quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

MICROCONTOS DE 2022: QUANDO O MÍNIMO É MAIS




O título desta postagem é muito usado quando se trata de textos minimalistas, seja em prosa ou seja em verso. O minimalismo me facina pela dificuldade da concisão. Um microconto não é apenas uso de trocadilhos. É acima de tudo um texto que precisa ter todos os elementos de uma narrativa: Personagens, enredo, tempo e espaço. Na minha tentativa de me esmerilar neste gênero, participo do grupo Microconto Fátima Florentino compondo, sempre que o tempo me permite, meus microcontos.

No meu livro, O Castelo de Alice, uma das apresentadoras da minha obra no lançamento falou dos microcontos intrusos, como a parte que mais lhe chamou atenção. Sim, eu usei microcontos para não deixar nenhuma página em branco.

Compartilho com vocês cinco pequenas narrativas de 2022.

 

 CANDURA

Ele foi tirando tudo dela. Emprego, amigos, liberdade, alegria e, por fim, a vida. Só restou a candura do olhar nas memórias do filho de dois anos.

 

BISTECA

Ela achava que a salivação dele era por causa da bisteca acebolada que fizera para o jantarzinho íntimo. Só percebeu o engano quando ela passou a ser o jantar dele, literalmente.

 

CAIXÃO

Assim que jogaram a última pá de terra sobre meu caixão, eu também fui embora.

 

BENGALA

Disfarçava-se de idoso. Boina, bengala, o andar cambaleante e o gemido de dor. Ao passar por alguma jovem deixava o pacote cair. As que eram gentis ofereciam para ajudá-lo. Entravam em seu apartamento de onde não sairiam mais.

 

PEDAGOGIA

Foi a pedagogia da faculdade que lhe deu o emprego na creche. Mas é com sua própria didática que ele tem feito crianças virarem anjos.


***

Os títulos são as palavras do dia em que os microcontos foram escritos. Todos, naquele dia escreveram um ou mais microcontos com até 300 caracteres a partir desta palavra, sendo que ela teria que estar escrita.

Para mim, o melhor é Caixão.


Bisteca serviu de "gatilho" na dinâmica do dia em 03.07.2022, e, claro, fiquei muito honrado.


POSTAGEM RECENTE DE: 

PENTALOGIAS POÉTICAS DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS


sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS XXVI: CERTEZA, CHAMA E FOSSA

 

 CERTEZA, CHAMA E FOSSA

 

SÉRIE: 
PENTALOGIAS DAS MINHAS 
PÉTALAS SEMANAIS.
 

Trago mais uma postagem para a série que se aproxima do segundo livro da obra. Esta semana eu falo:

  • do efeito das carícias da pessoa amada em A paixão em meu coração;
  • da convicção que machuca bem dentro em Essa certeza;
  • da ausência sentida e suas consequências no poetrix Hora da chama(da);
  • da depressão de faz com que a gente não tem vontade de se divertir em Minha fossa;
  • da imprevisibilidade da vida como força motriz para se viver em Não posso perder.

 
Aprecie sem moderação e se afogue em poesia.
 
***
A PAIXÃO NO MEU CORAÇÃO
 
Com você até moro em uma cabana
Para eu te namorar sob um belo luar
A paixão no meu coração é soberana
A você eu estou preso, não vou negar.
 
Quando a solidão era noite muito fria
Como aço de espada a me transpassar
Não havia rima ou respingo de poesia
Minutos eram cartas de jogos de azar.
 
Era feito time de futebol sem o atacante
E eu só tentava sobreviver heroicamente
O fim trágico do meu ser era tão ululante
Mas eu resistia a melancolia bravamente.
 
Com suas carícias minhas dores partiram
E do céu o amor em forma de anjo desceu
Junto com as dores as angústias sumiram
E a tristeza no meu peito do nada pereceu.
 
 ***
 
ESSA CERTEZA
(rondel)
 
Eu não faço parte da sua vida
Sequer eu faço mais da minha
Eu procuro e não acho a saída
Eu só acho que já saí de linha.
 
A desilusão é minha vizinha
E eu estou sempre de partida
Eu não faço parte da sua vida
Sequer eu faço mais da minha.
 
Nada cicatriza a minha ferida
Minha força cada dia definha
Há melancolia em mim retida
Essa certeza é que me espinha
Eu não faço parte da sua vida.
 
 ***
HORA DA CHAMA(DA)
(poetrix)
 
Sua ausência se espalha
Sozinho, eu tomo vinho
Vazios me atrapalham.
 
