Abraçaram-se e se beijaram.
Afastaram um pouco e suspiraram. Voltaram a se abraçar e a se beijar. Entregaram-se aos desejos do coração.
Marli reconheceu que não ficava bem ser vista ali por um conhecido. Agora tinha certeza de que ele estava afim dela e resolveu falar da existência de Carlinhos.
_Deixe me ir. Falou mansamente.
_Fica mais. Está legal aqui cm você.
_Não posso. Tenho namorado.
_Ah! Entendi. E tinha entendido mesmo.
Só mais um beijinho de leve e se separaram.

Marli chegou a sua casa um pouco tarde. Já eram dez e meia e sua mãe a esperava vendo filme. O namorado da irmã já tinha ido embora. Entrou pela sala e antes que a mãe falasse alguma coisa, beijou-a no rosto.

ALDRAVIAS PREMATURAS FLORADA II

SEGUNDA FLORADA
PARTO XIX


Falta
Sinais
Digitais
Sobra
Sinais
Apocalípticos


Sentindo
Cólicas
Renais
Sem
Incentivos
Fiscais


Falando
Alto
Em
Alta
Madrugada
Drogada


Tudo
Dissolve-se
Nesse
Sol
Muito
Insolente



Pelas
Ruas
Impregnadas
Por
Luas
Transloucadas



Sementes
Malditas
Semeadas
Em
Quintais
Sagrados



Peito
Ofegante
Perante
Fogo
Fátuo
Pré-fabricado


Se você gosta desse estilo de poesia baixe em PDF a PRIMEIRA FLORADA EM
RECANTO DAS LETRAS

sábado, 20 de agosto de 2016

ENXERTIAS 271 a 280













T.E.271
A vida é um emaranhado de fios
.................................desafios

T.E.272
Sentia-se torturado pelas mu[l]tas
....................................mu[i]tas

T.E.273
Depois que assinaram ficou tudo quite
.........................................desquite

T.E.274
Mesmo namorando só na sala
..............................acasala

T.E.275
Toda vez que eu te [ab]raço
.....................me em[ba]raço

T.E.276
Na horta mesmo com o sol a pino
.....................................pepino

T.E.277
Suspeite quando ela pedir um pente
......................................serpente

T.E.278
Quando o fotógrafo vê uma foca
..................................enfoca

T.E.279
Há outra questão além da faixa etária
......................................monetária

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A ÚLTIMA RECONCILIAÇÃO - CAPÍTULO 05


(SUGESTÃO: Se você ainda não leu os capítulos anteriores, leia a partir dos links: 01,02,03 e 04.



