O cara é parente de alguém. Todo mundo
da família é parente. A direita brasileira também tem seu parente. Sim, ele se
chama Pedro. E ele é uma espécie de pedra quando um governo de direita está no
poder. Ele estava lá naquele apagão.
Mas todo mundo já ficou escuro
por causa de um parente. É que o sujeito vai te visitar, gasta a energia
indevida. Ou quando era lamparina, ficava até lá pelas dez da noite batendo
papo, lembrando-se da infância, contando piadinhas sem graça, perguntando pela
tinha que não vê há tempos. A gente não percebe que a querosene vai acabando
dentro da latinha. E de repente o fogo mingua. A luz se vai e o parente deixa a
gente no escuro.
Tem também aquela prima, que
também é parente, que mesmo não apagando a luz, convida a gente para encostar
um pouco mais prum canto, para a gente se beijar.
Mas tudo isso passa, hoje na casa
da maioria dos parentes não há mais lamparina. E nem na nossa casa. Então a
gente recebe o cara, ou a cara, que traz um monte de bugigangas eletrônicas. A primeira
coisa é carregar o celular, depois de pedir a senha o wifi, claro. Depois vem o
secador de cabelo, a chapinha, pede para usar o liquidificador para fazer sua
mistureba que emagrece, usa o barbeador para barbear sei lá o que, e vai
usando, abusando, se lambuzando, e de repente, a energia do barraco que é gato,
cai. Fica todo mundo no escuro. E o parente segue causando apagão.
E quando a gente pensa que o
parente foi embora, ele volta. Agora mais moderno. Mais abusado. Pede o carro
emprestado e dá uma volta, duas, pede mais uma vez, e quando a gente percebe a
gasolina acabou. Com a chegada do parente, agora há mais concorrência. Se o dólar
subir, a gasolina também vai subir, o parente é sempre aborrecente. Então é
preocupação e canseira, a gente tem vontade de estacionar a carreta no meio do
caminho. Temos a sensação que o combustível está acabando. Dá vontade de parafrasear o homem de Itabira de
onde partem os poucos trens que ainda restam, “há um parente no meio do
caminho, no meio do caminho há um parente.” Não tinha, ainda tem, há, agora ,
no Brasil onde a maioria pode escolher o seu Parente.
Cada um ganha a vida como pode e
nem sempre se tem o parente que quer. Mas há quem escolheu o Parente. O Parente,
com P maiúsculo, que gosta de causar apagão ou deixar o preço da gasolina, do
etanol e do diesel flutuar e esquece que o que é volátil só sobe, nunca desce. O
Parente parece não entender disso.
E o caminhoneiro parado no trevo,
com um trevo de quatro folhas no bolso, arriscando a sorte nas estradas
noturnas, trazendo tudo, levando tudo, da maionese do hambúrguer a erva que
abastece a boca. Do remédio do hospital ao chumbinho para matar os ratos, os
gatos, as cachorras, e abastece cada um no seu quadrado, tem o parente para sustentar
e para se aperriar. Então o Parente chega como sua alegria, parece ser a
salvação. A gente abre mão de outras pessoas e o acolhe. Ele vai ficando quieto
no seu canto, ganha a confiança e a gente confia que ele sabe. Mas ele faz do
jeito dele e bagunça a vida, se deixar, de um país inteiro. Então a gente passa
a desejar a saída dele. A gente começa a entender a lição: a nem todo Pedro
deve se dar a chave do céu e nem do galinheiro, mesmo se ele for Parente.
Então passamos a não ver a hora
do parente voltar para donde veio e cuidar dos seus próprios frangos.
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