domingo, 9 de maio de 2021

MÃE, MONÓLOGO E POEMAS: PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS - XV

"Fosse eu Rei do Mundo,

baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho."

Carlos Drummond de Andrade"



 Chegamos à nossa décima quinta pentalogia. E num dia especial. Dia de parabenizarmos nossas mães que ainda estão no mesmo plano que nós, e de modo especial aquelas que partiram rumo ao plano superior. Também para a leitora desse blog que é mãe, biológica ou não. 

O ideal do ideal é termos hoje uma pentalogia com poemas versejando apenas sobre estas pessoas que são a síntese do amor de Deus por nós. Jesus, Verbo que se fez carne, quis ter uma mãe. Mas não deu para fazermos esta pentalogia apenas com estre tema. Compartilho com vocês o único poema que aflorou nas brechas de uma semana apertada.

Na postagem passada mencionamos a questão do e-book. Pois bem, indeciso aqui se seria agora ou uma celebração da vigésima pentalogia. Talvez um bônus na semana que vem. 


CINCO PÉTALAS, UMA PARA AS MÃES

PÉTALA I: Abrimos com o que produzi, no curto espaço, inspirados na temática que celebramos neste domingo de lembranças.

PÉTALA II: A busca de um amor do passado como um elo perdido na corrente da felicidade.

PÉTALA III: Um poema que inverte a mitologia de Narciso. A água é que se apaixona por si.

PÉTALA IV: Talvez um pós-góticos, assim tenho chamado os poemas que fazem parte da minha lavra, a princípio gótica, mas com minhas peculiaridades.

PÉTALA V: Um misto de tragédia, melancolia do poeta e da possibilidade da poesia abrir ópio para a sobrevivência. 





A GENTE CHAMA DE MÃE
 
O meu eu-lírico
Precisa de uma mãe
Que diga na cara
Com carinho e dureza
— Filho, um poema
Não te amamenta.
 
O meu eu-dissolvido
Precisa de uma mão
Aquela mão amorosa
Que afaga o coração
E diz com delicadeza
—Filho, qualquer verso
É apenas um universo.
 
O meu eu-lítico
Precisa de uma magia
Que diga a frase certa
Quando a rota é incerta
E a luz fica opaca
Magia de mãe
Magia de mão
Que mostra a direção.
 
Seja poeta, seja profeta
Ou apenas alguém
Seguindo em linha reta
Precisa daquela magia
Precisa daquela mão
Que eu tenho, que você tem
Que a gente chama de mãe.



SILÊNCIO E SONHOS
 
O que faz uma alma expandida
No meio de uma pandemia?
 
O que faz um corpo trêmulo
Corroído pelo medo
Em um canto de quarto-fátuo?
 
Eu não faço nada, eu não falo nada
Silêncio e dor
E uivos de sirenes no asfalto.
 
O que faz uma alma exprimida
Entre sonhos e sofrimentos?
 
O que faz um esqueleto jogado
Em qualquer lata de lixo?
 
Não sou santo, não me assusto
Apenas sinto frio.
 
Mas o amor que eu tive um dia
Está guardado em alguma gaveta
Dentro deste meu ser esfacelado.
 
Procuro por ele e não acho!



MONÓLOGO DA ÁGUA
 
Quando vi aquele rosto
Humano, húmus
Encantei-me.
Eu me vi
Naquelas lágrimas
E no insano sorriso
Não pensei duas vezes
Esvaziei o lago
E me afoguei em Narciso.



SOMENTE CINZAS
 
O coma que me fez adormecer
Nos braços melancólicos da desilusão
Perdi o todo de um apocalipse
Não vi as chamas, não vi a besta.
 
Agora, olhos primitivos mirando
O novo mundo diante do meu peito.
Cinzas, somente cinzas.
E só eu. Só.
 
O que aconteceu com ela?
Qual a porção desta cinza é ela?
Quero novamente senti-la
Ainda que nosso último instante
Tenha sido decepcionante.
 
