Sentado na
cadeira do barbeiro estava seu Arnaldo. Fiquei sabendo do nome pela boca dela.
Ela estava de companhia.
Em síntese,
era um casal de idosos e ela o trouxe até a barbearia para fazer o cabelo e a barba que restavam.
Enquanto as
alvas pontas dos cabelos do senhor Arnaldo caiam no chão eu imaginava de
quantas histórias ela já teria vivido com seu Arnaldo. E agora via os cabelos
caírem pelo chão de uma barbearia bem frequentada como fios de esperanças indo
embora.
Quando
casaram? Como passaram pela famosa crise dos sete anos de casados? Tiveram
filhos? Netos e bisnetos, quantos?
As perguntas
começaram a surgir em minha cabeça e, instintivamente, comecei a tecer um enredo
para seu Arnaldo e sua esposa. Talvez eles tiveram pouco tempo para se namorar.
Casando-se tendo o mínimo necessário para iniciar essa história que desemboca
em uma apertada barbearia em meu bairro.
Imagino-a
entrando na igreja com seu vestido de noiva. Não imaginei nenhum vestido
bonito. Apenas um vestidinho simples, branquinho. Muito singelo. Ele com terno
emprestado. Espichado de alguma forma para seu corpo.
Depois filhos,
talvez uns quatro. Trabalhando para por sobre a mesa o pão de cada dia. Casaram
bem ou mal cada filho. E agora, aposentados, podem descansar em uma barbearia
enquanto seu Arnaldo deixa descabelar-se pela maquininha do nosso conhecido barbeiro.
Depois de
cortado o cabelo e desfeito a barba, o casal de idosos pagam o dono do
estabelecimento e saem de mãos dadas. Enquanto eu, sozinho, dirijo-me para o
assento apontado pelo homem já com tesoura na mão.
DA SÉRIE: BARBEIROS, BARBEIROS, BARBEIROS
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