A 3ª Guerra
Mundial já aconteceu. Foi uma guerra lenta, cautelosa, sem estardalhaço. Não
foi uma guerra entre países, entre a aliança e o eixo. Foi uma guerra contra o
humano e seus sentimentos. Foi uma guerra contra a identidade pessoal, contra a
esperança e a nossa capacidade de sonhar. Decidiu-se destruir nossa mais
poderosa arma, a utopia. Essa vontade de realizar algo que caiba em qualquer
lugar, em qualquer cidade, em qualquer nação.
Você não viu
bombardeiros no céu. Apenas aviões comerciais darem o beijo da morte em torres
de babel. Os satélites de comunicação ficam mais alto que nossas vistas não os
alcançam
Você não viu trincheiras no chão. O asfalto é
duro para se cavar. Não precisou de muitos soldados, mas técnicos necessitando
vender seus trabalhos.
Não houve
nenhum Pearl Jarbor, não houve cogumelo gigante em Hiroshima e Nagasaki. Não
houve tentativa de paz. Não houve nada. Apenas a guerra silenciosa, cega e
surda.
A guerra foi
surda. Os fones em nossos ouvidos não nos deixaram ouvir os pedidos de socorro.
Os senhores da Guerra não ouviram as jornadas de junho, a primavera árabe, o
Green Peace, as mães da praça, de qualquer praça, e ninguém ouviu ninguém. No
mar Egeu morre-se em silêncio. Apenas um corpo pequeno na praia pela manhã
indica que a morte também sabe andar sobre as águas.
A guerra foi
cega. Não viram nada. Nem os seios do Femen, nem as burcas das afegãs. Não
viram a paulista lotada, não viram o Estado Islâmico avançar, não viram os
escombros de Aleppo.
A guerra foi
silenciosa. Não se fala mais. Em frente à Tevê, ao Netflix, ao tablet, i-phone,
i-pad, i-qualquer coisa, a gente não se fala mais, o diálogo é uma exceção, um
oásis no deserto das relações excessivamente áridas. Envia-se um “zap” como um
míssil. Na calada da noite eles agem. Medidas provisórias, bolsas na Ásia,
paraísos ficais. Tudo em silêncio. A suprema corte sem nenhuma cortesia.
Direitos trabalhistas sendo esquartejados pelos açougueiros da democracia
representativa. Eles trabalham em silêncio. Nós, em silêncio, morremos. Nem a
canção nada questiona.
Nós perdemos
essa guerra. Quem ganhou?
Ganhou o
“hitler” que há dentro de cada um de nós. Nossos preconceitos, nossa ideia que
somos os melhores. Nossa apropriação de símbolos que antes eram de paz. Nosso
anseio de aprisionar o próximo em uma câmara de gás. Hitler venceu a Terceira
Guerra Mundial.
Ganhou o
“mussolini” que há dentro de cada um de nós. Nossa oportuna usurpação de
pequenos poderes. O poder de ser aprovado na escola sem ter aprendido nada. O
poder de contrair viroses na ânsia de ser superpotente.
Ganhou o
“stálin” dentro das organizações com princípios socializantes, mas que agiu com
mão de ferro. Endureceu-se tanto que perdeu-se a ternura.
Ganhou nossas
viagens kamikazes sem combustível para a volta. Ganhou nossas drogas e nossas
aventuras suicidas.
Ganhou o
extremismo em todas as religiões e ganhou o outro lado da mesma moeda, nossa
passividade, nossa falta de radicalidade, nosso excesso de radicalismo.
Ganhou nossas
bombas nucleares que trazemos dentro do peito e detonamos sobre as pessoas que
apenas buscam o pão de cada dia, sob qualquer pressão.
Ganhou a
canalhice que usurpou da política, e a política que usurpou o Estado que agora
diz não poder fazer nada por nós. Chauvinistas de si mesmos e de grandes
corporações entrincheirados na cidade planejada. Os três poderes é o Reich
Nós perdemos.
Estamos assinando nosso Versalhes de morte e não temos mais o carvão e o ferro
de Álsacia-Lorena. Mas nem tudo está
perdido.
Precisamos nos
reerguer das cinzas. O Estado não pode fazer mais nada por nós. Mas nós podemos
fazer outro Estado. Um Estado composto por três poderes. O poder da partilha, o
poder da justiça social e, sobretudo, o poder da solidariedade. Se assim
fizermos, venceremos a Quarta Guerra Mundial.
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