TUA ARTE ABSTRATA
Mesmo de mim
Em minutos repartidos
Mania de mendigar
O ouro reluzindo no último verso
O trem de uma nova ideia apita entre montanhas
Seria simples apenas simples
Mas eu morro
A insignificância de uma vida ou de uma pedra
Luz em excesso cega
Você coloriu os meus olhos com tua arte abstrata
E finge que a noite é tempo
Não quero ficar respingado com o líquido marrom
das tuas Cólicas
Meu endereço se localiza no albor da tua inocência
De repente, as montanhas não estão mais lá
Ainda assim
Sou tragado pela sombra da manhã
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MANDÍBULA
Vasculho de florestas e labirintos
Cogito
Desertos entre jardins
Areia esparramada pela memória
Ampulheta faminta
Quando a diurna mandíbula
Abocanha a tarde
Em sanhas silenciosas
Meu grito
Bestial
Acuando a solidão
Estrelas apontando seus dedos
Feridas sangrando íons
Tensão energia luz matéria negra
Afogamento
A morte líquida beijando as margens
Circundantes muros
Depósito de murros
De tudo que regurgito
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AUSÊNCIAS ETERNAS
A fantasia que me movia pela noite
Em busca das migalhas do teu afeto
Foi evaporando a cada inseto em volta
De uma lâmpada incandescente e nula
Minguado fui me incorporando às flores
De um paupérrimo lençol árido e surrado
Tive sede e a umidade dos teus lábios
Não se encontrava mais ao meu dispor
Gélido como a extensão polar da solidão
Tentei expandir-me para além do círculo
Mas percebi que era mais que um século
A distância pela qual eu teria que
rastejar
Não era somente te enviar uma mensagem
Desculpar-me ou implorar para a tua
memória
Colher os frutos daquilo que semeei em
tua pele
Em cada saliência pelas minhas mãos
férteis
Passou a ser algo mais do que me
reconstituir
E encontrar o desejo que me assombra no
vazio
Ainda assim há os minúsculos cacos que se
foram
Para serem ausências eternas do ápice sem
retorno
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TRAGEDISTAS EM AÇÃO
De
novo a mesma história
Ganância,
desamor e morte
Mariana
era mero ensaio
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OS RASTROS
Quanto vale a vida?
O que é vida para a Vale?
E o minerador
Faz de Minas
Um vale de dor
Cadê a barragem para represar
A ganância irresponsável e sua pompa
E não deixar que rompa
A nossa ternura
Quantas vidas a Vale invalida?
Quantas vilas soterradas no vale?
Ninguém sabe quantas lágrimas
Os rastros de um rejeito
Deixam em cada leito
(27.01 a 02.02/2019)
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Emocionante poema! Parabéns!
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