sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

UMA NOVA POSSIBILIDADE

DA SÉRIE: CRÔNICAS ANACRÔNICAS

Cheguei perto da barraca da moça sorridente e pedi:
­_Vê aí para mim um romance.
Ela me perguntou:
_Com drama ou sem drama?
Fui envolvido em uma nuvem de interrogações. Como assim? Com drama? Sem drama? Que negocio é esse de romance sem drama?
Vendo minha cara de pastel de feira, igual aos que estavam sendo fritos na barraca ao lado, explicou em poucas palavras: _Ultimamente, algumas pessoas foram proibidas de consumir romances com drama. Segundo os distribuidores de romances, os editores explicaram que os deputados, pressionados pela bancada da medicina, aprovaram essa resolução. Produzir romances sem drama.
_E por quê? Onde já se viu romance sem drama?
_Há pessoas que, devido ao alto grau de dramaticidade da sua vida, já possui uma grande dose de dramalina no sangue. Fui um cientista que descobriu essa substância. O normal é ter uma taxa entre 200 a 400 mg/dL de sangue. Os laboratórios agora estão fazendo esse exame. O senhor, que é metido a escritor não sabe disso não?
_Depois de agradecer pelo elogio dirigido a mim de “metido a escritor”, fui sincero, e isso é uma raridade, disse: _Não. E não tenho a obrigação de saber.
_Mas quem quer ser escritor precisa está antenado que nem barata na parede.
_Mais uma vez tive que concordar com a moça.
Voltei para casa, pensativo. Tem alguma coisa errada. A pessoa acostumada a dramas tem sempre mais facilidade de entender as tragédias da vida alheia, ainda que fictícias. Pessoa que nunca teve sufoco na vida, como vai entender um personagem que vive sufocado na faina do enredo? Quer saber uma coisa?  Ela disse que é uma resolução da comissão de deputados, então é por isso que a coisa está errada.
Mais do que de repente, tive um insight.

_Está aí, a vida me dando uma nova oportunidade. Quem sabe eu me dou bem escrevendo romance sem drama para pessoas com hiperdramalinismo e me realizo financeiramente como escritor, faturando uns centavos a mais que uma feirante imponente.

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