Mutum, 04 de
junho de 2017
Caro Camarada Olev
Você pode não acreditar, mas há dias
eu tento te escrever. Tenho estado acumulado de tarefas. Provas para corrigir e
me enveredei pela literatura. Talvez seja a literatura meu refúgio. Sim, eu
ando precisando de um refúgio. Decepcionado com o meu país. É uma tragédia que
nós aqui no Brasil já sentíamos ao menos o cheiro de pólvora. Mas quando tudo
explode a gente ainda lamenta. Meu país não tinha como escapar desse enredo. O
partido da presidenta eleita em 2014 envolvido. O vice, envolvido, e o adversário
também. Não tinha com sair dessa. Meu país é um inseto preso em teias cada vez
mais pegajosas. Sofro muito. Ser esquerda no Brasil é ser humilhado com os
fatos. É ter que renovar a esperança a cada dia. Você sabe que eu ando afastado
da política. Não sou mais tão militante com outrora fui. Na minha cidade, o
partido a qual pertenço governa bem. Em Minas Gerais, meu estado, faz o que
pode, mas, a nível nacional, não tem como exaltar e nem tem como criticar.
E quanto a você, o que anda fazendo
em Burgas? A Bulgária anda fora do noticiário daqui. Não vejo mais nem a
seleção de futebol e nem a seleção de vôlei do seu país. O que me despertou a retomar
o contato com você foi uma menção feita à Bulgária no filme “Doce Vingança 2”
que assisti ontem pelo telecine na TV paga.
Quando você virá ao Brasil me
visitar? Parece-me que você falou de uma palestra que terá em Buenos Aires no
mês de agosto. Argentina é aqui do lado. Organize aí e depois de passar pela
cidade portenha, dê um chego aqui no leste de Minas Gerais. Vai ser
interessante para você, como professor universitário saber o que é viver nesse
meu país.
Se você vier aqui, quero discutir com
você a ideia que tem se formado em minha mente. Penso que o capitalismo não dá
mesmo. Então, aqui no Brasil, temos espaço para o surgimento de um novo tipo de
socialismo. Eu primeiramente estou denominando essa ideia de Socialismo
Orgânico. O adjetivo não te deve ser estranho. Temos muitas coisas orgânicas
pelo mundo com a produção de alimento. Seria um socialismo baseado na
organicidade de qualquer sociedade. Onde cada parte está ligada ao todo. Não
parti de uma ideia fechada para depois dar um titulo, na verdade parti do
título para ir fechando as ideias.
Mas penso que tudo precisa ser
repensando, talvez seja uma evolução do que chamo Democracia de Projetos.
Mais uma renovo minha intenção de lhe
escrever em espaços mais curtos.
Fraternalmente, um abraço
Camarada Mendes
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