quinta-feira, 8 de abril de 2021

A DESEMPREGADA

 


Meu desejo sempre foi viver um momento feliz. Por isso frequentemente saiu pela noite em busca de alguém que possa me proporcionar um tiquinho de felicidade.

Naquela sexta-feira vesti o melhor que eu tinha para um solteirão de vinte e sete anos, entrei no meu carro razoavelmente confortável e resolvi entrar em um bar desconhecido. Para isso tive que ir a outro bairro nobre da cidade. Estacionei meu carro, encerado impecavelmente, e me dirigi para dentro do recinto, antes deixei a chave com o manobrista. Para minha surpresa, era uma manobrista.

Era a primeira vez que vejo essa atividade sendo praticada por uma mulher. Não quero fazer juízo de valor. Para mim, um técnico em informática que trabalha no maior hospital da cidade mediana, não cabe a mim julgar qual profissão é para homem e qual é para mulher. Apenas constatei o fato.

Entrei e me sentei em uma das banquetas, confortáveis por sinal, que faz parte de um dos três balcões do bar. Foi um amigo e colega de trabalho, enfermeiro, que me indicou esse lugar. Segundo ele mulheres bonitas e solitárias são frequentes. Ele me contou que só este ano já pegou três. Todas valeram muito a pena. Falou de uma morena de olhos verdes que ele não consegue esquecer. A loira de lábios vermelhos, a última que ele paquerou, está nesse momento internada no hospital em que trabalhamos.

Eu queria que ele estivesse comigo, mas hoje é o seu plantão e eu teria que aguardar mais duas semanas para desfrutar da companhia dele. Arrisquei vir sozinho.

Pedi o primeiro drink depois de olhar no menu o preço de cada tipo de bebida identificando aquela que caberia no meu bolso. Lembro que não posso exagerar nos gastos. Mês passado tive dificuldades e acabei fechando no vermelho. Cheguei a pensar em vender meu carro. Não ouso chama-lo de carango. Ele não é.

A princípio me decepcionei. O bar estava vazio e nada de mulher bonita. De cinco em cinco minutos eu fazia uma vistoria com meus olhos incomodados. Apenas seis mulheres, quatro acompanhadas e duas que não compensavam a investida, a não ser depois das três da manhã.

Entendi com o passar das horas que cheguei cedo demais. Onze horas da noite o recinto já estava lotado. Realmente haviam mulheres interessantes sentadas juntas, olhando para os lados. Caçadoras de homens como complemento para aquela noite. Eu estava lá, uma caça disponível.

Não demorou muito, uma delas sentou-se perto de mim, puxou assunto e eu fui dando corda. O primeiro beijo aconteceu ali no balcão. Mas assim que detectamos uma mesa desocupada em um canto mais reservado, ocupamos rapidamente. Enquanto a noite avançava, era cada vez menos conversa e cada vez mais carinhos, ou amassos como dizem por aí.

A partir das três e meia o bar começava a se esvaziar. E nós dois já estávamos começando a cansar de beijos, bebidas e conversas vazias. Ela fez menção de ir embora. Eu pedi para que ela ficasse um pouco mais. Ela ficou. Arrependi. No fundo eu queria ir embora com ela para algum lugar. Ter uma relação íntima com a mulher que estava bebendo por minha conta em troca de beijos e uma ou outra carícia mais ousada. Mas nos últimos minutos ela estava esfriando, me rejeitando.

Quatro e quinze e só restavam nós dois no bar. Os garçons olhavam para nós com reprovação e dizendo sem palavras para irmos embora, estavam cansados.

Levantamos, quando eu tomei a direção do caixa para pagar a conta ela fez menção de ir embora. Segurei-a pelo braço. Eu merecia uma despedida. Ela compreendeu e não forçou uma fuga.

No estacionamento restavam poucos carros. Quando a manobrista nos avistou dirigiu-se à mulher que me fazia companhia.

— Vou trazer o carro da senhora primeiro.

— Você está de carro?

— Sim, estou no meu carro. Por que a surpresa?

— Surpresa? Não estou surpreso. Eu só pensei que terminaríamos a noite juntos.

— E terminamos. A noite para mim já acabou. Foi bom ter ficado com você.

— Mas assim?

— É assim que eu termino meus primeiros encontros. Quem sabe depois de algum tempo a gente termine diferente. Venho aqui um final de semana sim e outro não. É só marcar no seu calendário.

Ela entrou no carro e arrancou. Eu a vi partir e notei que a manobrista estava percebendo a minha desolação.

— Fica assim não, senhor. Ela sempre faz isso. Não nutra suas esperanças, ela nunca fica duas vezes com a mesma pessoa. Eu já cansei de ver essa cena.

Minha cabeça começou a ficar pesada. O rosto da manobrista foi ficando distante. Tudo rodopiou e eu caí.

Acordei depois das onze da manhã. O sol entrava pelo meu quarto. Na minha cama havia vestígios de que outra pessoa estivera ali, deitada ao meu lado. Havia cheiro de relação íntima no ar. Meu corpo sentia, mas minha mente não se lembrava de nada.

Na cozinha tinha café pronto e na porta da geladeira um bilhete que dizia: — Foi bom ficar com você. A manobrista. — e o formato de uma boca em batom vermelho.

A manobrista trouxe-me para casa e me deu felicidade. Pena que eu não estava sóbrio para sentir.

Na quarta-feira eu estava contando para meu amigo enfermeiro minhas aventuras da noite de sexta quando vejo a mulher que tinha bebido às minhas custas entrar no refeitório do hospital.

— O que ela está fazendo aqui?

— Ela quem?

— A mulher que me deixou no estacionamento. — ele olhou na direção da porta.

— É a nova enfermeira. Começou a trabalhar hoje.

— Ela podia ter dito que estava desempregada. Quem sabe da próxima vez ela racha a conta?


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A BARGANHA


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