domingo, 5 de dezembro de 2021

SETE FACES DOS POEMAS em A HUMANIDADE PÓS PANDEMIA

SETE FACES DOS POEMAS em 

A HUMANIDADE PÓS PANDEMIA:

TODA LONGA HISTÓRIA EXIGE UM LONGO RECOMEÇO


COLETÂNEA DE POEMAS, CONTOS E CRÔNICAS
PROJETO APPARERE
EDITORA: PerSe
ANO: 2020

A Coletânea de poemas, contos e crônicas conta com 133 contos selecionados. Com a temática focada na realidade vindoura pós pandemia, sugestão de C. Jos Bravo, a 33ª obra do projeto Apparere tem a capa produzida por Marcelo Tau.

Considerando nosso objetivo de analisar poemas que apresentam ligações com as sete estrofes que compõe o Poema de Sete Faces de Carlos Drummond de Andrade, procuramos nos textos em versos trechos que nos fazem lembrar desta pérola poética do “homem de Itabira”.

A maioria dos textos traz um tom otimista, ressaltando a descoberta de que a solidariedade se faz necessária, contrapondo ao tom pessimista e intimista de Drummond. Ainda assim há aquelas e aqueles que verão na nova humanidade velhas atitudes.

Como de praxe não analisei o poema de minha autoria, Reencontros, que também está na coletânea e que serviu de posfácio em Versos Infectantes: (Mó)mentos de uma pandemia.

O desafio será buscar nas reflexões dos colegas da coletânea conexões com a concisão de Drummond. Espero que eu possa contribuir com minhas singularidade na expansão dos objetivos de cada autor(a) mencionado(a).

 

FACE I

 

Nossa íntima natureza nos revela:

que a essência é selvagem,

de instintos primitivos.”

Alberto Dos Anjos Costa // Íntima Natureza.

O poeta nos revela que podemos ter instintos primitivos como uma predestinação, que ao mesmo somos também o cultivar do amor sublime. Esta é os dois lados da moeda que trazemos. Qual anjo ouvimos?


Me apresso em tatear o meu sentir,

esmoreço

pois, percebo que não guardo esperanças em meu coração.”

Illana Mascarenhas // 2021 d.C.

O gauche, como metáfora do estranho, assume aqui toda sua agonia a sentir-se esmorecendo diante do futuro nebuloso, visto nos olhares humanos. Impressões parecidas com a do poeta itabirano ao observar a cidade.

 

E com cada destroço, iremos reconstruindo um novo mundo.”

MARCELO CANTO // Quando Tudo Passar

As notícias desanimadoras faz com que não o poeta, mas o mundo seja o gauche da história. Cabe ao poeta ver a possibilidade de um mundo novo a partir dos destroços.

 

Sou gerúndio da casualidade

Bicho do mundo mudado

Andarilho sem estrada

Intrépido assustado

MARCUS DEMINCO // Bicho do Mundo Mudado

A relação é o cunho autobiográfico de um eu-lírico. Ser gauche na vida é como andar sem estrada, vivendo de casualidades.

 

Nasci pobre

Desprovido de ouro

Um fato de nascença

Uma longa história

NATÂNI DA SILVA // Berço?

Aqui o eu-lírico começa se apresentando o seu eu desde o nascimento como em Sete Faces. Qual a diferença entre nascer pobre e ouvir um anjo que vive nas sombras? Os dois fatos marcam uma longa história para ambos.

 



FACE II

 

Quando tudo isso acabar,

Vou fazer um jantar pra nós dois

Vou te esperar para jantar

E fazer amor depois

ALINE ÁGUIDA LIMA // Meu Bem Querer

A busca pelo amor presente a esperança de poder reencontrar o amado após a pandemia. É o desejo presente, o mesmo dos homens que correm atrás das mulheres.

 

A mulher em casa encara

O poço

Dos olhos do marido

Em água viva

JULIANA FALCÃO // Água

O ambiente nesta estrofe sai da rua e vem para dentro da casa. A mulher assume o papel de observadora do marido. A observação das buscas e o papel feminino nesta relação ganha neste poema um contexto mais atual que em Sete Faces.

 

Hoje, sei que não posso

Ter o teu abraço

Mas para mim, és a essência

Que deixastes laços

ROBERTO PAIXÃO // Poema Pandêmico

A busca aqui não é a corrida atrás das mulheres, mas espera pelo tempo pós pandêmico para reencontrá-la. Quem sabe para um jantar a dois, conectando com o poema acima de Aline Águida Lima e uma música do Kid Abelha, Por que não eu?