Sexta-feira. Marli adiava o máximo que podia o fim da felicidade do dia anterior. Não ficou presa nos momentos desagradáveis daquele dia. Voltou alegre para casa e não achou a faina pesada.
Chegando a sua casa, tomou suco de abacaxi e procurou logo o chuveiro. Sentada na calçada, ficou esperando Carlinhos passar a qualquer momento. Esperou um bom tempo e ele não passou. Voltou para ver a novela.
Seus pais saíram e ela ficou apenas com a irmã que puxou assunto.
_Hoje a tia Joana esteve aqui em casa.
_Sozinha? Perguntou Marli.
_Sim. Eu perguntei pelo José Roberto e pelo jeito ele te enrolou. Tia Joana disse ele está paquerando uma moça de lá mesmo.
Marli recebeu a informação surpresa. Um nó desceu-lhe pela garganta. Engoliu seco. Recompôs-se logo em seguida lembrando-se de Carlinhos.
O fim de semana chegou e um fato alegrou Marli. Seus pais iram passar o domingo na roça. Vão ficar as duas moças em sozinhas. O irmão caçula também vai passear com os pais.
Sábado à noite, pracinha. Era a chance, a grande chance de Carlinhos. Só se Carlinhos não quisesse. Ela sabia que ele não tinha nenhum caso, a não ser que fosse muito secreto. Secreto demais. Ela ainda não tinha digerido bem o golpe dado pelo José Roberto.
Não foi difícil localizá-lo. Ele sempre fica no mesmo lugar com mais dois amigos. Marli sentiu uma tremedeira nas pernas quando ia passando perto dele. Controlou-se. Olhou para ele e sorriu. Sorriso correspondido. Era a senha. Deu mais uma volta para ver no que daria. Deu certo. Ele desacompanhou-se dos amigos e ficou só. Ela aproximou. Deram-se as mãos. Não precisou preocupar-se com Celina. Ela já estava preparada e soube o que fazer.
Daí a alguns instantes parecia existir um mundo único, exclusivo, para Carlinhos e Marli. Beijaram-se, abraçaram-se, beijaram-se, abraçaram-se...
Conversaram um pouco, coisas banais. O que de sincero tinham para revelar um para o outro, não era preciso ser dito. Estava tudo escrito nos olhos como propagandas em um outdoor.
As mãos pequenas de Carlinhos explorou cada detalhe do rosto de Marli e ela conteve-se só com os beijos e abraços. Não tentou nenhuma carícia mais ousada. Deixou a iniciativa para ele que em nada ousou. Talvez tenha sido pelo fato de estarem na pracinha. Foram embora juntos e a única coisa que Marli precisou dizer, pois não coube escrito em seus olhos, foi sobre a ausência dos pais em casa no dia seguinte. Isto é, no dia seguinte também. Combinaram de se encontrar às duas as tarde, na casa dela.
Domingo, quando Marli acordou os pais já haviam saído. Espreguiçou na cama. A irmã havia se levantado. Abraçou o ursinho que ganhou da madrinha quando completou doze anos. Lembrou-se que daí a alguns dias completaria seus quinze.
Encostou o ursinho de pelúcia de lado. Descobriu-se e nem preocupou em vestir-se. Foi para o banheiro trajando o mesmo vestuário que passou a noite dormindo: Apenas uma calcinha creme e um sutiã branco que cobria o par redondo de seios, também brancos.
A irmã mais velha quando a viu, estranhou. Mas logo passado o primeiro impacto, achou normal o que as vezes também fazia.
Depois de escovar seus dentes, banhar o rosto e pentear os cabelos, voltou para o quarto. Colocou a bermuda laranja de cotton e uma camiseta amarela com um surfista fazendo uma acrobacia na estampa e o nome surf em letras vivas. Tomou o café da manhã comodamente e começou a ajudar a irmã nas tarefas cotidianas de uma cozinha que não conhece feriados e nem domingos. Por um bom tempo esqueceu o encontro à tarde.
Só quando estava almoçando é que se lembrou. Olhou para o velho relógio de parede e constatou que faltavam apenas uma hora e meia. Apressou as garfadas e não quis ajudar a irmã na lavagem das louças. Descansou esperando o tempo passar. Cochilou e acabou adormecendo.
Acordou. Foi à sala e dessa vez somente vinte minutos a separava de Carlinhos.
Depois de um banho caprichado e de perfumar-se com uma colônia de aroma agradável, estava pronta e distante apenas dois minutos do rapaz que chamaria pelo seu nome e ela abriria a porta. Diria um oi, uma boa tarde, um não sei lá o que. Diria alguma coisa que não fosse desagradável e cairia bem. Na hora saberia o que dizer. Essas coisas a gente não precisa ficar ensaiando. Não é teatro, ficção. É verdade, a doce verdade em alguns momentos da vida.
Os dois minutos passaram como se fosse dois dias. Agora era realíssima a voz lá fora que chamava por ela. Respondeu um oi que certamente Carlinhos não ouviu do outro lado da porta.
Porta aberta, aperto de mãos e um único sorriso estendido entre as duas bocas. Sentaram-se no sofá e seus olhos se encontraram. Encontraram-se também as mãos e os lábios.
Depois de alguns beijos, Marli sentiu a mão do rapaz, que deixou de acariciar única e exclusivamente o seu rosto, na carne do seu pescoço. A suavidade de suas mãos curvou em direção à nuca. Seus lábios deixaram os lábios dela e ela ficou esperando que ele beijasse sua região auricular. Como ele não a beijou na localidade esperada, ela é que bombardeou o pescoço dele com beijos e toques de língua fazendo o rapaz sentir uma descarga de hormônios dentro de si. Ele não retribuiu esse carinho, provocando certa frustração em Marli. Então ela se aproximou mais dele e jogou-se toda sobre os seu corpo. Os dois quedaram, indo de encontro a uma almofada no canto do sofá.
Como num facho de lua cortando a escuridão, veio à memória de Marli o que dizem a respeito dos peitos peludos. Cautelou-se antes de tomar mais uma iniciativa. Mas havia um forte desejo pedindo para sair de dentro do seu coração. Enfiou suas mãos sob as listras largas nas cores azul e branca alternadas da camisa do rapaz. Seus dedos começaram a passear sobre a relva de pelos negros. Pensava ela consigo:
_Se ele quiser tocar nos meus seios, deixou ou não? Se minha irmã nos flagrar numa carícia mais íntima, o que eu vou falar?
Mas não, ele não quis tocar nos seios dela. Ficou contente só com os beijos e ela no fundo não fazia questão de tal carícia.