 ***
MINHA FOSSA
(rondel)
 
Se não fosse essa minha fossa
Que me obriga a ficar em casa
Quem sabe ouviria uma bossa
Para esfria o coração em brasa.
 
Há uma agonia que me arrasa
E nenhuma alegria se alvoroça
Se não fosse essa minha fossa
Que me obriga a ficar em casa.
 
Não há nada então que possa
Ser feito se o tédio se embasa
É a vida me dando uma coça
Eu até faria da farra uma asa
Se não fosse essa minha fossa.
 
 ***
NÃO POSSO PERDER
(rondel)
O que me mantém ainda vivo
É a incerteza se vai acontecer
Todo dia há um novo motivo
Para optar por dor ou prazer.
 
Toda manhã vejo o que fazer
Minha escolha não tem crivo
O que me mantém ainda vivo
É a incerteza se vai acontecer.
 
O que eu consumo é corrosivo
Eu não meço a força do poder
Da jaula da qual eu sou cativo
Mas sei que não posso perder
O que me mantém ainda vivo.

***


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NOTA DO BLOG: Caso queira adquirir o livro I físico, entre em contato com o autor. mendesclaudioantonio@gmail.com

O QUE O MAR PENSA DE MIM? (EU NA REVISTA BARBANTE)

 

O QUE O MAR PENSA DE MIM?

 


Saiu na revisa Barbante, nº 51, meu poema Viagem ao litoral. Nele falo de um tipo de viagem que muitos fazem, e acredito que outros gostariam de fazer.


Eu me baseei na experiência em litorais capixabas e baianos. Mas o encontro com o mar é universal. Seja em Marataízes ou em Marseille.

 

Posto aqui o poema, mas gostaria que você baixasse a revista e lesse as criações literárias dos meus colegas:

 

VIAGEM AO LITORAL

 

Viajo para o litoral

Minha alma maruja

Começa a bailar

Com ondas imaginárias.

 

As montanhas de Minas

Distanciam-se no retrovisor

Eu sigo pela dois meia dois

(A cento e um também está no caminho)

E de longe ouço o barulho.

 

Estou chegando de peito aberto

Para ver novamente

O horizonte atlântico

Como quem revê antigo amor.

 

Mas o mar me conhece?

Será que ele se lembra de mim

Em Alcobaça, Praia Grande ou Marataízes?

O mar ainda se lembra

Do nosso primeiro encontro?

 

Sei que o litoral capixaba ou baiano

Não se cansa da nossa mineirice

E suas ondas fortes mais parecem

Um abraço de saudade.


LINK PARA A REVISTA BARBANTE Nº51

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

DEPOIS DO ESTRONDO: MEU POEMA PÓS-GÓTICO NA REVISTA BARBANTE


Na edição de Nº 50 da Revista Barbante, comemorando seu décimo ano de publicação, meu poema Depois do Estrondo que escrevo para minha série GotiKlaus, poemas pós-góticos, falo sobre o encontro do amor e as barreiras a serem vencidas para além do desastre de um mundo pós-moderno e decadente.

Na revista o poema saiu com um equívoco gráfico no primeiro poema da terceira estrofe, faltando o r em apertando. Mas acredito que erros como estes acontecem na correria do dia a dia. No final tem link para quem quiser baixar a revista na íntegra.                                                            

DEPOIS DO ESTRONDO

Sobre meus olhos inchados não se assuste

São as noites frias na companhia do corvo

Que me ensina como ser anjo neste inferno.

 

Com os lábios sangrando não se desespere

São serpentes que engoli para me fortalecer

Em banquetes letais por florestas sombrias.

 

Sinta minha mão trêmula apertando a sua

Não se acanhe se eu te perguntar sobre amor

Eu te encontrei em viagens para além da lua.

 

Sobre meus passos trôpegos eu apenas quero

Que você venha comigo pela trilha íngreme

E se deite ao meu lado sobre a relva urticante.

 

Sobre meu verso sem rima sinta uma canção

Sussurrando em seus ouvidos a lamentação

Que eu faço ao vento depois de cada manhã.

 

Seja comigo o casal que vencerá o apocalipse

Nunca duvide daquilo que teu olhar não vê

Seremos ainda hoje a parte escura do eclipse.

 

Paz e guerra são coisas do mundo redondo

Nada sobrará da Terra depois do estrondo

A não ser nós dois caminhando pelo infinito.

 

REVISTA BARBANTE Nº 50