Da série: CARTAS AO CAMARADA OLEV, CARTA I
Mutum, 21 de julho de 2015
Mutum, 21 de julho de 2015
Camarada Olev,
Começo já pedindo desculpas pela demora de três anos sem
cumprir o combinado entre nós. Se bem que você também não me contactou por
carta, apenas me enviou dois e-mails.
Havíamos combinado que apesar da facilidade que a revolução tecnológica nos trouxe, iríamos manter a tradição da carta escrita e postada no correio como nos velhos tempos e podermos conversarmos sobre nossos velhos ideais de contribuirmos para a construção, para além do tempo e além do espaço, pois não sabemos quando e onde isso poderia começar.
O motivo que me fez lembrar e pela primeira vez te
escrever é o mesmo motivo que nos fez encontrar e nos conhecermos um dia em
Paris. O nosso Tour de France.
De férias tenho ocupado a parte da minha manhã, em frente
à televisão e acompanhado esse evento que é o maior no esporte que tanto eu,
como você, gostamos.
E foi por ocasião do Tour de France de 2012 é que nos
tornamos, digamos, amigo. Ontem foi dia do amigo por aqui. Não sei se aí na
Bulgária se comemora do dia do amigo.
E assim tem sido a minha vida, um Tour de France, dias de pedalar por Bretanha, dias de pedalar pelos Pirineus.
Quando você ficou sabendo da minha nacionalidade no hall
do hotel em que estávamos hospedados, te despertou interesse em conversar
comigo sobre as atividades aqui no Brasil da nossa presidenta que têm raízes búlgaras.
Naquele momento, julho de 2012, ela estava ainda em seu primeiro mandato,
voando em céus de brigadeiro. Em Mutum, iniciava-se uma campanha do nosso
partido rumo à prefeitura numa composição do o Partido Verde. Não erámos cabeça
de chapa, verdade. Mas com a vitória em outubro e a posterior renúncia do
prefeito, coube ao meu partido assumir a administração. Ano passado ganhamos o
estado. Assim podemos afirmar que o partido pelo qual milito fez então barba,
bigode e cabelo.
Talvez o motivo pelo qual não tenha te escrito antes é
justamente esse fato de ter feito barba, bigode e cabelo. A coisa começou a
desandar. Essa crise mundial que ronda por aí, bem perto de você também ronda
por aqui. Em 2012 nós comemorávamos o fato do Brasil ter resistido o primeiro
ataque.
Lembro muito da fala de um amigo meu aqui de Mutum,
sonhador como nós, que diz que uma coisa é ter o mandato, outra coisa é ter o
comando. É verdade.
Em consonância com essa atividade que estou fazendo, é a
publicação do livro do Padre Ronaldo de Manhumirim, que publicou uma série de
crônica. Livro que estou no aguardo para ler.
Estive com as chuteiras penduradas em termos de
militância. Não participo diretamente do governo daqui. Mas não posso dizer que
sou adversário. Existe uma consideração por parte de muitos que fazem parte do
governo. Estou participando do conselho municipal de meio ambiente, CODEMA, mas
estive quase entregando o cargo também.
Alguns companheiros de caminhadas têm me animado, mais
com exemplos que com palavras.
Vou voltar a partilhar ideias de como devemos construir
um socialismo democrático, plural e solidário.
Em tempos de crise de valores morais, corrompidos pelo
capitalismo brutal, fica difícil falar de pluralidade, quando ela de fato
existe, mas não é entendida.
Tenho defendido que estamos vivendo um momento de
descoberta do eu. O eu como sujeito. Estamos tentando colocar fim no eu como
objeto. O dia em que também descobrirmos o outro como outro eu, talvez aí
tenhamos condições de construir essa sociedade socialista, plural, democrática
e solidária.
Por hoje termino por aqui. Preciso adiantar meus afazeres
domésticos.
Um abraço, Camarada Mendes.
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