POENTE, PRAIAS E PORTOS
De volta a postar minhas pétalas semanais em forma de pentalogias.
Trago minha produção de dias de aperto com trabalho e um
incômodo na saúde física. Mas tudo bem, são coisas da vida que todo ser orgânico
passa.
E não adianta ser uma pedra, pois pedra sempre fica no meio
de algum caminho. O incômodo e o aperto moram em nós em algum cômodo em nosso
corpo.
É sobre a brevidade da vida, do não enquadramento no mundo
ou sobre a mente rebelde que insiste em escrever poemas para um mundo cada vez
mais ágil e líquido, que versejei esta semana. Confira, e não se fira
PÉTALA I
POENTE
Vago no mundo sem sentido
Sentindo o início de um final
Mente exausta, corpo dorido
Diante do poente paradoxal.
Ando um tanto desiludido
Com este meu destino fatal
Eu me acho sempre perdido
Toda tarde sou perca total.
Vai ver que sempre foi assim
O homem sempre perto do fim.
PÉTALA II
EM OUTRAS PRAIAS
Em nenhum rótulo me enquadro
Acho que sou mesmo quadrado
O mundo inteiro é o meu quarto
Não marcho em nenhum quartel.
Em nenhum papel me encaixo
Nem de figurante desfigurado
Em nenhum palco represento
Sequer tenho acento no teatro.
Não me importo com ovação ou vaias
Os meus portos ficam em outras praias.
PÉTALA III
DESÉDEN
Ela batia roupa no tanque
Ele batia veneno na lavoura
Nada demais para um casal
Em um rincão do meu país
Longe dali a cidade é grande
Grande demais para sonhos
Que de tão humanos, únicos
São absorvidos pelo concreto.
Enquanto o casal descobria a nudez
A cidade tomava café envenenado.
PÉTALA IV
A MENTE EM SUA REBELDIA
Sempre que eu sinto
Perto de ser extinto
Um aperto no peito
Se ajeita no coração.
Fere, mas logo passa
Difere da Benta Graça
Amassa e arregaça
E some como fumaça.
Sempre que eu pressinto
Que bombas explodirão
Quando beijarem o chão
Sinto-me como soldado
Deslocado do batalhão.
Talvez seja algum medo
Como o de morrer cedo
Talvez seja algum credo
Escrevendo seu enredo.
Talvez eu escreva uma carta
Para uma tal de Marta
Talvez eu fuja para Marte
Ou aprenda uma arte marcial.
Talvez eu conceba um poema
Em plena luz do dia
Talvez seja somente melancolia
Ou a mente em sua rebeldia.
NA FICÇÃO
Marta, Marta
Se eu te escrevo uma carta
É só por causa da rima
Não por causa da paixão
Marta, Marta
Essa dor que me deixa doido
Quase enfarta o meu coração.
E foi aquele anjo torto
Que fingindo de morto
Foi meu porto solidão
E se grito por socorro
Parece mais um arroto
Que qualquer solução.
Eu, este homem sério
Por detrás de um bigode
Quero namorar a vida
Mas ela sempre me fode
Eu, este homem sério
Sertanejo, cidadão
Entre tantas pernas
Na mesma lotação
Trago um mistério
Dentro de uma missão.
É tudo é tão efêmero
Como fêmea na ficção.