Sexta-feira. Marli adiava o máximo que podia o fim da
felicidade do dia anterior. Não ficou presa nos momentos desagradáveis daquele
dia. Voltou alegre para casa e não achou a faina pesada.
Chegando a sua casa, tomou suco de abacaxi e procurou
logo o chuveiro. Sentada na calçada, ficou esperando Carlinhos passar a
qualquer momento. Esperou um bom tempo e ele não passou. Voltou para ver a
novela.
Seus pais saíram e ela ficou apenas com a irmã que
puxou assunto.
_Hoje a tia Joana esteve aqui em casa.
_Sozinha? Perguntou Marli.
_Sim. Eu perguntei pelo José Roberto e pelo jeito ele
te enrolou. Tia Joana disse ele está paquerando uma moça de lá mesmo.
Marli recebeu a informação surpresa. Um nó desceu-lhe
pela garganta. Engoliu seco. Recompôs-se logo em seguida lembrando-se de
Carlinhos.
O fim de semana chegou e um fato alegrou Marli. Seus
pais iram passar o domingo na roça. Vão ficar as duas moças em sozinhas. O
irmão caçula também vai passear com os pais.
Sábado à noite, pracinha. Era a chance, a grande chance
de Carlinhos. Só se Carlinhos não quisesse. Ela sabia que ele não tinha nenhum
caso, a não ser que fosse muito secreto. Secreto demais. Ela ainda não tinha
digerido bem o golpe dado pelo José Roberto.
Não foi difícil localizá-lo. Ele sempre fica no mesmo
lugar com mais dois amigos. Marli sentiu uma tremedeira nas pernas quando ia
passando perto dele. Controlou-se. Olhou para ele e sorriu. Sorriso
correspondido. Era a senha. Deu mais uma volta para ver no que daria. Deu
certo. Ele desacompanhou-se dos amigos e ficou só. Ela aproximou. Deram-se as
mãos. Não precisou preocupar-se com Celina. Ela já estava preparada e soube o
que fazer.
Daí a alguns instantes parecia existir um mundo único,
exclusivo, para Carlinhos e Marli. Beijaram-se, abraçaram-se, beijaram-se,
abraçaram-se...
Conversaram um pouco, coisas banais. O que de sincero
tinham para revelar um para o outro, não era preciso ser dito. Estava tudo
escrito nos olhos como propagandas em um outdoor.
As mãos pequenas de Carlinhos explorou cada detalhe do rosto
de Marli e ela conteve-se só com os beijos e abraços. Não tentou nenhuma
carícia mais ousada. Deixou a iniciativa para ele que em nada ousou. Talvez
tenha sido pelo fato de estarem na pracinha. Foram embora juntos e a única
coisa que Marli precisou dizer, pois não coube escrito em seus olhos, foi sobre
a ausência dos pais em casa no dia seguinte. Isto é, no dia seguinte também.
Combinaram de se encontrar às duas as tarde, na casa dela.
Domingo, quando Marli acordou os pais já haviam saído.
Espreguiçou na cama. A irmã havia se levantado. Abraçou o ursinho que ganhou da
madrinha quando completou doze anos. Lembrou-se que daí a alguns dias
completaria seus quinze.
Encostou o ursinho de pelúcia de lado. Descobriu-se e
nem preocupou em vestir-se. Foi para o banheiro trajando o mesmo vestuário que
passou a noite dormindo: Apenas uma calcinha creme e um sutiã branco que cobria
o par redondo de seios, também brancos.
A irmã mais velha quando a viu, estranhou. Mas logo
passado o primeiro impacto, achou normal o que as vezes também fazia.
Depois de escovar seus dentes, banhar o rosto e pentear
os cabelos, voltou para o quarto. Colocou a bermuda laranja de cotton e uma
camiseta amarela com um surfista fazendo uma acrobacia na estampa e o nome surf em letras vivas. Tomou o café da
manhã comodamente e começou a ajudar a irmã nas tarefas cotidianas de uma
cozinha que não conhece feriados e nem domingos. Por um bom tempo esqueceu o
encontro à tarde.
Só quando estava almoçando é que se lembrou. Olhou para
o velho relógio de parede e constatou que faltavam apenas uma hora e meia.
Apressou as garfadas e não quis ajudar a irmã na lavagem das louças. Descansou
esperando o tempo passar. Cochilou e acabou adormecendo.
Acordou. Foi à sala e dessa vez somente vinte minutos a
separava de Carlinhos.
Depois de um banho caprichado e de perfumar-se com uma
colônia de aroma agradável, estava pronta e distante apenas dois minutos do
rapaz que chamaria pelo seu nome e ela abriria a porta. Diria um oi, uma boa
tarde, um não sei lá o que. Diria alguma coisa que não fosse desagradável e
cairia bem. Na hora saberia o que dizer. Essas coisas a gente não precisa ficar
ensaiando. Não é teatro, ficção. É verdade, a doce verdade em alguns momentos
da vida.
Os dois minutos passaram como se fosse dois dias. Agora
era realíssima a voz lá fora que chamava por ela. Respondeu um oi que
certamente Carlinhos não ouviu do outro lado da porta.
Porta aberta, aperto de mãos e um único sorriso
estendido entre as duas bocas. Sentaram-se no sofá e seus olhos se encontraram.
Encontraram-se também as mãos e os lábios.
Depois de alguns beijos, Marli sentiu a mão do rapaz,
que deixou de acariciar única e exclusivamente o seu rosto, na carne do seu
pescoço. A suavidade de suas mãos curvou em direção à nuca. Seus lábios
deixaram os lábios dela e ela ficou esperando que ele beijasse sua região
auricular. Como ele não a beijou na localidade esperada, ela é que bombardeou o
pescoço dele com beijos e toques de língua fazendo o rapaz sentir uma descarga
de hormônios dentro de si. Ele não retribuiu esse carinho, provocando certa
frustração em Marli. Então ela se aproximou mais dele e jogou-se toda sobre os
seu corpo. Os dois quedaram, indo de encontro a uma almofada no canto do sofá.
Como num facho de lua cortando a escuridão, veio à memória
de Marli o que dizem a respeito dos peitos peludos. Cautelou-se antes de tomar
mais uma iniciativa. Mas havia um forte desejo pedindo para sair de dentro do
seu coração. Enfiou suas mãos sob as listras largas nas cores azul e branca
alternadas da camisa do rapaz. Seus dedos começaram a passear sobre a relva de
pelos negros. Pensava ela consigo:
_Se ele quiser tocar nos meus seios, deixou ou não? Se
minha irmã nos flagrar numa carícia mais íntima, o que eu vou falar?
Mas não, ele não quis tocar nos seios dela. Ficou
contente só com os beijos e ela no fundo não fazia questão de tal carícia.
Cinco horas da tarde despediram-se em mais um beijo
longo e ele foi embora. À noite ela não saiu. Resolveu descansar.
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