Cinco horas da tarde despediram-se em mais um beijo longo e ele foi embora. À noite ela não saiu. Resolveu descansar.

sábado, 13 de agosto de 2016

A ÚLTIMA RECONCILIAÇÃO - CAPÍTULO 04

(NOTA DO BLOG: Se você ainda não leu os capítulos anteriores, sugerirmos que você leia primeiro. Links: 010203)

Segunda-feira preguiçosa, enjoativa, Marli não se sentia bem. Preferia não ter ido trabalhar. Mas foi. Agora é esperar o dia passar. Esfregava o pano quase úmido na cerâmica como quem quisesse desenterrar de baixo da poeira o rosto de alguém. De alguém que se chamava José Roberto.
_Por que não veio? Perguntava para si mesma e tentava responder.
_Não foi por querer. É como Celina falou: Mais cedo ou mais tarde eu vou saber.
Chegou a hora de ir embora. Não tinha porque ficar ali. Já cumpria sua tarefa. Já garantira para aquele dia o pão de cada dia. Apressou o passo para chegar bem rápido em casa. Queria mesmo era tomar um bom banho e dar uma boa esticada no corpo. Seus ossos doíam como se tivessem sidos torturados. Caminhava a passos largos e tão presa a seus próprios pensamentos que nem pressentiu a aproximação da bicicleta de Carlinhos.
Carlinhos fez questão de tirar fininho na moça. Claro, era só para chamar atenção. Não estava treinando para alguma disputa de bicicross e nem estava usando-a como baliza. Era só para chamar mesmo a atenção e chamou. Ela se assustou, mas não entendeu o que Carlinhos queria. Não resistiu o rosto dele virado para ela e sorrindo. Sorriram juntos e foi só.
Chegou a sua casa. Tomou banho para se livrar do suor misturado com poeira e desencanto. Descansou um pouco.
Quarta-feira. Marli estava confusa. Agora era José Roberto e era Carlinhos em sua cabeça. Tentou se esquecer do segundo, mas não conseguiu. Se for só para chamar a atenção que Carlinhos tirou aquele fininho de bicicleta nela, chamou. Se tivesse sido só para dizer para ela que ele existia, disse e as palavras expressas naquele olhar agora ecoavam na sua mente. Se tivesse sido só para plantar uma sementinha para ver se germinaria, plantou e ela começava a germinar. Se tivesse sido para deixar registrado alguma lembrança, conseguiu. A imagem daquele sorriso ficou gravada no pensamento de Marli. Tentou ser justa com os dois. Era a única coisa que podia fazer. Dividiu o tempo democraticamente como se divide esse tal de horário político. Resquícios da maldita ditadura militar. José Roberto tinha direito de ter mais tempo. Tinha a seu favor dois momentos como representação, ao passo que Carlinhos tinha apenas o fininho de bicicleta e aquele sorriso sob o olhar penetrante.
Contou para a irmã. Agora tinha dentro de casa alguém com quem compartilhar os sentimentos. Não precisava mais esperar por Celina. A irmã estava ali. Três anos mais velha, experiente, namorava sério em casa. Já tinha passado por tudo isso que Marli estava passando agora.
_O que vou fazer? Perguntou Marli depois de expor a situação para a irmã.
_Se eu fosse você, daria uma chance para Carlinhos. Ele me parece ser um cara legal.
_E o José Roberto?
_Olha. Você não é culpada se ele não pode vir domingo. E depois, vocês só tiveram uma paquera. A gente só precisa ser fiel quando a coisa se torna séria. Coisa de compromisso. Uma paquera apenas não é digna de fidelidade.
_E como vou me encontrar com Carlinhos?
_Sei lá. Bola um jeito.
_Não tenho nenhuma ideia. Só se for lá na pracinha.
