O VIVER EM VINTE VERSOS
AMIZADES EM
TEMPOS DE PANDEMIA
PROJETO APPARERE
EDITORA PERSE
O Projeto Apparere ofereceu aos participantes das suas coletâneas
mais uma oportunidade de refletir sobre a pandemia. Lembro que em 2020 uma delas abordou o mundo após ao flagelo de
uma doença que se espalhou rapidamente. Agora temos um olhar focado nas
relações de amizade. Os versos garimpados de poemas entre contos e crônicas revela
a diversidade entre os que perderam amizades para a Covid-19 e aquele que estão
na espera do fim para reencontrar e abraçar os amigos. Há também os que nos
lembraram do quanto importante foi os recursos virtuais para que amizades
fossem mantidas, sabendo que nada substitui o encontro presencial, pois o amigo
tem aroma de fé. E a imagem pelas salas virtuais trazia a imagem mas não o
cheiro de gente.
A interpretação dos versos são pessoais no meu exercício de
resenhar a partir de vinte versos escolhidos. E escolher não é fácil. Muitos poetas
poderiam ter sido citados aqui. Mas a proposta da série O VIVER EM VINTE VERSOS
nos deu o árduo exercício de fechar em apenas vinte.
A amizade é remédio pra alma
POEMA: AMIZADE NA PANDEMIA
POETA: ALESSANDRO LOPES SILVA
Como a coletânea nos remete a uma pandemia, nada melhor do
que falar em cura, que ainda não existe uma vez que vacina é prevenção e não
cura. O poeta propõe a amizade como cura. Ele relembra momentos em que amizades
podem ser tecidas como no ponto de ônibus. Algo mais complicado quando há uma
doença contagiosa pelo ar, nos obrigando ao isolamento social.
Nem todos resistiram
acumulando dor e saudades
POEMA: AMIGOS DO LADO DE LÁ
POETA: ARAI TEREZINHA BORGES DOS SANTOS
Com este verso Arai no coloca uma realidade que entristeceu
e enlutou várias famílias pelo mundo. A perda do amigo que foi para o lado de
lá. Mas a frente outros participantes da coletânea também mencionam a perda de
pessoas queridas.
Presos na liberdade
POEMA: ÊXODOS
POETA: CÁSSIO CHARLES BORGES
Partindo da construção do paradoxo, o poeta reflete que
presos, cada um em seu quadrado, há um êxodo. Não no sentido de sair, mas de
ficar, apesar da liberdade.
Amizade e cumplicidade
POEMA: ABRAÇOS
POETA: FERNANDA PIRES SALES
O abraço, não recomendado por questões de isolamento social,
é símbolo da amizade e, sobretudo, de cumplicidade. A espera pelo fim da
pandemia para reafirmar no abraço o símbolo maior faz relembrar os sorrisos dos
amigos.
Fico perdido no torvelino dos meus sonhos
POEMA: DESEJOS OCULTOS
POETA: FILEMON KRAUSE
Como todo o poema é construído com figuras fortes, o
primeiro verso fala de eu-lírico perdido no redemoinho dos seus sonhos. Poeta
adora sonhar.
—Poucos são muitos
POEMA: SE FOI, MAS FICARÁ PRA VIDA TODA
POETA: FRANNCIS ANTUNES
Neste poema que reflete sobre singularidades das amizades,
onde poucos são muitos, temos a certeza que amizade não é tempo e nem espaço. É
algo que cabe apenas nos sentimentos.
Eu preciso de um amigo que me entenda no silêncio.
POEMA: UM AMIGO ASSIM, EU PRECISO
POETA: GIBSON JOSÉ DE SANTANA
Amigo é aquele que entende o outro não só pelo que fala, mas
especialmente pelo silêncio. Gibson José de Santana coloca muito bem neste
verso o viver profundo de uma amizade.
O mapa mundi chorou! De repente tudo ficou Saara
POEMA: AMIZADES PANDÊMICAS
POETA: IVAN DE OLIVEIRA MELO
Uma figura interessante usada pelo poeta é a do deserto mais
citado como metáfora para a aridez das relações que a pandemia nos impôs. Mais
uma vez o poeta flerta com as figuras de linguagem para enriquecer o seu poema.
Nesse manancial de histórias
POEMA: BAILE DE MÁSCARAS
POETA: JANDEILSON GALVÃO BEZERRA
Todo ser humano é um manancial de histórias. Histórias que
há no eu-lírico e em todos, mesmo sob máscaras.
Para escrever sua verdadeira história
POEMA: EM MEIO À PANDEMIA!
