sexta-feira, 13 de setembro de 2024

PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS - XXXI: POENTE, PRAIAS E PORTOS

 POENTE, PRAIAS E PORTOS

IMAGEM: FREEPIK

De volta a postar minhas pétalas semanais em forma de pentalogias.

Trago minha produção de dias de aperto com trabalho e um incômodo na saúde física. Mas tudo bem, são coisas da vida que todo ser orgânico passa.

E não adianta ser uma pedra, pois pedra sempre fica no meio de algum caminho. O incômodo e o aperto moram em nós em algum cômodo em nosso corpo.

 

É sobre a brevidade da vida, do não enquadramento no mundo ou sobre a mente rebelde que insiste em escrever poemas para um mundo cada vez mais ágil e líquido, que versejei esta semana. Confira, e não se fira

 

PÉTALA I

 

POENTE

 

Vago no mundo sem sentido

Sentindo o início de um final

Mente exausta, corpo dorido

Diante do poente paradoxal.

 

Ando um tanto desiludido

Com este meu destino fatal

Eu me acho sempre perdido

Toda tarde sou perca total.

 

Vai ver que sempre foi assim

O homem sempre perto do fim.

 

 

PÉTALA II

 

EM OUTRAS PRAIAS

 

Em nenhum rótulo me enquadro

Acho que sou mesmo quadrado

O mundo inteiro é o meu quarto

Não marcho em nenhum quartel.

 

Em nenhum papel me encaixo

Nem de figurante desfigurado

Em nenhum palco represento

Sequer tenho acento no teatro.

 

Não me importo com ovação ou vaias

Os meus portos ficam em outras praias.

 

 

PÉTALA III

 

DESÉDEN

 

Ela batia roupa no tanque

Ele batia veneno na lavoura

Nada demais para um casal

Em um rincão do meu país

 

Longe dali a cidade é grande

Grande demais para sonhos

Que de tão humanos, únicos

São absorvidos pelo concreto.

 

Enquanto o casal descobria a nudez

A cidade tomava café envenenado.

 

 

PÉTALA IV

 

A MENTE EM SUA REBELDIA

 

Sempre que eu sinto

Perto de ser extinto

Um aperto no peito

Se ajeita no coração.

 

Fere, mas logo passa

Difere da Benta Graça

Amassa e arregaça

E some como fumaça.

 

Sempre que eu pressinto

Que bombas explodirão

Quando beijarem o chão

Sinto-me como soldado

Deslocado do batalhão.

 

Talvez seja algum medo

Como o de morrer cedo

Talvez seja algum credo

Escrevendo seu enredo.

 

Talvez eu escreva uma carta

Para uma tal de Marta

Talvez eu fuja para Marte

Ou aprenda uma arte marcial.

 

Talvez eu conceba um poema

Em plena luz do dia

Talvez seja somente melancolia

Ou a mente em sua rebeldia.

 

 

PÉTALA V

 

NA FICÇÃO

 

Marta, Marta

Se eu te escrevo uma carta

É só por causa da rima

Não por causa da paixão

Marta, Marta

Essa dor que me deixa doido

Quase enfarta o meu coração.

 

E foi aquele anjo torto

Que fingindo de morto

Foi meu porto solidão

E se grito por socorro

Parece mais um arroto

Que qualquer solução.

 

Eu, este homem sério

Por detrás de um bigode

Quero namorar a vida

Mas ela sempre me fode

 

Eu, este homem sério

Sertanejo, cidadão

Entre tantas pernas

Na mesma lotação

Trago um mistério

Dentro de uma missão.

 

É tudo é tão efêmero

Como fêmea na ficção.