_Que tal na casa dele. É só fazer amizade com a Carol.
_E aqui em casa? Indagou Marli revirando-se sobre a cama apoiando seus seios sobre o travesseiro.
_Só se for um dia que nem papai e nem mamãe estiver presente e se ele topar. Arrematou a experiente irmã que paquerou todos os rapazes da vizinhança e agora parecia querer ensinar a irmã os macetes e truques para torna-la uma garota desejada. Riram simultaneamente e Maria repetiu o riso batendo levemente nas costas da outra.
_Juízo Garota. E saiu.
Marli abraçou apertadamente o travesseiro e pensou em Carlinhos. Ouviu dizer que era excitante acariciar um peito peludo e Carlinhos o tinha. Aquele rosto moreno forte, aqueles cabelos e olhos castanhos. Aqueles lábios carnudos ela os queria para si neste momento.
Deu asas à imaginação. Fantasiou um encontro numa cachoeira que ela conhecia. Imaginou-se beijando os lábios salientes de Carlinhos. Acariciando os pelos que José Roberto, loiro, não tinha. Arrependeu de ter colocado José Roberto na cena. Forçou um pouco e o tirou do script. Voltou a ficar a sós com Carlinhos na tarde ensolarada.
Decidiu parar com a imaginação. Saiu para a rua e deu de cara com Carol. Não exitou. Disse um oi simpático com a moça que correspondeu com um olá acompanhado de um sorrido.
_Bem. Já é o começo. Pensou consigo.
Voltou para dentro, sentou-se no sofá e começou a assistir novela.
Quinta-feira. Marli estava decidida. Na primeira oportunidade daria uma chance a Carlinhos e uma chance a si mesma. Achou engraçado o modo como pensava e falava de si. Até parece que já havia paquerado várias vezes. Não, sabia que não. As vezes esquecia. Mas no fundo sabia persistia a certeza que aquele sábado na roça com seu primo fora a primeira e única vez até aqui. Celina, um ano mais velha, já havia paquerado muito e com vários rapazes. Ela, porém, só aquela vez e agora buscaria uma segunda oportunidade.
Chegou à janela e deixou ficar-se um pouco. Daí a alguns instantes passou Carlinhos que a olhou e deixou florescer um sorriso nos seus lábios. Marli correspondeu. Carlinhos não pensou duas vezes. Manobrou a bicicleta e aproximou-se da janela.
_Oi.
_Oi.
Olharam mutuamente nos olhos um do outro e Marli até esqueceu que havia um pedaço de parede entre eles.
_Aquele dia você se assustou? Perguntou o rapaz para que o diálogo não ficasse só no oi.
_Segunda? Não.
_Depois fiquei pensando se não foi vacilo eu ter feito aquilo.
_Ah! Então você se arrependeu.
_Se tiver te assustado, eu me arrependo e te peço desculpas.
_Bem. Assustar. Até que assustou, só que o teu sorriso me acalmou.
_Nunca pensei que meu sorriso pudesse substituir um calmante. Disse humorizando o diálogo. Marli que tinha falta de jeito para isso. Encontrou um jeito agora, sabe se lá onde.
_Sabia que os calmantes viciam? Quanto mais você toma, mais dependente você fica.
_Sabia, respondeu o rapaz.
_O teu sorriso também é assim. Achou que já estou viciada só com aquela dose.
_Pode deixar. Pode ficar tranquila. Se depender de mim, sorrisos não vão te faltar.
_...
_Bem. Preciso ir embora. Falou, mas não se movimentou. Só percebeu a aproximação do rosto redondo de Marli com os olhos cerrados. Beijaram-se. Repetiram o beijo e ele se foi.
Do outro lado da rua, uma mulher fechou a janela com força só para dizer que foi testemunha do ocorrido. Mas Marli pouco se importou. Estava feliz.

