sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A INSANIDADE EM TREZE ALFINETADAS> QUINTA ALFINETADA


A FERRAMENTA
Nem a dureza dos ossos detinha a sua machadinha. Uma língua vermelha, com a ponta bifurcada, discretamente a lambia deixando o aço bem afiado. Ele então estava pronto para a ceifa de toda sexta-feira.

A NOIVA
Quando ela descobriu a data do falecimento e o local em que ele foi sepultado, já tinha se entregado de corpo e alma ao moço bonito. Agora tenta arrancar do dedo o anel de noivado, mas não consegue. Mesmo quando decepa rente à mão, outra cresce já com o sinal do compromisso feito.

CETICISMO
Vasculhou os porões da casa em busca de sinais. Pisava sobre alguns, mas era cético demais para entender. Quando abriu o baú velho não teve dúvida. Mas já era tarde. As serpentes lhe devoraram o cérebro e as demais vísceras. O que restou do seu corpo ficou como prova para o próximo aventureiro confirmar que de fato a casa é mal assobrada.

EXORCISMO POR CORRESPONDÊNCIA
A multidão se aglomerava em volta da mulher possessa na calçada da avenida. O pastor viu no fato a oportunidade de arrebanhar fiéis. Fez o exorcismo como aprendera no curso a distância. Agora seu sucessor toma conta do rebanho já que ele está acorrentado no seu quarto para não devorar suas próprias ovelhas.

INSANOU-SE
Não suportou a traição. Traiu sua sanidade.

KALIÃ
Ninguém nesse mundo ama Kaliã. Ela não é do amor. Soube disso quando matou a mãe enforcando-a com o cordão umbilical.

NA SEÇÃO DE FRIOS
Fez da vingança um prato frio guardado no freezer.

NADA EM ESPELHOS
04h00, bêbado, vê-se fantasmas. Exceto se for um.

O TIO DO ARMÁRIO
Brincava tão bem que as crianças o adoravam. Ele era o titio que saía toda noite de dentro do armário. No fim da brincadeira ainda tinha balas para todos. Mal sabia as crianças que o doce da bala se tornaria uma amarga maldição para toda vida.

QUESTÃO DE IMAGEM
Sua imagem não se registrava em fotos e nem se refletia nos espelhos. Mas no apavoramento de suas vítimas ele era mais que real.

RECHEIO DE CARNE
Quando os gatos acabaram, foi a vez das crianças.

ROTINA
Pela manhã em seu carro ela estava no banco do carona. No escritório, era dela a imagem que aparecia na tela do computador apesar do antivírus. No restaurante era ela na mesa ao lado. Durante o dia ele suportava. Mas toda noite que ela estava em sua cama de lingerie, ele a sufocava e a estrangulava. Depois a levava para o porão. Tirava quatro tábuas do assoalho e a enterrava no mesmo local da primeira vez, há oito anos.

ZUMBIAÇÃO
Caiu vivo e ergueu-se morto, caminhou.

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