SETE FACES DOS POEMAS em
A HUMANIDADE PÓS PANDEMIA:
TODA LONGA HISTÓRIA EXIGE UM LONGO RECOMEÇO
COLETÂNEA DE POEMAS, CONTOS E CRÔNICAS
PROJETO APPARERE
EDITORA: PerSe
ANO: 2020
A Coletânea de poemas, contos e crônicas conta com 133 contos selecionados. Com a temática focada na realidade vindoura pós pandemia, sugestão de C. Jos Bravo, a 33ª obra do projeto Apparere tem a capa produzida por Marcelo Tau.
Considerando nosso objetivo de analisar poemas que apresentam ligações com as sete estrofes que compõe o Poema de Sete Faces de Carlos Drummond de Andrade, procuramos nos textos em versos trechos que nos fazem lembrar desta pérola poética do “homem de Itabira”.
A maioria dos textos traz um tom otimista, ressaltando a descoberta de que a solidariedade se faz necessária, contrapondo ao tom pessimista e intimista de Drummond. Ainda assim há aquelas e aqueles que verão na nova humanidade velhas atitudes.
Como de praxe não analisei o poema de minha autoria, Reencontros, que também está na coletânea e que serviu de posfácio em Versos Infectantes: (Mó)mentos de uma pandemia.
O desafio será buscar nas reflexões dos colegas da coletânea
conexões com a concisão de Drummond. Espero que eu possa contribuir com minhas
singularidade na expansão dos objetivos de cada autor(a) mencionado(a).
FACE I
“Nossa íntima natureza
nos revela:
que a essência é
selvagem,
de instintos
primitivos.”
Alberto Dos Anjos Costa // Íntima Natureza.
O poeta nos revela que podemos ter instintos primitivos como uma predestinação, que ao mesmo somos também o cultivar do amor sublime. Esta é os dois lados da moeda que trazemos. Qual anjo ouvimos?
“Me apresso em tatear
o meu sentir,
esmoreço
pois, percebo que não guardo
esperanças em meu coração.”
Illana Mascarenhas // 2021 d.C.
O gauche, como metáfora do estranho, assume aqui toda sua
agonia a sentir-se esmorecendo diante do futuro nebuloso, visto nos olhares
humanos. Impressões parecidas com a do poeta itabirano ao observar a cidade.
“E com cada destroço,
iremos reconstruindo um novo mundo.”
MARCELO CANTO // Quando Tudo Passar
As notícias desanimadoras faz com que não o poeta, mas o
mundo seja o gauche da história. Cabe ao poeta ver a possibilidade de um mundo
novo a partir dos destroços.
“Sou gerúndio da casualidade
Bicho do mundo mudado
Andarilho sem estrada
Intrépido assustado”
MARCUS DEMINCO // Bicho do Mundo Mudado
A relação é o cunho autobiográfico de um eu-lírico. Ser
gauche na vida é como andar sem estrada, vivendo de casualidades.
“Nasci pobre
Desprovido de ouro
Um fato de nascença
Uma longa história”
NATÂNI DA SILVA // Berço?
Aqui o eu-lírico começa se apresentando o seu eu desde o
nascimento como em Sete Faces. Qual a diferença entre nascer pobre e ouvir um
anjo que vive nas sombras? Os dois fatos marcam uma longa história para ambos.
FACE II
“Quando tudo isso
acabar,
Vou fazer um jantar
pra nós dois
Vou te esperar para
jantar
E fazer amor depois”
ALINE ÁGUIDA LIMA // Meu Bem Querer
A busca pelo amor presente a esperança de poder reencontrar
o amado após a pandemia. É o desejo presente, o mesmo dos homens que correm
atrás das mulheres.
“A mulher em casa
encara
O poço
Dos olhos do marido
Em água viva”
JULIANA FALCÃO // Água
O ambiente nesta estrofe sai da rua e vem para dentro da
casa. A mulher assume o papel de observadora do marido. A observação das buscas
e o papel feminino nesta relação ganha neste poema um contexto mais atual que em Sete Faces.
“Hoje, sei que não
posso
Ter o teu abraço
Mas para mim, és a
essência
Que deixastes laços”
ROBERTO PAIXÃO // Poema Pandêmico
A busca aqui não é a corrida atrás das mulheres, mas espera
pelo tempo pós pandêmico para reencontrá-la. Quem sabe para um jantar a dois,
conectando com o poema acima de Aline Águida Lima e uma música do Kid Abelha,
Por que não eu?
FACE
III
“Seremos quem sabe
mais digitais,
Nem por isso mais
presentes.”