Assim que teve oportunidade, contou à irmã. Esta também se alegrou. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O APOCALIPSE QUE OS MAIAS NÃO PREVIRAM

O APOCALIPSE QUE OS MAIAS NÃO PREVIRAM


Maria, muito linda, prestava atenção no professor. Queria conhecer a história da civilização maia.
João, muito louco, prestava atenção em Maria. Queria conhecer a geografia do seu corpo.
Terminado os estudos, João foi para os States. Em quatro anos por lá duas más notícias. A morte da mãe e a deportação.
Voltou para casa em 21 de dezembro de 2012. Abraçou saudosamente seu pai.
_Que bom que você retornou filho.
_É o caso, né papai. Alguma novidade?
_Sim, vou te apresentar sua nova mãe. Maria.

Aí foi o fim do mundo para João.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

A ÚLTIMA RECONCILIAÇÃO - CAPÍTULO 03


No trabalho ou em casa, Marli contava às horas que passavam lentamente. Sua colega de trabalho já começava a comentar como Marli ultimamente andava desligada. Já não caprichava mais na faxina como antes. Marli desejava que o tempo triplicasse a velocidade, que o sol não demorasse muito tempo contemplando o mundo de sempre. Caminhando pelas ruas, eram frequentes os tropeços em pedras e em objetos de forma atabalhoadamente pela calçada em pelas ruas sem pavimentação. Trafegava pela cidade sem a costumeira preocupação e sem o precavido costume de olhar a para os lados. Parecia que naqueles dias ela estava vivendo no mundo da lua ou em qualquer outro astro do universo, menos no planeta Terra.
Assistindo as novelas, vibrava intensamente com as cenas de amor. Imaginava ela e seu primo vivendo as mesmas cenas que os atores. Contos de fada povoavam a cabeça da pequenita jovem suburbana de uma cidade do interior. Diríamos até que o amor mora em Mutum e encarnou-se em Marli.
Chegou o fim de semana, finalmente, que determinaria a metade do tempo para Marli encontrar o seu Romeu. Foi comum no começo, sem novidade. Marli não queria novidade. Mas quando planejamos e esquematizamos nossos dias, marginalizamos as novidades, o imprevisto.
Único dia de folga da faxineira. Sábado passado foi concessão dos patrões. Marli pela manhã ajudou em casa. Fez a faxina, descansou e cortou os legumes e ajudou na copa após o almoço.
A sua tarde foi ocupada ouvindo música. Ouvia de Zezé Di Camargo e Luciano a Tracy Chapman. Sonhou acordada com o primo. Beijou-o, abraçou-o, excitou-se. Amou-o sozinha na sua cama. Pensou: “O que seria dos apaixonados se não fosse a imaginação.” Suspirou fundo escutando os beijos que sua irmã estava saboreando com seu namorado na sala.
Sentiu sua bexiga cheia. Foi ao banheiro. Sentada no vaso sanitário urinou relaxadamente. Em outras ocasiões detestaria ter que urinar. Julgava as mulheres inferiores por ter que fazer essa necessidade fisiológica sentada ou agachada. Desta vez não se inferiorizou, não ridicularizou as limitações anatômicas das fêmeas. Começava a gostar de verdade de ser mulher. Demorou a perceber que sua bexiga já havia se esvaziado. Não sentia vontade de levantar. Resolveu ficar mais um pouco ai com as pernas abertas como se estivesse testando a elasticidade da bermuda e da calcinha arreadas até o joelho.
Sentiu o vento quente roçar os seus lábios vulvares. Achou interessante uma gota de urina cintilando na ponta de um dos pelos próximos à rubra caverna de sonhos e de vida. Sua mão direita começou a tatear a suavidade branca das partes internas de suas coxas. Começou a sentir uma excitação tal qual a provocada por aqueles beijos dentro da orelha há nove dias. Não esboçou nenhuma forma de resistência quando um dos dedos começou a explorar uma glândula pequena acima da sua uretra. Uma força estranha e gostosa subia pelo seu corpo liberando uma descarga revigorante por toda parte. Masturbou pela primeira vez.
Não adianta marginalizar as novidades. O excluído sempre se rebela. E ali, depois daquela profunda excitação que deliciosamente queimava Marli por dentro, fazendo daquele ordinário banheiro um paraíso e da pobre mocinha suburbana, uma Eva sem Adão. Marli resolveu tomar uma duchada de água fria para aliviar o calor que a consumia.
Foi até ao quarto, pegou a toalha listrada de cores fortes e sérias. Voltou rápido. Despiu-se. Recebeu um jato de água fria no rosto, molhou todo o corpo, começou a ensaboar apertando o Rexona contra a pele branca. Apertou com mais força na região pubiana entumecendo os pelos com escuma abolhada. O shampoo na cabeça desta vez também foi aplicado sem pressa. Tinha tempo e não tinha o que fazer depois do banho.
Não foi a missa. O paraíso já estava ganho. Pensou assim e logo se arrependeu. Veio a dúvida: e agora? Será que eu preciso me confessar por ter me masturbado? Será que é pecado o que eu fiz?
