segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

O VIVER EM VINTE VERSOS: AMIZADES EM TEMPOS DE PANDEMIA (COLETÂNEA)

 



O VIVER EM VINTE VERSOS

AMIZADES EM TEMPOS DE PANDEMIA

PROJETO APPARERE

EDITORA PERSE

NOTA DO BLOG:     A série de resenhas Vinte Versos foi redenominado de O VIVER EM VINTE VERSOS 

O Projeto Apparere ofereceu aos participantes das suas coletâneas mais uma oportunidade de refletir sobre a pandemia. Lembro que em 2020 uma delas abordou o mundo após ao flagelo de uma doença que se espalhou rapidamente. Agora temos um olhar focado nas relações de amizade. Os versos garimpados de poemas entre contos e crônicas revela a diversidade entre os que perderam amizades para a Covid-19 e aquele que estão na espera do fim para reencontrar e abraçar os amigos. Há também os que nos lembraram do quanto importante foi os recursos virtuais para que amizades fossem mantidas, sabendo que nada substitui o encontro presencial, pois o amigo tem aroma de fé. E a imagem pelas salas virtuais trazia a imagem mas não o cheiro de gente.

 

A interpretação dos versos são pessoais no meu exercício de resenhar a partir de vinte versos escolhidos. E escolher não é fácil. Muitos poetas poderiam ter sido citados aqui. Mas a proposta da série O VIVER EM VINTE VERSOS nos deu o árduo exercício de fechar em apenas vinte.

 

 

 

A amizade é remédio pra alma

POEMA: AMIZADE NA PANDEMIA

POETA: ALESSANDRO LOPES SILVA

Como a coletânea nos remete a uma pandemia, nada melhor do que falar em cura, que ainda não existe uma vez que vacina é prevenção e não cura. O poeta propõe a amizade como cura. Ele relembra momentos em que amizades podem ser tecidas como no ponto de ônibus. Algo mais complicado quando há uma doença contagiosa pelo ar, nos obrigando ao isolamento social.

 

Nem todos resistiram acumulando dor e saudades

POEMA: AMIGOS DO LADO DE LÁ

POETA: ARAI TEREZINHA BORGES DOS SANTOS

Com este verso Arai no coloca uma realidade que entristeceu e enlutou várias famílias pelo mundo. A perda do amigo que foi para o lado de lá. Mas a frente outros participantes da coletânea também mencionam a perda de pessoas queridas.

 

Presos na liberdade

POEMA: ÊXODOS

POETA: CÁSSIO CHARLES BORGES

Partindo da construção do paradoxo, o poeta reflete que presos, cada um em seu quadrado, há um êxodo. Não no sentido de sair, mas de ficar, apesar da liberdade.


Amizade e cumplicidade

POEMA: ABRAÇOS

POETA: FERNANDA PIRES SALES

O abraço, não recomendado por questões de isolamento social, é símbolo da amizade e, sobretudo, de cumplicidade. A espera pelo fim da pandemia para reafirmar no abraço o símbolo maior faz relembrar os sorrisos dos amigos.

 

Fico perdido no torvelino dos meus sonhos

POEMA: DESEJOS OCULTOS

POETA: FILEMON KRAUSE

Como todo o poema é construído com figuras fortes, o primeiro verso fala de eu-lírico perdido no redemoinho dos seus sonhos. Poeta adora sonhar.

 

—Poucos são muitos

POEMA: SE FOI, MAS FICARÁ PRA VIDA TODA

POETA: FRANNCIS ANTUNES

Neste poema que reflete sobre singularidades das amizades, onde poucos são muitos, temos a certeza que amizade não é tempo e nem espaço. É algo que cabe apenas nos sentimentos.

 

Eu preciso de um amigo que me entenda no silêncio.

POEMA: UM AMIGO ASSIM, EU PRECISO

POETA: GIBSON JOSÉ DE SANTANA

Amigo é aquele que entende o outro não só pelo que fala, mas especialmente pelo silêncio. Gibson José de Santana coloca muito bem neste verso o viver profundo de uma amizade.

 

O mapa mundi chorou! De repente tudo ficou Saara

POEMA: AMIZADES PANDÊMICAS

POETA: IVAN DE OLIVEIRA MELO

Uma figura interessante usada pelo poeta é a do deserto mais citado como metáfora para a aridez das relações que a pandemia nos impôs. Mais uma vez o poeta flerta com as figuras de linguagem para enriquecer o seu poema.

 

Nesse manancial de histórias

POEMA: BAILE DE MÁSCARAS

POETA: JANDEILSON GALVÃO BEZERRA

Todo ser humano é um manancial de histórias. Histórias que há no eu-lírico e em todos, mesmo sob máscaras.

 

Para escrever sua verdadeira história

POEMA: EM MEIO À PANDEMIA!