POETA: JOÃO LIBERO
A verdadeira história, em um diálogo ao acaso com o poema
anterior, não é a que está sendo, ainda hoje, escrita por esta pandemia. Mas quando
esta vírgula no tempo passar e os reencontros acontecerem. A verdadeira
história será retomada.
Skype, Face, Meet...
POEMA: AMIZADES EM TEMPO DE PANDEMIA
POETA: JOSÉ LUIZ TEIXEIRA DA SILVA
O verso é simbólico por fazer menção das ferramentas que
tanto usamos para trabalho e eventos. Sem estás ferramentas para nos
proporcionar algo que seja online, teríamos ficados em nossas casas, isolados
em um mundo adoecido.
Essa amizade é meu eu que se perdeu e retornou
POEMA:VELHA AMIZADE
POETA: LEILA SOUSA
Há neste poema um plot twist por se dizer quando a amizade
perdida é a do eu com o eu. Ou seja, a pandemia proporcionou que as pessoas se
encontrassem consigo no seu isolamento ou com sua família. Quantos casais se
descobriram mais apaixonados ou perceberam que o relacionamento entre eles era
mera encenação. Mas antes disto, o principal encontro foi o que cada um teve o
seu verdadeiro eu.
Na internet todos mentem bem.
POEMA: A GENTE DÁ UM JEITINHO
POETA: LEONARDO FERNANDES LANDIM
Uma realidade nua e crua em que o poeta usa para este verso.
O jeitinho que temos para dizer que estamos bem. A edição da imagem, o querer
parecer bem, foi uma constante nos encontros virtuais.
fica este amargo vazio pela falta absoluta do seu olhar.
POEMA: 2021.03.24
MARCEL LUIZ
A falta de quem partiu. O poeta fala de alguém que viveu
pouco. A data deve ser referência ao dia da partida de alguém muito querido por
ele. Dos Santos é quem deixou o vazio amargo. A perda das pessoas, e a economia
não foi salva, vai ser um amargo vazio na história de casais e famílias ao
longo do tempo. E nada vai preenchê-lo, nada vai curá-lo.
O véu sobre mente balança ao vento entre a ilusão e boletins
médicos.
POEMA: ESPERA
POETA: MARLENE ARAÚJO
É o título de poema que mais me encantou na coletânea. E a
espera aqui não é pelo fim da pandemia, mas a espera pela cura ou pelo desfecho
não desejado. Por isso a conjugação do abstrato (ilusão) com o concreto
(boletins médicos) dá ao verso de Marlene Araújo uma construção ímpar que gosto
e uso em meus poemas quando possível.
Além da endorfina
POEMA: ISSO É AMIZADE
POETA: MIGUEL FORTES
Aqui também se aplica a observação anterior. É a química da
amizade, do encontro, ainda que virtual, dando concretude à amizade. Mas o
verso diz, não é somente algo orgânico representado aqui por um dos hormônios do
conforto.
A dita quarentena ajustou as “antenas”
POEMA: AS VERDADEIRAS
POETA: PATRICIA DE CAMPOS OCCHIUCCI
Fantástica a construção do verso. A quarentena que faz cada
um encontrar consigo fez um ajuste de antena, de sintonização, do que realmente
somos, na nossa pequenez e nos nossos grandes sonhos.
Silentes cientes carentes
POEMA: S.O.G.I.M.A
POETA: PAULO FLORES
Neste verso o poeta revela como as pessoas estão ficando. Em
silêncio, ciente do que está no mundo e da nossa limitação humana e carente do
encontro com o amigo. O mundo pareceu durante os tempos de pandemia um
estonteante cubismo.
Amigo é aroma de fé
POEMA: ROCHA MORADA
POETA: PAULO ROBERTO SILVA
O amigo tem cheiro de Deus. Revela algo que não podemos explicar
mas que sabemos que está nos confortando nos momentos difíceis das nossas
vidas. Gostei muito desta definição de amigo trago aqui por Paulo Roberto
Silva.
E nos abraçamos no brilho do olhar
POEMA: A LEI DA DISTÂNCIA
POETA: RAFA JOSÉ
Abraçar no brilho do olhar foi o possível na prevenção do contágio.
O olhar revelava alegria e tristeza. A leitura dos olhos dos outros, e
começamos a ficar especialistas nesta linguagem, é que dava a dimensão dos
dramas vivenciados e das alegrias proporcionada por reencontros. E mesmo na
virtualidade, dava para saber o que se passava dentro de cada um mirando naquilo
que é a janela da alma, os olhos.
LINK PARA VINTE VERSOS
SOBRE O LIVRO
Nota do blog: Temos dois exemplares caso alguém se interesse.
Link Pela Editora
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