CAPÍTULO X
OBSERVAÇÃO: RECOMENDADO APENAS PARA
Marli evitava fazer comparações entre seu presente e seu
passado. Dentro de dois anos muitas coisas aconteceram. Nada de muito alegre
para deixá-la contente e o fato mais triste foi o falecimento do seu pai há
oito meses. Não havia namorado ninguém
nesses dois anos. Tanto o estupro de Guido como a transa com Lauciene martelava
sua mente de vez em quando. Paqueras ocasionais aconteciam e numa dessas
paqueras permitiu-se transar de novo. Depois teve medo de ter se engravidado.
Daí alguns dias um câncer no fígado levou seu pai para a sepultura.
Dezessete anos, uma
semianalfabeta, uma pobre remediada. Mais de quatro anos no mesmo emprego.
Perdera a virgindade violentamente, perdera o ardor religioso. Dizia para si
mesma que era uma cristã relaxada. Saiu do grupo de adolescentes e não entrou
em nenhum grupo de jovens. Foi se esfriando pouco a pouco. Já não saia muito de
casa. Muitos de seus fins de semana eram consumidos em programas de televisão.
Sílvio Santos a distraia.
Assustou-se naquela terça-feira ao ir embora. Viu os materiais de construção chegando. Não falaram nada para ela que
iriam construir. Pensou em voz baixa:
- A limpeza vai piorar. Todo dia
vai ser aquela poeirada. Marli sabia que construção dava poeira. Fazia a faxina
ficar mais laboriosa.
No dia seguinte deparou com o
pedreiro e seu ajudante nos primeiros trabalhos da reforma da casa. Estavam
dentro do banheiro próximo da cozinha consertando o que fora gasto pelo tempo e
pelo mau uso.
O pedreiro era um senhor de
estatura mediana, usava calça de tergal verde bem surrado e uma camisa fechada
sobre o peito sofrido com botões de cores e formatos diversificados. Um chapéu
de palha na cabeça. Andava sobre duas havaianas gastas, aparentava uns trinta e
cinco anos.
O ajudante parecia que se sentia a
vontade com sua bermuda jeans indo até o joelho onde alguns fios de algodão
eram maiores, carecia de uma bainha. Parecia que nem se importava com o cós de
sua cueca amarela aparecendo tímido, tampando o dorso do corpo amorenado.
Tendia um pouco a ser halterofilista. Aparentava ter vinte e quatro anos.
Naquela quarta-feira Marli
trabalhou normalmente, sem nenhuma relação dialogal com a dupla de
trabalhadores que iam e vinham pela casa. Batiam com força uma ferramenta
pontiaguda de ferro maciço contra a parede. Faziam um pouco de massa. Pouco a
pouco o serviço ia aparecendo.
Na quinta-feira Marli percebeu que
o ajudante a olhava além do normal. Uma flor de curiosidade, fertilizada pelo
desejo do seu coração, começava a desabrochar dentro do seu peito. Começou a
fazer questão de ser notada e ora outra a sorrir para ele.
Sexta-feira chegou. Marli e o
ajudante se conheceram.
Ele era Nivaldo e morava num
bairro do outro lado da cidade. Disse que se lembrava de tê-la vista na
pracinha algumas vezes. Ela forçou a memória e reconheceu aquele rosto curioso.
Ele não lhe era estranho assim. Também se lembrava dele na pracinha.
Naquele final de semana deixou a
televisão e foi para a rua. Lá viu Nivaldo com um amigo. Ela estava sozinha.
Celina havia se mudado para outra cidade. Sorriu para ele e foi correspondida.
Aproximou-se como uma familiarizada e puxou um assunto banal. Ficou ouvindo os
dois rapazes falarem de futebol até o amigo de Nivaldo sentir-se sobrando.
Pediu licença e se retirou.
Nivaldo a convidou para tomar uma
cerveja. Ela aceitou. Procurou fugir do seu irmão. Foram a um bar, tomaram uma,
duas, três e tantas outras cervejas. Daí em diante a única coisa que Marli
sabia é que estava embriagada, que era sábado e que o pai havia falecido. Podia
arriscar a chegar mais tarde em casa, enfrentaria a mãe se preciso. Tomou junto
com o ajudante de pedreiro mais duas cervejas, trocaram ebriamente alguns
beijos e carinhos. O rapaz pagou e saíram abraçados e cambaleantes.
Caminhavam devagar para não
desequilibrar seus corpos. Falavam poucas coisas, já não tinham domínio de
todas as palavras de uma frase. Paravam e beijavam, olhavam um para o outro e
seguiam sem comentários. Pararam em frente a uma casa em construção. Beijaram e
olharam para os lados e constataram a deserteza
da rua. Nivaldo a convidou puxando-a pelo braço.
- Venha aqui.
Entraram na casa em construção, só
entijolada e tampada com telhas francesas. Então acharam um esconderijo
providencial por ali mesmo. Uma construção a mercê de quem quisesse visitá-la
nessas horas inoportunas. Beijaram o gosto azedo de cevada que estava na língua
do outro.
Nivaldo desabotoou o cinto e abriu
o zíper da bermuda de Marli. A bermuda desceu até o chão. Marli sentiu o membro
rígido de Nivaldo se metendo entre suas coxas brancas. Afastou-se um pouco,
arriou a calcinha, ergueu uma das pernas para cima de um monte de tijolos e
começou a sentir vigorosamente Nivaldo dentro de si.
Mais três semanas foi necessário
para que a reforma da casa da patroa de Marli ficasse pronta. Vez por outra,
ela e Nivaldo se encontravam dentro de um dos cômodos da casa. Todos os finais
de semana encontravam-se, bebiam e amavam.
A mãe de Marli a chamou para uma
conversa. Quis saber o que estava acontecendo com a filha.
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