sábado, 2 de fevereiro de 2019

NO REJEITO DA ALMA PÚTRIDA: PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS I





TUA ARTE ABSTRATA


Mesmo de mim
Em minutos repartidos

Mania de mendigar
O ouro reluzindo no último verso

O trem de uma nova ideia apita entre montanhas
Seria simples apenas simples
Mas eu morro

A insignificância de uma vida ou de uma pedra
Luz em excesso cega

Você coloriu os meus olhos com tua arte abstrata
E finge que a noite é tempo

Não quero ficar respingado com o líquido marrom
das tuas Cólicas
Meu endereço se localiza no albor da tua inocência

De repente, as montanhas não estão mais lá
Ainda assim
Sou tragado pela sombra da manhã


******

MANDÍBULA


Vasculho de florestas e labirintos
Cogito
Desertos entre jardins

Areia esparramada pela memória
Ampulheta faminta
Quando a diurna mandíbula
Abocanha a tarde
Em sanhas silenciosas

Meu grito
Bestial
Acuando a solidão

Estrelas apontando seus dedos
Feridas sangrando íons
Tensão energia luz matéria negra
Afogamento
A morte líquida beijando as margens

Circundantes muros
Depósito de murros
De tudo que regurgito

*****



AUSÊNCIAS ETERNAS


A fantasia que me movia pela noite
Em busca das migalhas do teu afeto
Foi evaporando a cada inseto em volta
De uma lâmpada incandescente e nula

Minguado fui me incorporando às flores
De um paupérrimo lençol árido e surrado
Tive sede e a umidade dos teus lábios
Não se encontrava mais ao meu dispor

Gélido como a extensão polar da solidão
Tentei expandir-me para além do círculo
Mas percebi que era mais que um século
A distância pela qual eu teria que rastejar

Não era somente te enviar uma mensagem
Desculpar-me ou implorar para a tua memória
Colher os frutos daquilo que semeei em tua pele
Em cada saliência pelas minhas mãos férteis

Passou a ser algo mais do que me reconstituir
E encontrar o desejo que me assombra no vazio
Ainda assim há os minúsculos cacos que se foram
Para serem ausências eternas do ápice sem retorno

*****

TRAGEDISTAS EM AÇÃO

De novo a mesma história
Ganância, desamor e morte
Mariana era mero ensaio

*****

OS RASTROS

Quanto vale a vida?
O que é vida para a Vale?

E o minerador
Faz de Minas
Um vale de dor

Cadê a barragem para represar
A ganância irresponsável e sua pompa
E não deixar que rompa
A nossa ternura

Quantas vidas a Vale invalida?
Quantas vilas soterradas no vale?
Ninguém sabe quantas lágrimas
Os rastros de um rejeito
Deixam em cada leito

DA SÉRIE: PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS
(27.01 a 02.02/2019)

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