TEMPO E PROCELA
Compartilho nesta postagem o poema que escrevi para retratar o quadro do artista Argilano Rodrigues Pereira CAPELA DE SANTA QUITÉRIA, convidado por ele para a sua V BIENAL intitulada BIENAL DO FIM DO MUNDO: CORES E POESIA PARA CELEBRAR A VIDA.
O evento aconteceu no dia 28 de setembro, em Iúna-ES, no Cerimonial Doce Infância, bairro Vila Nova. Na oportunidade o artista expôs suas obras e escritores convidados leram seus textos inspirados na larva do artista.
Eis o poema de minha autoria.
TEMPO E PROCELA
Para aquelas altas catas
De localizações inexatas
Tanto quanto a ambição
Partiram-se os homens
Com diferentes fomes
E entre elas a devoção.
Isto em tempos passados
Com corpos escravizados
Em desumana exploração
Pelos senhores de pelejas
Donos de minas e igrejas
Mas não de alma e coração.
Mil setecentos e setenta e oito
Nas fadigas do século dezoito
O Sr. Paulo de Araújo Aguiar
Em seu terreno e com ajuda
Elevou uma ermida miúda
Para santificar aquele lugar.
Nasceu a edícula tão bela
Dedicada a Santa Quitéria
No seio de Minas Gerais
Protetora, filha de Braga
De portadores de chaga
Nos terrenos emocionais.
Vencendo tempo e procela
Segue firme no fim da viela
Na base da serra do caraça
Tendo um cruzeiro ao lado
Da história sendo um legado
E encanta quem por lá passa.
Uma orada entre tantas
Quitéria entre as santas
Andou, mesmo decepada
Para morrer tão serena
E ter uma casa pequena
Em cidade tão visitada.
Tão minúscula e tão tamanha
Graciosidade que nunca acanha
Quem nela adentra com sua fé
Deprimido ou mordido de cão
Receba de Quitéria a proteção
Como se fosse a xícara de café.
Erguida e no decorrer de seis anos
A construção fez parte dos planos
Dos que se uniram em casamento
Mil setecentos e trinta e quatro
É que ocorreu tão sublime fato
Conforme atesta um documento.
Mas foi no século II, muito antes
Lá na terra dos daqui dominantes
Que Quitéria disse não ao tálamo
Do corpo sua cabeça foi separada
Ainda assim seguiu sua caminhada
Agora versejada pelo meu cálamo.
E o garimpeiro capixaba
Que tem na arte sua cata
Fez de bateia a sua tela
Argilano, em nobre ofício
Nos retratou um paraíso
Na singeleza d’uma capela.