 

 

FACE III

 

Seremos quem sabe mais digitais,

Nem por isso mais presentes.”

CAMILA DE ARAUJO CABRAL // Reflexões Sobre O “Novo Mundo”

As reflexões sobre o novo mundo de Camila de Araujo Cabral vai de encontro ao sentimento expressado por Drummond quando se sente desconfortável com tantas pessoas e sua solidão. O alerta da poeta aqui está ligado ao sentimento de Carlos na sua condição de gauche.

 

Estamos conectados, mas ainda solitários.

Somos modernos e mal-humorados.”

EDUARDO CALDEIRA // E Se Pudéssemos Voltar No Tempo?

As pernas no bonde pode aqui ser substituídas pelos rostos na tela em vídeos-conferências tão usuais em tempos de home office. Mas a solidão é a mesma, insubstituível.

 

Cenário difícil, Ambiente poluído, Planeta lotado,

Sociedade desigual.

FÁBIO SANTOS // Antropo Cena

A percepção de Drummond quando pergunta a Deus porque tantas pernas é uma constatação de que o planeta (cidade) está lotado, gente demais que deixa o poeta desconfortável.

 

A engrenagem não pensa nem tem escrúpulos

MAURO EUSTAQUIO PEIXOTO // Literat Alucina

A observação em Sete Faces é de uma engrenagem urbana funcionando. Aqui temos a adjetivação desta engrenagem dando a ela comportamentos humanos, uma vez que são os poderosos que criam tal maquinaria do sistema.

 

Pandemia, anemia da saúde, anemia social!

Social sem sociedade?

Sociedade dispersa!

MICAEL ARAÚJO ANDRADE // Anemia Social

O poeta aqui analisa a sociedade na qual Drummond estava observando em seu poema. É uma dispersão sistêmica que nos leva à conclusão de que o poeta observa separações na multidão.

 

Nunca se olhou tanto para ruas vazias,

Nunca se viu tanto luto na rua.

VERONICA STIVANIM // Ressignificação

Este cenário é o que Drummond teria se estivesse hoje conosco, passando pela singularidade de uma pandemia. Ruas vazias em vez de tantas pernas.

 

 

FACE IV

 

Um Planeta diferente

Bem mais resiliente

ALESSANDRA DE AZEVEDO COSTA CALIXTO // Pós Pandemia

Resiliência é a conexão entre este poema e Drummond com seu homem atrás do bigode, sério. A vida adulta, sem extravagância. Sem poluir e poluir-se e mais cuidadoso com a saúde. Para a poeta nos tornaremos mais adultos a partir da pandemia. Tomara que ela tenha razão.

 

Olho e vejo...

ELIZABETE BASTOS DA SILVA // Olhar – Esperança!

O homem atrás do bigode termina a estrofe também sendo o homem atrás dos óculos que olha a cidade e agora vê com seriedade a cidade assim como a poeta olha e vê o medo, a insegurança, a doença, o caos, a desigualdade. E nas demais estrofes ela vê muito mais. Mas há esperança, talvez com a maturidade do poema anterior poderemos ter esperança.

 

Resiliente é muito mais que

Excelente?!

MÁRCIO ANDRÉ SILVA GARCIA // A Quarentena Ensinou A Amar

É como se o poeta aqui dissesse para o poeta do Poema das Sete Faces que era preciso amar. Ninguém deve ser esquecido. Há também um diálogo com o primeiro poema desta face em que o nosso aprendizado sobre o amor vai fazer o Planeta ser diferente.

 

 


FACE V

 

É isso, só pode ser visto por aqueles que enxergam um novo Éden.

ADRIANO BESEN // Manifesto Da Nova Era

A conexão com Drummond em sua quinta estrofe se dá pela linguagem bíblica. Mas há uma contraposição. Drummond evoca a imagem do Calvário e o poeta aqui evoca um novo Éden a ser visto somente por aqueles que têm fé.

 

A vida não é só um sopro

GIOVANA FERNANDES LEITE // Memórias Futuras

A poeta quer que nós, mesmo nos sentindo abandonados, podemos ser mais, procurar mais e lembrar que viemos do sopro, nós somos mais que sopros, mais que corpos.

 

PÓS PANDEMIA, QUEM SOU?

Quem se permitiu mudou,

Tornou-se um ser humano melhor,

MALU DIONÍSIA // Pós Pandemia, Quem Somos?