POETA: JOÃO LIBERO

A verdadeira história, em um diálogo ao acaso com o poema anterior, não é a que está sendo, ainda hoje, escrita por esta pandemia. Mas quando esta vírgula no tempo passar e os reencontros acontecerem. A verdadeira história será retomada.

 

Skype, Face, Meet...

POEMA: AMIZADES EM TEMPO DE PANDEMIA

POETA: JOSÉ LUIZ TEIXEIRA DA SILVA

O verso é simbólico por fazer menção das ferramentas que tanto usamos para trabalho e eventos. Sem estás ferramentas para nos proporcionar algo que seja online, teríamos ficados em nossas casas, isolados em um mundo adoecido.

 

Essa amizade é meu eu que se perdeu e retornou

POEMA:VELHA AMIZADE

POETA: LEILA SOUSA

Há neste poema um plot twist por se dizer quando a amizade perdida é a do eu com o eu. Ou seja, a pandemia proporcionou que as pessoas se encontrassem consigo no seu isolamento ou com sua família. Quantos casais se descobriram mais apaixonados ou perceberam que o relacionamento entre eles era mera encenação. Mas antes disto, o principal encontro foi o que cada um teve o seu verdadeiro eu.

 

Na internet todos mentem bem.

POEMA: A GENTE DÁ UM JEITINHO

POETA: LEONARDO FERNANDES LANDIM

Uma realidade nua e crua em que o poeta usa para este verso. O jeitinho que temos para dizer que estamos bem. A edição da imagem, o querer parecer bem, foi uma constante nos encontros virtuais.

 

 

fica este amargo vazio pela falta absoluta do seu olhar.

POEMA: 2021.03.24

MARCEL LUIZ

A falta de quem partiu. O poeta fala de alguém que viveu pouco. A data deve ser referência ao dia da partida de alguém muito querido por ele. Dos Santos é quem deixou o vazio amargo. A perda das pessoas, e a economia não foi salva, vai ser um amargo vazio na história de casais e famílias ao longo do tempo. E nada vai preenchê-lo, nada vai curá-lo.

 

O véu sobre mente balança ao vento entre a ilusão e boletins médicos.

POEMA: ESPERA

POETA: MARLENE ARAÚJO

É o título de poema que mais me encantou na coletânea. E a espera aqui não é pelo fim da pandemia, mas a espera pela cura ou pelo desfecho não desejado. Por isso a conjugação do abstrato (ilusão) com o concreto (boletins médicos) dá ao verso de Marlene Araújo uma construção ímpar que gosto e uso em meus poemas quando possível.

 

 

Além da endorfina

POEMA: ISSO É AMIZADE

POETA: MIGUEL FORTES

Aqui também se aplica a observação anterior. É a química da amizade, do encontro, ainda que virtual, dando concretude à amizade. Mas o verso diz, não é somente algo orgânico representado aqui por um dos hormônios do conforto.

 

A dita quarentena ajustou as “antenas”

POEMA: AS VERDADEIRAS

POETA: PATRICIA DE CAMPOS OCCHIUCCI

Fantástica a construção do verso. A quarentena que faz cada um encontrar consigo fez um ajuste de antena, de sintonização, do que realmente somos, na nossa pequenez e nos nossos grandes sonhos.

 

 

Silentes cientes carentes

POEMA: S.O.G.I.M.A

POETA: PAULO FLORES

Neste verso o poeta revela como as pessoas estão ficando. Em silêncio, ciente do que está no mundo e da nossa limitação humana e carente do encontro com o amigo. O mundo pareceu durante os tempos de pandemia um estonteante cubismo.

 

Amigo é aroma de fé

POEMA: ROCHA MORADA

POETA: PAULO ROBERTO SILVA

O amigo tem cheiro de Deus. Revela algo que não podemos explicar mas que sabemos que está nos confortando nos momentos difíceis das nossas vidas. Gostei muito desta definição de amigo trago aqui por Paulo Roberto Silva.

 

E nos abraçamos no brilho do olhar

POEMA: A LEI DA DISTÂNCIA

POETA: RAFA JOSÉ

Abraçar no brilho do olhar foi o possível na prevenção do contágio. O olhar revelava alegria e tristeza. A leitura dos olhos dos outros, e começamos a ficar especialistas nesta linguagem, é que dava a dimensão dos dramas vivenciados e das alegrias proporcionada por reencontros. E mesmo na virtualidade, dava para saber o que se passava dentro de cada um mirando naquilo que é a janela da alma, os olhos.


LINK PARA VINTE VERSOS

TODO MUNDO ESTÁ EM CASA?!

SOBRE O LIVRO

Nota do blog: Temos dois exemplares caso alguém se interesse.

Link Pela Editora

PERSE



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