Meu desejo
sempre foi viver um momento feliz. Por isso frequentemente saiu pela noite em
busca de alguém que possa me proporcionar um tiquinho de felicidade.
Naquela
sexta-feira vesti o melhor que eu tinha para um solteirão de vinte e sete anos,
entrei no meu carro razoavelmente confortável e resolvi entrar em um bar
desconhecido. Para isso tive que ir a outro bairro nobre da cidade. Estacionei
meu carro, encerado impecavelmente, e me dirigi para dentro do recinto, antes
deixei a chave com o manobrista. Para minha surpresa, era uma manobrista.
Era a primeira
vez que vejo essa atividade sendo praticada por uma mulher. Não quero fazer
juízo de valor. Para mim, um técnico em informática que trabalha no maior
hospital da cidade mediana, não cabe a mim julgar qual profissão é para homem e
qual é para mulher. Apenas constatei o fato.
Entrei e me
sentei em uma das banquetas, confortáveis por sinal, que faz parte de um dos
três balcões do bar. Foi um amigo e colega de trabalho, enfermeiro, que me indicou
esse lugar. Segundo ele mulheres bonitas e solitárias são frequentes. Ele me
contou que só este ano já pegou três. Todas valeram muito a pena. Falou de uma
morena de olhos verdes que ele não consegue esquecer. A loira de lábios
vermelhos, a última que ele paquerou, está nesse momento internada no hospital em que trabalhamos.
Eu queria que
ele estivesse comigo, mas hoje é o seu plantão e eu teria que aguardar mais
duas semanas para desfrutar da companhia dele. Arrisquei vir sozinho.
Pedi o
primeiro drink depois de olhar no menu o preço de cada tipo de bebida
identificando aquela que caberia no meu bolso. Lembro que não posso exagerar
nos gastos. Mês passado tive dificuldades e acabei fechando no vermelho.
Cheguei a pensar em vender meu carro. Não ouso chama-lo de carango. Ele não é.
A princípio me
decepcionei. O bar estava vazio e nada de mulher bonita. De cinco em cinco
minutos eu fazia uma vistoria com meus olhos incomodados. Apenas seis mulheres,
quatro acompanhadas e duas que não compensavam a investida, a não ser depois das
três da manhã.
Entendi com o
passar das horas que cheguei cedo demais. Onze horas da noite o recinto já
estava lotado. Realmente haviam mulheres interessantes sentadas juntas, olhando
para os lados. Caçadoras de homens como complemento para aquela noite. Eu
estava lá, uma caça disponível.
Não demorou
muito, uma delas sentou-se perto de mim, puxou assunto e eu fui dando corda. O
primeiro beijo aconteceu ali no balcão. Mas assim que detectamos uma mesa
desocupada em um canto mais reservado, ocupamos rapidamente. Enquanto a noite
avançava, era cada vez menos conversa e cada vez mais carinhos, ou amassos como
dizem por aí.
A partir das
três e meia o bar começava a se esvaziar. E nós dois já estávamos começando a
cansar de beijos, bebidas e conversas vazias. Ela fez menção de ir embora. Eu
pedi para que ela ficasse um pouco mais. Ela ficou. Arrependi. No fundo eu
queria ir embora com ela para algum lugar. Ter uma relação íntima com a mulher
que estava bebendo por minha conta em troca de beijos e uma ou outra carícia
mais ousada. Mas nos últimos minutos ela estava esfriando, me rejeitando.
Quatro e
quinze e só restavam nós dois no bar. Os garçons olhavam para nós com
reprovação e dizendo sem palavras para irmos embora, estavam cansados.
Levantamos,
quando eu tomei a direção do caixa para pagar a conta ela fez menção de ir
embora. Segurei-a pelo braço. Eu merecia uma despedida. Ela compreendeu e não
forçou uma fuga.
No
estacionamento restavam poucos carros. Quando a manobrista nos avistou dirigiu-se
à mulher que me fazia companhia.
— Vou trazer o
carro da senhora primeiro.
— Você está de
carro?
— Sim, estou
no meu carro. Por que a surpresa?
— Surpresa?
Não estou surpreso. Eu só pensei que terminaríamos a noite juntos.
— E
terminamos. A noite para mim já acabou. Foi bom ter ficado com você.
— Mas assim?
— É assim que
eu termino meus primeiros encontros. Quem sabe depois de algum tempo a gente
termine diferente. Venho aqui um final de semana sim e outro não. É só marcar
no seu calendário.
Ela entrou no
carro e arrancou. Eu a vi partir e notei que a manobrista estava percebendo a
minha desolação.
— Fica assim
não, senhor. Ela sempre faz isso. Não nutra suas esperanças, ela nunca fica
duas vezes com a mesma pessoa. Eu já cansei de ver essa cena.
Minha cabeça
começou a ficar pesada. O rosto da manobrista foi ficando distante. Tudo
rodopiou e eu caí.
Acordei depois
das onze da manhã. O sol entrava pelo meu quarto. Na minha cama havia vestígios
de que outra pessoa estivera ali, deitada ao meu lado. Havia cheiro de relação
íntima no ar. Meu corpo sentia, mas minha mente não se lembrava de nada.
Na cozinha
tinha café pronto e na porta da geladeira um bilhete que dizia: — Foi bom ficar
com você. A manobrista. — e o formato de uma boca em batom vermelho.
A manobrista
trouxe-me para casa e me deu felicidade. Pena que eu não estava sóbrio para
sentir.
Na
quarta-feira eu estava contando para meu amigo enfermeiro minhas aventuras da
noite de sexta quando vejo a mulher que tinha bebido às minhas custas entrar no
refeitório do hospital.
— O que ela
está fazendo aqui?
— Ela quem?
— A mulher que
me deixou no estacionamento. — ele olhou na direção da porta.
— É a nova
enfermeira. Começou a trabalhar hoje.
— Ela podia
ter dito que estava desempregada. Quem sabe da próxima vez ela racha a conta?
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PRÓXIMO CONTO
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