CAMILA DE ARAUJO CABRAL // Reflexões Sobre O “Novo Mundo”
As reflexões sobre o novo mundo de Camila de Araujo Cabral
vai de encontro ao sentimento expressado por Drummond quando se sente
desconfortável com tantas pessoas e sua solidão. O alerta da poeta aqui está
ligado ao sentimento de Carlos na sua condição de gauche.
“Estamos conectados,
mas ainda solitários.
Somos modernos e
mal-humorados.”
EDUARDO CALDEIRA // E Se Pudéssemos Voltar No Tempo?
As pernas no bonde pode aqui ser substituídas pelos rostos
na tela em vídeos-conferências tão usuais em tempos de home office. Mas a solidão é a mesma, insubstituível.
“Cenário difícil,
Ambiente poluído, Planeta lotado,
Sociedade desigual.”
FÁBIO SANTOS // Antropo Cena
A percepção de Drummond quando pergunta a Deus porque tantas
pernas é uma constatação de que o planeta (cidade) está lotado, gente demais que
deixa o poeta desconfortável.
“A engrenagem não
pensa nem tem escrúpulos”
MAURO EUSTAQUIO PEIXOTO // Literat Alucina
A observação em Sete Faces é de uma engrenagem urbana
funcionando. Aqui temos a adjetivação desta engrenagem dando a ela comportamentos
humanos, uma vez que são os poderosos que criam tal maquinaria do sistema.
“Pandemia, anemia da
saúde, anemia social!
Social sem sociedade?
Sociedade dispersa!”
MICAEL ARAÚJO ANDRADE // Anemia Social
O poeta aqui analisa a sociedade na qual Drummond estava
observando em seu poema. É uma dispersão sistêmica que nos leva à conclusão de
que o poeta observa separações na multidão.
“Nunca se olhou tanto
para ruas vazias,
Nunca se viu tanto
luto na rua.”
VERONICA STIVANIM // Ressignificação
Este cenário é o que Drummond teria se estivesse hoje
conosco, passando pela singularidade de uma pandemia. Ruas vazias em vez de
tantas pernas.
FACE IV
“Um Planeta diferente
Bem mais resiliente”
ALESSANDRA DE AZEVEDO COSTA CALIXTO // Pós Pandemia
Resiliência é a conexão entre este poema e Drummond com seu
homem atrás do bigode, sério. A vida adulta, sem extravagância. Sem poluir e
poluir-se e mais cuidadoso com a saúde. Para a poeta nos tornaremos mais
adultos a partir da pandemia. Tomara que ela tenha razão.
“Olho e vejo...”
ELIZABETE BASTOS DA SILVA // Olhar – Esperança!
O homem atrás do bigode termina a estrofe também sendo o
homem atrás dos óculos que olha a cidade e agora vê com seriedade a cidade
assim como a poeta olha e vê o medo, a insegurança, a doença, o caos, a
desigualdade. E nas demais estrofes ela vê muito mais. Mas há esperança, talvez
com a maturidade do poema anterior poderemos ter esperança.
“Resiliente é muito
mais que
Excelente?!”
MÁRCIO ANDRÉ SILVA GARCIA // A Quarentena Ensinou A Amar
É como se o poeta aqui dissesse para o poeta do Poema das
Sete Faces que era preciso amar. Ninguém
deve ser esquecido. Há também um diálogo com o primeiro poema desta face em
que o nosso aprendizado sobre o amor vai fazer o Planeta ser diferente.
FACE V
“É isso, só pode ser
visto por aqueles que enxergam um novo Éden.”
ADRIANO BESEN // Manifesto Da Nova Era
A conexão com Drummond em sua quinta estrofe se dá pela
linguagem bíblica. Mas há uma contraposição. Drummond evoca a imagem do
Calvário e o poeta aqui evoca um novo Éden a ser visto somente por aqueles que
têm fé.
“A vida não é só um
sopro”
GIOVANA FERNANDES LEITE // Memórias Futuras
A poeta quer que nós, mesmo nos sentindo abandonados,
podemos ser mais, procurar mais e lembrar que viemos do sopro, nós somos mais
que sopros, mais que corpos.
“PÓS PANDEMIA, QUEM SOU?
Quem se permitiu
mudou,
Tornou-se um ser
humano melhor,”
MALU DIONÍSIA // Pós Pandemia, Quem Somos?
Somo fracos, abandonados? Não somos deuses. Mas como humanos
podemos mudar, tornar-se melhor. A pandemia nos proporcionou um momento de
lamentos. A pergunta quem somos certamente foi feita por todos nós. Uns
buscaram crescimento, outros se entregaram.