O choque que me fez acordar
Eu voltei das profundezas do meu eu.
Um raio atingiu minha mão tesa
Precisamente aquele meu dedo indicando
Aquele olhar que foi portas para mim.
 
Pareço não sentir mais nada
Nem frio, nem calor, fome ou sede
Pareço não pensar em nada
Nem em casa, nem em fuga
Se bem que lá no fundo da alma
Cintila algo que chamo de saudade.
 
E todo esse mundo-cinzeiro
Torna-se ela me queimando.



ELA NÃO CONHECIA MEUS POEMAS
 
Ela caiu de algum lugar
Entre o nono e o décimo andar
Com toda força em meus ombros
Se somando aos meus assombros.
 
Ela era triste, percebi no olhar
Moça triste de trincar
O osso que me sustenta no lado direito
O orgulho que me sustenta
Em mais um dia sobre o cimento.
 
Ela tinha algo a me dizer?
Aquele sorriso falecido dizia que sim
Ela tinha um recado para mim
Vindo do céu ou vindo do mar
Dizendo algo sobre o meu fim.
 
Mais triste que a moça estirada no chão
É o meu coração.
 
Ela caiu cansada de tentar subir
Querendo as estrelas alcançar
Quem sabe se contentaria
Apenas com um raio do luar.
 
Mas ela não conhecia meus poemas
Publicados em páginas amargas
Que fazem a gente passar por frestas
Dançando como em portas largas.




PÉTALAS PASSADAS





quinta-feira, 6 de maio de 2021

ERVILHAS E ATUM

 

            Aquele rosto morto, ensacado pelo inverno do ano mais triste e doído de sua vida, acordou juntamente com ela para mais uma quarta-feira. E todos os dias da semana se pareciam iguais. Domingo à tarde e uns dois dias por mês é que era diferente. Mas tempo apenas para descansar e organizar as coisinhas em casa.
            O supermercado com suas prateleiras cheias de produtos necessários a todos os padrões de consumo na cidade engaiolada pela pressa e falta de poesia da mulher e do homem que traz atravancado em seus tornozelos os grilhões da sobrevivência, a esperava para engoli-la por uma longa jornada de trabalho, e depois vomitá-la, expelindo-a através dos logradouros do bairro operário para dentro da sua caixinha de alvenaria para a qual dão o nome de casa.
            R$ 53,00. Ele lhe entregou R$ 60,00. Ela lhe devolveu R$ 7,00 enquanto que a empacotadeira colocava num misto de pressa e cuidado os pacotes de cereais e latas de conservas em sacolas de materiais nada degradáveis. A matemática naquele instante foi simples demais. Mas na quinta cavidade do seu coração, aquela invisível a qualquer raio-x, faltava algo. O troco que a vida havia lhe dado não era o suficiente diante da perda que teve. Tinha sido deixada por aquele homem que a havia preenchido de carinho e decepções nos seus últimos sete anos de sobrevivência.
            Desde então a jornada, para a sua sensação, havia se tornado o dobro mais árdua. E ele, aquele desgraçado, estava comprando aqueles cereais para quem? E aquela latinha de ervilha?
            Era a primeira vez depois da separação que ele entrava no supermercado e passava diante dos seus olhos. Tanto ele, como ela, agiram com naturalidade, a mesma de quando estavam juntos e ele ia lá, comprar o que ele tinha vontade. O homem durante sete anos gostava de atum e detestava ervilhas.
            A empacotadeira sorriu com o canto da boca quando ela abaixou a cabeça para respirar fundo. Pensava qual seria a reação da caixa quando soubesse para onde estava indo aquela mercadoria. Nesse mundo sem poesia, sobrava drama mesmo no recheio da dureza operária.
            Fim da jornada. As duas almas femininas e famintas tomaram o rumo de suas casas. A empacotadeira subiu a ladeira feliz. Iria desfrutar de sua conquista e discutir com ele como contaria para a colega de trabalho. Não poderia segurar tamanho segredo por tanto tempo.


