domingo, 23 de julho de 2023

PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS - XXX: DÚVIDA, FERIDAS E HORIZONTES

DÚVIDA, FERIDAS E HORIZONTES

Fechando o ciclo do segundo tomo, estou postando cinco poemas desta semana de viagens, participações em eventos literários virtuais e de vida pulsando na intensidade de quem tem pressa.
 
A dúvida sobre o próximo segundo ou do futuro depois de uma década diante da dívida que se acumula, sendo tudo apenas arestas desta dádiva que é a vida, que mesmo as feridas sangrando em nossas cegueiras, conseguimos nos aventuramos nos horizontes das criações poéticas.
 
insistimos por termos a ousadia
de transformar o caos em poesia.
 
 *****
DÚVIDA, DÍVIDA E DÁDIVA
 
Uma dúvida esmurra a minha cabeça
No espelho a imagem que desconheço
Seria eu no meio de uma tempestade?
Ou apenas aquele rei sem majestade?
 
A dívida que não pago sempre aparece
Como depois da noite um dia que raia
O agiota banqueiro que não me esquece
Confesso, financeiro não é minha praia.
 
A dádiva que Deus me deu é uma vida
Que carrego pulsando dentro do peito
Eu vago solitário pela infinita avenida
Não há saída para o meu total desajeito.
 
A certeza que adquiro online não acaba
Com a dúvida que continua martelando
A convicção no homem do nada desaba
Ainda assim, teimoso, eu sigo sonhando.
 
Neste mundo real uma dívida se acumula
E eu já nem falo mais do déficit ou moeda
Para ser feliz no perigo eu não tenho bula
E não me justifico o porquê de cada queda.
 
Dúvidas me impedem de ter a explicação
Dívidas eu tiro de letra seguindo na fuga
Mas a dádiva que trago na palma da mão
Rápido evapora enquanto o rosto enruga.
 
*****
FERIDAS NOS OLHOS CEGOS
 
No espaço infinito da minha mente
Eu quase nada entendo de veredas
Mas o sonho me faz seguir em frente.
 
Sei que há horizontes que são ilusórios
Uma miragem que vem com o cansaço
Por isso, eu penso e avanço lentamente.
 
Pedras nas trilhas trazem aprendizados
E revelam sobre mim grandes segredos
Eu me reconheço sempre que amanheço.
 
O tempo é algo que desnuda fraquezas
E faz desmoronar muralhas de certezas
Nem por isto eu vou deixar de caminhar.
 
Um novo dia raia por detrás dos montes
Ofertando-me um horizonte novamente
Mas receio como bicho cismado na selva.
 
Carrego comigo traumas dentro da alma
Os meus projetos que nunca deram certo
E as paixões que me levaram para a ruína.
 
Eu só queria poder tirar pesos das costas
Mágoas que ainda guardo desde criança
Feridas nos olhos cegos para a esperança.
 
Eu só queria ter uma estrada sem curvas
Sem subidas e nem descidas no percurso
E que minhas lágrimas não fossem turvas.
 
*****
MIL HORIZONTES
 
Um poema germina na cabeça
Bem no meio da minha labuta
Antes que na pressa o esqueça
Começo a lapidar a forma bruta
Esmerilho com estilo cada verso
Tornado tão conciso o universo
Do que era semente faço a fruta.
 
Não acontece tudo de improviso
Às vezes tanto esforço me cansa
Depois da tempestade de granizo
Vejo no espaço da tela a bonança
É nisto que reside a recompensa
A alegria torna-se agora imensa
O coração se enche de esperança.
 
Escrever é como dose de coragem
Que se toma para enfrentar a vida
Em todos os passos desta viagem
Cicatrizando com poesia a ferida
Que rasga o peito em sua solidão
De quem sofreu alguma desilusão
Perante a promessa não cumprida.
 
Eu não sei se com os demais poetas
Ocorre o drama que acontece comigo
Rimas abstratas e estrofes concretas
São flores que com inspiração irrigo
Ora elas são pedras, ora são pontes
Na estrada diante de mil horizontes
Sou um homem feliz, então prossigo.
 
*****
NA CELA DE TODO DESPREZO
 
Sentencio meu coração a não amar
Estou vivendo em duro abandono
Para mim não é fácil fingir alegria.
 
Condeno meu corpo ao não-prazer
A dor retrata melhor a minha alma
E nunca distingo doença de tristeza.
 
Vago no meio da noite em vias sujas
Vício e degradação humana cintilam
Ofuscando toda nova oportunidade.
 
Eu começo a desenhar um precipício
No fim dos traços de uma amarelinha
Salto quadrados com meus pés feridos.
 
Aprisionado na cela de todo desprezo
Vejo pássaros em revoada e me deito
Sobre pregos onde antes havia rosas.
 
Choro as lágrimas que ardem nos olhos
E miro meu rosto no meu velho espelho
A cada dia um risco na parede do corpo.
 
Não mereço o fim tão trágico para mim
Sempre fui um bom menino, mas cresci
Acreditando que eu tinha todo seu amor.
 
Bastava você me dizer que não me queria
E me negar aqueles sorrisos da sua janela
Para eu não fantasiar nada sobre nós dois.
 
*****
 
ROTAS CIRCULARES
 
Cansado de andar em estradas frias
Sob a neblina das noites de inverno
Sento sobre pedras à beira da trilha
E respiro ofegante quase sem fôlego.
 
Estou fugindo das aventuras frágeis
E do engodo dos amores superficiais
A felicidade passou a ser uma lenda
Após arrancarem os nossos corações.
 
Quando me levanto o ar fica pesado
Não dá mais para me afastar de tudo
Musgos estão impregnados em mim
Meus passos denunciam minha fuga.
 
Só há rotas circulares em meu mapa
Levando-me sempre ao mesmo lugar
Estou preso em uma magia sem fim
Desde que mirei seus olhos sinuosos.
 
Pensei que bastava escrever poemas
Recitar versos pelas calçadas trágicas
Mas a minha voz não consegue ecoar
Sou um profeta falando para o vazio.
 
Talvez seja o fim desta minha jornada
Ou é só a noite aguardando meu sono
Para remodelar nova manhã para mim
Enquanto abocanha novos sonhadores.

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