NOTA DO AUTOR: Se você está acessando pela primeira vez um capítulo de O PREÇO PELA PRIMEIRA VEZ, sugiro que você retorne ao PRIMEIRO CAPÍTULO.
Nas primeiras
vezes que Meire viu Afonsinho o classificou como um rapaz qualquer. Mas, pouco
a pouco, sentiu-se cativada pelo jeito do balconista. Renasceu dentro de si
aquele desejo que havia começado a morrer na noite em que foi flagrada no bar pela
mãe. No início pensou que seria uma sensação passageira. Coisa de mulher.
Enganou-se. O desejo de ter Afonsinho entre seus braços, de beijar aqueles
lábios, enfim, de possuí-lo e ser possuída, crescia. Não. Não era só para
alguns goles de cerveja em um bar lúgubre ou para um sarro no canto da cidade.
Desejava-o para todas as diversões e para todas as noites.
Há tempos que
carecia de um toque masculino. Carecia de uma cantada e até mesmo de um pouco
de carinho. Reconquistada a confiança da mãe, reprimia o desejo de ir à busca
de um homem. Desligara-se completamente de Luzia. Foram dois anos e meio sem
diversão, sem passeios, sem uma emoção sequer. Temia que seu coração estivesse
se transformando em pedra. Revirginou-se psicologicamente.
Aquele
sentimento por Afonsinho, descobriu, era paixão. O que devia fazer? Era a
primeira vez que vivia esta situação.
Afonsinho
jamais notou nela alguma coisa que lhe atraísse. Tinha-a apenas por vizinha e freguesa.
Talvez quisesse paquerá-la e nada mais. Mas ainda não havia pintado
oportunidade.
Era quinta-feira.
Antes de começar a preparar o almoço, Meire enfiou a mão na gaveta do armário,
achou alguns trocados e teve a uma ideia. Mas como coloca-la em prática?
Foi até à
mercearia e pediu suco de morango.
— Não temos —
respondeu Afonsinho. — Só temos refresco Royal de laranja. Serve?
— Não, deixa
pra lá. — animou-se. — Você estuda?
— Faço a
oitava série. — respondeu sem grande ânimo.
— Você gosta
de ler livros de romance? — Meire encontrava as palavras, não sabia de onde
elas vinham. Mas as encontravam. Talvez estivesse vindo do meio das latas de
óleo de soja.
— Leio. —
mentiu o rapaz.
— Se você
quiser um livro emprestado, vá hoje à tarde ali a minha casa.
—O.K. —
respondeu como quem começasse a entender a pretensão da moça.
A verdade é
que Afonsinho nunca tivera preferência pelos livros de romance, mas ter romance
com quem lia livros. Achava as histórias sempre iguais. No fim sempre um final
feliz. Lembrava-se de apenas um que não terminava assim. Preferia suas
revistinhas de quadrinhos. Iria aceitar o livro não pelo oferecido, mas pela
oferente. De uma garota não se rejeita nada, ainda que seja um fora. Não era o
caso. Ele leu nos olhos dela se oferecendo como uma presa desatenta ao predador.
Meire, na
verdade, só tinha um livro. Já estava velho, comprado em banca de jornal de
rodoviária. O livro fora ganho do esquecimento de uma de suas tias que moravam
em Vitória. Ela já sabia a história narrada no livro de cor e salteada. Não
entendia por que aquele nome Sabrina em letras garrafais, mas já tinha visto
outros livretinhos desses nas mãos de algumas de suas colegas de aula. Mas o
título chamou a sua atenção.
Agora o livro
seria apenas um meio para se aproximar mais do pretendido rapaz.
Meire
planejara tudo. À tarde sempre estava sozinha. Seu irmão sia para a escola e sua
mãe ainda estaria no trabalho. Não haveria outra chance melhor de oferecer a Afonsinho a
única coisa que possuía: seu corpo. E fazer o que ainda não esquecera apesar de
se reprimir por algum tempo.
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