“mais bela que a
Babilônia!”
OTÁVIO BERNARDES // Somos O Farol Do Mundo!!
A Babilônia do cativeiro é a Babilônia que faz lembrar das
verdes pastagens. Aqui temos mais que verdes pastagens, temos a Amazônia. Não é
preciso ir para Pasárgada. É preciso ficar em lutar pelo nosso país. Esta é a
mensagem do poema a partir de uma referência a um lugar em que o povo de Deus
foi cativo.
“Hoje oro pelo futuro
que espero
Acreditando que a
piedade divina
Ajude-me da vida que
quero”
SALVADOR ADDAS ZANATA // Gente É Bom
O poeta aqui é um eu-lírico religioso. Mas a piedade de Deus
permite que Ele seja louvado e também questionado quando seu filho se sinta uma
ovelha perdida.
FACE VI
“Sobre o que falar?
Sobre essa situação
claustrofóbica?
Sobre o que um vírus
pode causar na humanidade?
Sobre soluções de
chegada para ver quem pode lucrar?”
FABERSON MAMEDE DA SILVA // A Clareza Da Minha Visão. Meu Olhar Dessa Situação.
O poeta aqui questiona o vasto mundo de Drummond. Agora a
vastidão está passando por uma pandemia. Mas a sede de lucro visto na reflexão
de Drummond em que a rima não seria uma solução para suas questões existências,
aqui a dúvida é que vai lucrar no final? Ao contrário da poesia, a pandemia foi
vista como possibilidade de lucro como vimos na CPI.
“Mas, a visão de poeta
que bebe da vida
reverência as
disparidades,
as lutas e as guerras
enraizadas no universo
de cada ser.”
JOELMA COUTO // Semente
A metalinguagem da sexta estrofe aparece aqui ao mencionar a
visão do poeta que enxerga disparidades. Drummond é um ébrio quando se falar em
beber da vida. Ele contrapõe o fazer poético com o trabalhar para a
subsistência. O mundo pós pandemia segue vendo rendimentos financeiros acima de
rendimentos culturais com a arte, bem mencionado no poema anterior.
“Pois preferira pegar
seu livro de poesia
E com ele começar as
leituras do dia...”
JULIANA PEDROSO BRUNS // A Cura – A Luz
Ana Julia, personagem do poema prefere a poesia. Mas naquele
dia algo diferente estava acontecendo. Na vida de Carlos, o gauche, todo dia
ele tinha que buscar a solução que não estava na rima (poesia). O vasto coração
ainda que mais vasto que o mundo, precisa compreender a sociedade e o que há de
relevante para não arriscar a sobrevivência. Ana Julia e Carlos estão no mesmo
dilema.
FACE
VII
“O tempo veio, para
dar tempo da gente se sentir,
E se revisitar,
Se reencontrar.”
GABRIELLE STUQUE SAMPAIO GROBLACKNER // Um Novo Mundo
Para Drummond, a noite é tempo de refletir. Este tempo
também existe para a poeta, tempos de sentir, revisitar, reencontrar. A pós
pandemia é a noite de Drummond. Ao contrário, para o poeta, a noite é que nos
liberta, e não o dia que nos aprisiona na busca por subsistência.
“Noites tristes de
confinamento
Muito silêncio...
Muito pensamentos...”
GILSON CLEMENTE // Covarde Covid
Na tristeza do confinamento é que podemos viajar nos
pensamentos e pescar deles versos primorosos como tantos que fazem parte desta
coletânea. Drummond sabe aproveitar a noite depois das observações de uma
cidade com tanta gente, com tantos desejos, de saber que a rima não é a
solução. Há uma realidade que o poeta aqui aponta e não pode ser menosprezada.
A perda de amigos e a vontade que a vida se refaça. A poesia nos permite
exprimir nossas noites tristes de diversas maneira. O silêncio tem sido gritante.
“Será tempo de guerra,
ou tempo de paz?
Tempo de crescimento,
ou tempo de incerteza?”
MARCO DI SILVANNI // Doce Delírio
Seria a noite de Drummond um doce delírio de deixar a gente
comovido como o diabo? Partindo da ideia que a pós pandemia seria a noite de
refletir e ver o mundo com mais clareza. Que tempos pandêmicos não se diferente
de tempos cativos na normalidade, temos as questões levantadas pelo poeta
daqui. Troquemos a palavra tempo por
noite de Drummond. Sim, será
tempo/noite de paz, de crescimento e, sobretudo, de poesia.
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