            Ela caminhou cabisbaixa, derrotada, pela avenida até entrar na ruela em que morava. Abriu a porta e sentiu o cheiro de comida sendo preparada. Era ele ao fogão. No jantar haveria atum para ele e ervilha para ela em celebração ao seu retorno inesperado.
            A empacotadeira chorou diante do bilhete de despedida sem ter forças para encarar a colega de trabalho no dia seguinte. Resolveu não ir mais.


CONTO DA QUINTA PASSADA




domingo, 2 de maio de 2021

CORAÇÃO, ERROS E HISTÓRIA: PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS - XIV

 

Pétalas de rosas
Entre as folhas do diário
Seca recordação

Teruo Tonooka


 

Estamos na nossa décima quarta pentalogia. A quinta após a retomada.  Sem compromisso, mas prometendo esforço para editar um e-book com todas as antologias depois da décima quinta.

 

 Na postagem deste domingo, o primeiro do mês de maio, mês dedicado às mulheres, que poeticamente são rosas,  estamos trazendo 1 (rondel) e 4 (quatro) indrisos.

 


PÉTALA I: O reconhecimento do homem que reconhece sua condição de completa entrega a uma mulher que o conquistou ao conhecer seu ponto fraco através do rondel do projeto RIMAS SOBRE TUDO.

 

PÉTALA II: Indriso que ala daquele momento que é preciso parar e refazer os paradigmas da vida, arriscar-se em outras rotas. Mas antes descobrir o motivo da raiva que mora dentro do peito.

 

PÉTALA III: O coração de alguém que reconhece na pessoa que ama certa frieza e procurar encontrar o seu lugar na história do outro.

 

PÉTALA IV: Um indriso que fala do esquecimento de alguém que deixou algo escrito é ninguém leu. A vida de vários escritores que foram abraçados pelo anonimato.

 

PÉTALA V: Uma história a mais de um caso de amor por conveniência versejada em um indriso que tem a marca do meu estilo. Assim penso.

 

 

Vamos aos versos. 


CORAÇÃO DELIRANTE
 
Arranque este meu coração delirante
Embrulhe-o com todo o seu desprezo
Deixe-me dentro deste baú sufocante
Um fosso de solidão onde estou preso
 
Não deixe nada neste corpo ficar ileso
Eu imploro por tua carícia necrosante
Arranque este meu coração delirante
Embrulhe-o com todo o seu desprezo
 
Pelos vales da noite eu já fui vagante
E meu universo parecia ser tão coeso
Mas o seu olhar mirou tão fascinante
Que te revelei o meu ponto indefeso
Arranque este meu coração delirante
 
 

 
CHECK-UP
 
Estou me fechando para balanço
E não entenda isto com descanso
Vai ser duro calcular as derrotas
 
Diante da vida às vezes me canso
Nunca naveguei por um remanso
Só tenho naufrágios em minha rota
 
As tempestades fortes e a mentira
 
Fomentam no peito a minha ira!
 
 

ERROS E ACERTOS
 
Conte-me a sua história para eu saber
Qual foi o seu erro, qual foi seu acerto
Para eu entender essa sua melancolia.
 
Conte-me a sua história para eu caber
Dentro da sua folga, dentro do aperto
Para eu compreender essa sua agonia.
 
Sei que você teve perdas no seu caminho.
 
Ainda não se encontrou no meu carinho.
 
 

ESQUECIDO
 
O que ele escreveu
Está ficando perdido
Sob a poeira do tempo.
 
E o que ele imaginou
Não foi no altar ungido
Não se espalhou no vento.
 
Nenhum invento ele pariu
 
Então, pelo que ele sorriu?
 
 
 
NA MINHA HISTÓRIA
 
Quando a vida te ameaça você me procura
Em meus braços você se sente mais segura
E nos momentos de prazer eu fico de fora.
 
Se tudo dá errado passo a ser a pessoa certa
A qualquer hora minha porta estará aberta
Mas quando o medo acaba você vai embora.
 
Quero saber qual é o seu lugar na minha história.
 
Para saber qual será o meu lugar na sua memória.




 PÉTALAS SEMANAIS DE ABRIL