Depois de um dia cansativo,
lutando com as panelas contra o fogo, manejando o cozimento, a fritura e o
tempero, a mãe de Meire estava dormindo como nunca. Um sono pesado, profundo,
melodiado com um estridente roncar.
Meire
entrou pé por pé. Deitou-se em sua dura cama com um colchão tão magro como o
rapaz que há pouco instantes a possuíra. Sentia a rigidez das ripas em suas
costas. Algo lhe parecia sujo, levantou-se e foi ao banheiro. Despiu-se
rapidamente e lavou o sangue coagulado que ficou escorrido perna abaixo. — Até
que não sangrou tanto. Com tanta dor até achei que meu sangue iria sair todo
por entre as pernas. — pensou.
Enxugou
as pernas e voltou para cama. Puxou para cima de si uma desbotada colcha de
retalhos. Não tinha sono. Não tinha mais hímen.
Começou
a pensar na sua primeira vez, no seu primeiro beijo, na sua primeira transa e
até os copos de cerveja tomados assim num bar eram os primeiros. Sentiu que
agora sua vida ia mudar. Ia ser diferente. Descobriu finalmente a função de suas
curvas bem definidas e das partes íntimas, aquelas que a educação rígida e
tradicional lhe dissera que eram proibidas. Intocável vulva, nádegas e seios.
Os
dias passaram. Luzia e Meire se tornaram agora mais amigas, inseparáveis.
Viviam de segredos pelos cantos da escola. Onde uma estava outra também.
Combinavam aventuras, provocavam os rapazes e fingiam estarem sempre felizes.
Matavam com mais frequência os dias letivos.
Primeiro
uma rodada de cerveja, alguns cigarros divididos entre cinzas no chão e nicotina
nos pulmões. Depois de escolhido os parceiros, lá se iam para um canto
qualquer. Bom é quando o parceiro tinha um carro, ainda que fosse um Chevette
velho. Não tendo, fosse onde pudesse.
Meira
sentia grande prazer em ficar com um em cada noite. Julgava ser isso a única
diversão que a vida oferecia a uma pobre garota de quatorze anos.
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