Somo fracos, abandonados? Não somos deuses. Mas como humanos podemos mudar, tornar-se melhor. A pandemia nos proporcionou um momento de lamentos. A pergunta quem somos certamente foi feita por todos nós. Uns buscaram crescimento, outros se entregaram.

 

mais bela que a Babilônia!

OTÁVIO BERNARDES // Somos O Farol Do Mundo!!

A Babilônia do cativeiro é a Babilônia que faz lembrar das verdes pastagens. Aqui temos mais que verdes pastagens, temos a Amazônia. Não é preciso ir para Pasárgada. É preciso ficar em lutar pelo nosso país. Esta é a mensagem do poema a partir de uma referência a um lugar em que o povo de Deus foi cativo.

 

Hoje oro pelo futuro que espero

Acreditando que a piedade divina

Ajude-me da vida que quero

SALVADOR ADDAS ZANATA // Gente É Bom

O poeta aqui é um eu-lírico religioso. Mas a piedade de Deus permite que Ele seja louvado e também questionado quando seu filho se sinta uma ovelha perdida.

 

 

FACE VI

 

Sobre o que falar?

Sobre essa situação claustrofóbica?

Sobre o que um vírus pode causar na humanidade?

Sobre soluções de chegada para ver quem pode lucrar?

FABERSON MAMEDE DA SILVA // A Clareza Da Minha Visão. Meu Olhar Dessa Situação.

O poeta aqui questiona o vasto mundo de Drummond. Agora a vastidão está passando por uma pandemia. Mas a sede de lucro visto na reflexão de Drummond em que a rima não seria uma solução para suas questões existências, aqui a dúvida é que vai lucrar no final? Ao contrário da poesia, a pandemia foi vista como possibilidade de lucro como vimos na CPI.

 

Mas, a visão de poeta

que bebe da vida

reverência as disparidades,

as lutas e as guerras

enraizadas no universo de cada ser.

JOELMA COUTO // Semente

A metalinguagem da sexta estrofe aparece aqui ao mencionar a visão do poeta que enxerga disparidades. Drummond é um ébrio quando se falar em beber da vida. Ele contrapõe o fazer poético com o trabalhar para a subsistência. O mundo pós pandemia segue vendo rendimentos financeiros acima de rendimentos culturais com a arte, bem mencionado no poema anterior.

 

Pois preferira pegar seu livro de poesia

E com ele começar as leituras do dia...

JULIANA PEDROSO BRUNS // A Cura – A Luz

Ana Julia, personagem do poema prefere a poesia. Mas naquele dia algo diferente estava acontecendo. Na vida de Carlos, o gauche, todo dia ele tinha que buscar a solução que não estava na rima (poesia). O vasto coração ainda que mais vasto que o mundo, precisa compreender a sociedade e o que há de relevante para não arriscar a sobrevivência. Ana Julia e Carlos estão no mesmo dilema.

 

 

FACE VII

 

O tempo veio, para dar tempo da gente se sentir,

E se revisitar,

Se reencontrar.”

GABRIELLE STUQUE SAMPAIO GROBLACKNER // Um Novo Mundo

Para Drummond, a noite é tempo de refletir. Este tempo também existe para a poeta, tempos de sentir, revisitar, reencontrar. A pós pandemia é a noite de Drummond. Ao contrário, para o poeta, a noite é que nos liberta, e não o dia que nos aprisiona na busca por subsistência.

 

Noites tristes de confinamento

Muito silêncio...

Muito pensamentos...

GILSON CLEMENTE // Covarde Covid

Na tristeza do confinamento é que podemos viajar nos pensamentos e pescar deles versos primorosos como tantos que fazem parte desta coletânea. Drummond sabe aproveitar a noite depois das observações de uma cidade com tanta gente, com tantos desejos, de saber que a rima não é a solução. Há uma realidade que o poeta aqui aponta e não pode ser menosprezada. A perda de amigos e a vontade que a vida se refaça. A poesia nos permite exprimir nossas noites tristes de diversas maneira. O silêncio tem sido gritante.

 

Será tempo de guerra, ou tempo de paz?

Tempo de crescimento, ou tempo de incerteza?

MARCO DI SILVANNI // Doce Delírio

Seria a noite de Drummond um doce delírio de deixar a gente comovido como o diabo? Partindo da ideia que a pós pandemia seria a noite de refletir e ver o mundo com mais clareza. Que tempos pandêmicos não se diferente de tempos cativos na normalidade, temos as questões levantadas pelo poeta daqui. Troquemos a palavra tempo por noite de Drummond. Sim, será tempo/noite de paz, de crescimento e, sobretudo, de poesia.



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