SUGESTÃO: Antes leia o CAPÍTULO 01
Entre tantas
fãs do jovem galã estava Meire, sua vizinha. Ela não estudava e nunca havia
estado a sós com ele. Às vezes achava que só o admirava porque todas as garotas
o admiravam. Todas as vezes que tinha que comprar alguma coisa no estabelecimento
comercial ao lado, antes de por os pés na rua, já se imaginava diante dos olhos
castanhos do balconista, que certamente estaria lá, entre o balcão e as
prateleiras ao fundo, com suas empoeiradas garrafas de vinho tinto. Sabia que
Afonsinho sempre notava o seu embaraço ao pedir a mercadoria e ela sempre
trazia para casa, além do embrulho na mão, aquela lembrança na cabeça: o
balconista singelamente trajado, com um jeito maroto de atender, de ir buscar a
mercadoria em uma prateleira ou vitrine qualquer, de fazer o embrulho, de
receber e conferir o dinheiro, devolver o troco ou anotar o que fica fiado, de
agradecer a preferência e de sobra, cativar numa cantada com os olhos.
Meire ia ao
estabelecimento menos que na verdade seria preciso, normalmente. Sua família
era de baixa condição financeira. Órfã de pai desde aos seis anos de idade,
morava numa pequena casa, que contrastava com a grande construção da loja
comercial do pai de Afonsinho, com sua mãe e seu único irmão mais moço. Sempre
estava lembrando de que era um ano mais velha que o príncipe encantado dos seus
sonhos.
Já estudara.
Aos quatorze
anos, estava cursando a sexta série no curso noturno. Estudava à noite ainda
muito jovem, por que ao dia tinha que ficar em casa tomando conta dos afazeres
domésticos em companhia do seu irmão de onze anos de idade. Sua mãe trabalhava
de cozinheira com uma longa carga de trabalho em um restaurante.
Sua primeira amizade, no turno noturno, foi com Luzia, moça magra de ideias grossas, possuidora do terrível vício nicotínico.
Meire gostava de Luzia. Sentia-se bem em sua companhia. Até parecia que Luzia não era o que sempre falavam dela. Não, não acreditava. O povo tem a mania de inventar as coisas. Tudo bem que Luzia fumava muito. Fumava demais. Fumava no banheiro da escola. Tudo bem que suas roupas eram bastante decotadas, bastante curtas. Mas daí chamá-la de piranha não era justo. Por que não chamavam as filhas de papaizinho com esse nome? Todos sabem que quase todas as filhas de rico dessa cidade não têm lá muita moral. Mas tudo fica encoberto atrás do status dos pais. São quase todas, vacas de Basã. Só por que Luzia era pobre, chamam pelas costas com esse adjetivo desmoralizante.
Sua primeira amizade, no turno noturno, foi com Luzia, moça magra de ideias grossas, possuidora do terrível vício nicotínico.
Meire gostava de Luzia. Sentia-se bem em sua companhia. Até parecia que Luzia não era o que sempre falavam dela. Não, não acreditava. O povo tem a mania de inventar as coisas. Tudo bem que Luzia fumava muito. Fumava demais. Fumava no banheiro da escola. Tudo bem que suas roupas eram bastante decotadas, bastante curtas. Mas daí chamá-la de piranha não era justo. Por que não chamavam as filhas de papaizinho com esse nome? Todos sabem que quase todas as filhas de rico dessa cidade não têm lá muita moral. Mas tudo fica encoberto atrás do status dos pais. São quase todas, vacas de Basã. Só por que Luzia era pobre, chamam pelas costas com esse adjetivo desmoralizante.
A amizade das
duas era perfeita. Eram carne e unha. Era sexta-feira, a turma não entrou para
assistir aula. Ficaram empelotados no portão do colégio e pouco a pouco as
turminhas foram se dispersando.
Luzia convidou
Meire para irem a um bar, onde ela, Luzia, já haveria ido algumas vezes.
Meire, para
não chegar cedo e ter que achar uma boa justificativa para a sua não entrada na
escola, aceitou o convite da amiga.
O bar ficava
num bairro de classe média da cidade. O local era lúgubre, as paredes salubres
e as mesas desalinhadas. Ao lado de uma das portas de entrada, um cidadão
anônimo tinha sido dominado pelo peso do álcool e caíra ali mesmo.
Luzia, puxando
Meire pela mão, direcionou-se para uma mesa ocupada por três integrantes que já
haviam esvaziado alguns copos enquanto conversavam alto e gracejavam à vontade.
Meire foi apresentada pela amiga e calorosamente bem recebida pelo grupo
enquanto Luzia providenciava assentos para as duas.
A conversa e
os gracejos dos rapazes continuaram no mesmo ritmo e algumas vezes Luzia
entrava no bate papo. Meire olhava de lado, olhava para fora, olhava para as
outras pessoas e tentava ambientar-se. Era a primeira vez que estava num lugar
assim. Desagradável? Não achava, apenas não estava habituada.
Depois de
quarenta minutos já se ambientara. Passou a se interessar pelo assunto da patotinha
e gracejava descontraidamente. Porém percebia o rumo bruto que aquela diversão
ia tomando. Sentia medo. Talvez fosse melhor ter arriscado a chegar mais cedo
em casa. Desculpa séria fácil achar uma. Enfim, resolveu deixar se levar para
ver onde aquilo ia dar.
Luzia, que
sentia bem a vontade desde que chegou, revezava a tragada com o gole. Meire a
olhava e Luzia não percebia a reprovação da colega. Lembrou então do que
falavam dela. Piranha. Será? Não. Reafirmou suas convicções. Daí a pouco viu
que a mão de um dos rapazes roçava nas pernas de Luzia. Meire esperou uma
reação de censura por parte da amiga. Decepcionou-se. Luzia retribuiu com um
beijo permitindo que a mão do rapaz conquistasse mais terreno.
Ao lado de
Meire estava outro rapaz, moreno, apresentava ter vinte e cinco anos de idade,
fisionomia de mal nutrido e boêmio. Falava-lhe de filmes policiais: Quarenta e
Oito Horas, Máquina Mortífera, Duro de Matar... Ela sorria e ouvia pouco
interessada. Apenas ouvia e concordava. Torcia para que o conteúdo do rapaz
fosse pouco nesse assunto. Era mais que ela esperava.
Já passava das
dez da noite, Meire convidou Luzia para levá-la em casa. Esta recusou. O rapaz
que estava ao seu lado ofereceu-se e Meire, sem nenhuma outra opção, não teve
como recusar.
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