sábado, 1 de janeiro de 2022

CABEÇA, CORAÇÃO E MUNDO: PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS - XVI

 

 CABEÇA, CORAÇÃO E MUNDO



SÉRIE: PENTALOGIAS DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS


Doravante a série de cinco poemas produzidos durante a semana será postada aos sábados. Começo hoje por crer que não será possível sábado que vem.

E Clarice Lispector disse: Acho que sábado é a rosa da semana. Então vamos confiar na intuição da grande escritora brasileira do meado do século passado.

Se sábado e a rosa da semana, Pétalas semanais precisam ser compartilhadas ao sábado. E a primeira postagem do que provavelmente vai fazer parte do segundo e-book da série. Se você ainda não baixou o primeiro, no final da postagem haverá um link.

Dois poemas são inspirados em Lira dos Vinte Anos de Alvares de Azevedo. Eu os classifico como distopo-góticos, pois eles saem da atmosfera medieva do gótico britânico e se ambienta no caos distópico. Eu não estou mais, representa bem esta singularidade em meus poemas.

Espero que você se entretenha com minha pentalogia desta semana.


PÉTALA SEMANAL – I
 
A SENHORA INGRATA
 
Sempre fico tenso
Quando não posso
Falar o que penso
Fazer o que gosto.
 
O verso que esboço
Ficou sem uma rima
Ainda assim aposto
Na minha obra-prima.
 
Se no mundo encosto
É porque me canso
Pois à beira do fosso
Toda noite eu danço.
 
Eu faço meu esforço
E não tenho preguiça
Mas se trinca o osso
Meu corpo enguiça.
 
E de perto eu vejo
A senhora ingrata
Com foice e o beijo
No abraço que mata.
 
 
 
PÉTALA SEMANAL – II
 
DURMA E SONHE
 
Durma, não acorde para a vida
Que viver é carregar todo peso
Pela cidade, labirinto sem saída
Alma despida
No corpo agreste
Coberto de veste
E desprezo.
 
Durma e sonhe com o paraíso
Inexistente diante de todo olhar
A realidade é apenas improviso
Um aviso
A qualquer navegante
Sobre o azul inebriante
Do mar.
 
Durma na relva e se deixe ficar
Sob o olhar maternal desta lua
Sendo amante do poeta a vagar
De bar em bar
Sem saber o que procura
Evitando que a loucura
O destrua.
 
 
 
PÉTALA SEMANAL III
 
EU MORO NA CABEÇA
 
Eu moro na cabeça de todo mundo
Eu moro na minha, eu moro na sua
Eu me sinto perdido no espaço
Se você estiver com a cabeça na lua.
 
Eu moro na cabeça de todo mundo
Que me vê, que me sente
Ao lembrar o nosso passado
Ou tentar se livrar do presente.
 
Eu moro em tantas cabeças diferentes
Em algumas sou objeto, noutras gente
Em alguma sequer eu tenho cérebro
Em outras às vezes eu sou inteligente.
 
O que eu estou fazendo na sua cabeça?
Expelindo um best seller ou no banho?
Você me conhece ou eu ainda sou estranho?
Não me responda que não é da minha conta
Cuidado, a loucura às vezes apronta.
 
Eu moro na cabeça de quem me lê
E às vezes eu me ausento da minha
Vou para longe em um voo suicida
Kamikaze em uma guerra perdida
Um trem sem freio saindo da linha.
 
Não me expulse da sua cabeça
Ainda que eu seja um parasita
Ainda que eu seja um invasor
Dela minha história necessita.
 
 
PÉTALA SEMANAL – IV
 
EU NÃO ESTOU MAIS
 
Não procure pelo meu ser
Na rua que o neon ilumina
Não sinto mais dor e prazer
Não dobro mais a esquina
Preciso te dizer
No mundo que parou
Por falta de gasolina
Eu não mais estou.
 
Não busque minhas pegadas
Na areia oleosa da praia
Nem sombra sobre calçadas
Em uma cidade que nos caia
Pelas estradas
Do mundo que parou
No calendário maia
Eu não mais estou.
 
Não se ocupe mais comigo
Eu não durmo e nem como
Não preciso mais de abrigo
Nem água fresca eu tomo
Nem me irrigo
No mundo que parou
No Y cromossomo
Eu não mais estou.
 
Prossiga com nossas metas
Atinja os nossos objetivos
Tenha filhas, também netas
Viva entre os que estão vivos
Siga sendo correta
No mundo que parou
Nos arrotos nocivos
Eu não mais estou.
 
Faça o melhor que puder
Agora que tudo deu errado
Eu confio em você, mulher
O humano ficou assexuado
Maria sem José
No mundo que parou
Na falta do Estado
Eu não mais estou.
 
No futuro eu ainda te amarei
No sem-tempo, no sem-espaço
No sem mandamento e sem lei
Sem um beijo, nem um abraço
Disto eu sei
No mundo que parou
No meio da highway
Eu não mais estou.
 
 
PÉTALA SEMANAL – V
 
PÁSSARO APRISIONADO
 
Um coração desesperado
Jogando-se contra a costela
Como se cada osso frágil
Fosse grade de uma cela.
 
É um pássaro aprisionado
Na miudeza de uma gaiola
Que teve seu canto calado
Por uma tristeza que o isola.
 
Mas seu voo rumo ao infinito
Cintila dentro do peito aflito.

 

Feliz 2022!


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(VOLUME 1)

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