Foi para o quarto levando consigo a dúvida. Colocou uma roupa simples: bermuda e camiseta. Sentou no banquinho de frente a rua tentando afastar a dúvida persistente enquanto sorria para aqueles que passavam por ali em direção ao centro da cidade, seja para a igreja, seja para o bar.
Dormiu cedo para no dia seguinte pegar firme no batente. Já que a semana que passou foi consideravelmente exaustiva.
Acordou mais disposta e foi para o trabalho. Sua colega, que trabalhava na cozinha, notou logo cedo uma Marli diferente da semana anterior. Não se parecia mais com um astronauta no mundo da lua, mas uma guerrilheira com os pés no chão. Fez o trabalho mais atenciosamente e mereceu até menção favorável por parte da patroa.
Quem também notou a mudança foi a sua irmã.
_Que bicho tá pegando, maninha? Perguntou.
_Nada Maria. Nada.
_Uh! Pensa que não tô te manjando há tempos?
_Manjando o quê?
_O que só não percebe quem não quer ou não entende de sentimentos.
_O problema é meu. Ralhou.
_Se é algum problema, por que não me conta? Quem sabe eu posso ajudar?
_Não, não tem problema nenhum.
_Você mesmo acabou de dizer que o problema é seu. Então tem problema sim.
_Ah! Maria. É só maneira de falar.
_Sei. Tô sabendo.
_...
_Ah! Marli. Sabia que tem um cara nessa rua afinzão de você?
Marli começou a se interessar pelo papo da irmã. Mudou a expressão facial e perguntou curiosa:
_Quem?
_Curiosidade, heim maninha. O Carlinhos. Quem me falou foi Carol, a irmã dele.
Marli forçou um riso que saiu pelo canto da boca.
_Por que você não fica com ele? Perguntou a irmã de dezessete anos.
_Ah! Eu já tenho alguém.
_Quem? Vai, conta-me. Interessou a primogênita.
_É o Zé Roberto. Fiquei com ele no casamento de Marina.
_O Zé Roberto da tia Joana?
_Sim. Ele mesmo.
_E aí? Conta-me como foi.
_Ah! Foi bom. Eu gostei. Afirmou  Marli que pela primeira vez conversava sobre esse assunto com a irmã.
_Sabia que eu já fiquei com o Quizim da tia Aparecida? Começou a irmã mais vivida a abrir a sua vida para aquela que considerava uma criança até dia atrás. Agora sabia que a mana mais nova participava do mesmo mundo que ela.
O bate papo que começou por acaso, por mera curiosidade a partir da observação de Maria, teve que ser encerrado de supetão com a aproximação de dona Leontina, mãe das moças.
Sem ficar contando as horas, Marli nem percebeu que a semana já estava quase acabando. O tempo passou rápido. Quando assustou, já era sábado. Em alguns momentos tinha esquecido que era nesse final de semana que Zé Roberto viria. Uma vez lembrado, a ansiedade voltou com menos intensidade desta vez.
Finalmente chegou domingo. Marli esperava que Zé Roberto chegasse a tarde. A tarde chegou e Zé Roberto não. Achou que ele chegaria a noite. Certamente iria direto para a rua. Viria só para ficar com ela e nada mais. Havia combinado com Celina. Aquela sua amiga de irem juntas. Aprontou-se, entusiasmou-se, sorriu diante do espelho para si mesma. Chegou a se elogiar. Celina a esperava na sala.
Celina não estava paquerando ninguém naqueles dias. Iria ficar com a amiga até ela encontrar o rapaz. Queria conhece-lo. Se ele estivesse com algum amigo lá da roça e se fosse lhe apresentado, quem sabe poderia rolar alguma coisa. Preferiu deixar por conta do acaso. Ela havia paquerado várias vezes. Achava os rapazes todos iguais. Todos com os mesmos papos banais. Diziam que estavam afim, chamavam para um lugar mais apropriado, beijavam e abraçavam sem nenhum estilo inovador. Na primeira oportunidade tentavam passar as mãos nos seios. Algumas vezes ela até deixava, outras não. Dependia do momento, do lugar, do seu entusiasmo.
Marli, chegando com Celina na pracinha, encontrou algumas conhecidas. Havia três finais de semana que não vinha a pracinha. Uma delas chegou a perguntar se Marli tinha ficado doente. Outra, se a mãe tinha lhe proibido sair. Conversou com uma, com outra e o tempo foi passando. Começou a perder a esperança. Celina preferiu não comentar nada.
Passou muito tempo. Andaram por toda praça. Não encontraram e nem foram encontradas pelo rapaz. Não. Ele não veio. Perdeu de vez a esperança depois de circular três vezes a pracinha inteira. Deve ter acontecido alguma coisa.
Voltaram para casa as duas mocinhas e despediram-se. Foi então que Celina tocou no assunto. Percebeu que Marli não estava tão angustiada como se esperava. Disse que lamentava muito e tentou consolar a amiga.
_Essas coisas acontecem. Mais cedo ou mais tarde você vai ficar sabendo por que ele não veio.
Trocaram tchaus e foram dormir.

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