terça-feira, 12 de setembro de 2017

CARÊNCIA DE POESIA



Enquanto eu te faço carinho
O mundo taca fogo na floresta
Enquanto colho flor sem espinho
Solitários se embriagam em festa
Enquanto contigo sigo o caminho
E amanheço sem estar sozinho
Quando quase nada me resta

Enquanto me sacio com teu beijo
O mundo esmorece de tão faminto
Enquanto pelo teu corpo eu velejo
O mundo ainda se move por absinto
Mesmo sem ter a faca e ter o queijo
Eu nutro-me do teu louco desejo
O meu amor é mais que instinto

Enquanto componho os meus versos
O mundo agoniza carente de poesia
Enquanto viajo em outros universos
O mundo sequer foge da hipocrisia
Alheio aos sentimentos perversos
Eu batalho com meus reversos
Tendo você, eterna companhia


terça-feira, 5 de setembro de 2017

ÁRVORES SOLITÁRIAS - 001










A CHEGADA DA MORTE

04. A CHEGADA DA MORTE

Aquele apito de início de turno
Aqueles portões enormes
Aquela tez de cimento
Aquele vociferar dantesco
Aqueles uniformes fétidos
Aqueles cumprimentos gélidos
Aqueles burgueses de ternos e gravatas
Aquelas chaminés pintando na tela
Uma gravura infernal
Aqueles produtos de belas embalagens
Aquele enfeiamento de pessoas
Era a morte que havia chegado
E eu não sabia


MUTUM, 18.12.1996

LEIA MAIS EM:

DENTRO DE MIM



Falar com as palavras
Brincar com as palavras
Prosear com os verbos
Aquecer-se nas noites de invernos
Com poesia da boa

Falar sobre o mundo
Faltar da escola na segunda
Fechar a porta e ir acordar
Para a fantasia mais sincera

Quem me dera ser a palavra
Na garganta seca do oprimido
Na garrucha velha do velho poeta
Alvejando o papel de vida

Rolar no tapete com os livros
Rosnar alto diante dos livros
Livrar-se das vestes e se acariciar
Exibir-se diante dos grilos da cabeça
Viver a beira do abismo da alma

Respingar-se pelas horas do dia escuro
Buscando um furo na parede do tempo
Entre páginas secretas e segredos desvendados
De mãos dadas com a dúvida mais cruel
Meu céu, meu sol
Um som florescendo no silêncio do jardim

Dentro de mim, bem dentro de mim!