SORRISO,
SOPRO E TROVÃO: PENTALOGIA DAS MINHAS PÉTALAS SEMANAIS – XX
Hoje em
nossa Pentalogia poética falo da hipocrisia do mundo que prefere quem sorrir e
rejeita o pensar. Falo também de como a vida premia e nos derruba do trono.
Coisas que fazem o homem ir se degradando, se violentando por dentro na sua
dose diária de um lento desfazer-se.
Boa leitura.
ESPINHOS DA
SOLIDÃO (INDRISO)
As lágrimas
caem dos meus olhos
Como folhas
de um verão qualquer
Há um outono
dentro de mim!
Páginas
felizes foram arrancadas
Deixando um
grande vazio na vida
Traças ou
vermes? Não importa mais.
Havia um
aroma de primavera em nós.
Mas só me
restou os espinhos da solidão.
*****
SOPROS DE
VIDA (RONDEL)
No tempo
sopros de vida
E no suspiro
uma história
Na espera
talvez a saída
E na timidez
uma vitória.
Morando
nesta memória
A nossa
felicidade retida
No tempo
sopros de vida
E no suspiro
uma história.
Mas e a
palavra não lida?
Aquela tida
como escória
Toda dor
nela tão contida
Como verdade
tão notória
No tempo
sopros de vida.
***
DILEMA DO PREMIADO
Agora que a vida me premia
Dando-me fragmentos do paraíso
Eu sei que tudo vai passar
Eu sei que tudo vai acabar
E eu ficarei com saudade apenas.
Bebo do licor mais saboroso
Mesmo sabendo
Que a embriaguez já vem
Em passos largos
Abraçar o corpo sem vontade.
Agora que a vida me agracia
Laureando-me com honras sólidas
Eu sei que amanhã será novo dia
Eu sei que o futuro é só utopia
E estarei espanando poeiras apenas.
Nutro-me do maná mais delicioso
Com uma certeza
De que pão é menos que poesia
E eu estarei precisando de jejum
Justo agora que a vida me premia.
***
ESCUTO UM TROVÃO
Todo dia eu
me estrago
É um
violentar-me sempre
E quase
aniquilado eu vago
Pelas trevas
entre engrenagens
De um mundo
que devora seres.
Ainda acho
que dá para cultivar
Uns jardins
sobre calçadas frias
Colher
flores para saudar o sol
Enquanto
dentro tudo apodrece
Como um
cadáver em decomposição.
Todo dia eu
me entrego
Já não
aguento mais por em mim
Toda culpa
pelos erros de todos
E choro
gotas de sangue
Manchando as
veredas do meu sertão.
Ainda penso
que vamos abrir a porta
E deparar
com um mundo diferente
Crianças
brincando sobre o asfalto
Mas escuto
um trovão ao longe
E um
relâmpago cega meu entusiasmo.
***
SORRISO
OFUSCANTE
Ele era um
rapaz simpático
Que adorava
possuir sapatos
Em
sapateiros seus vários pares
Comprados-ganhados-roubados
Ele era um
rapaz simpático.
Sorria para
a cidade inteira
Sorria vinte
e quatro horas
No
trabalho-culto-redes
Ele era um
rapaz simpático.
Capturou uma
bela criança
Arrancou-lhe
toda a pele
Curtiu-moldou-costurou-curtiu
E não tinha
sido a primeira vez.
O seu sorriso
ofuscante
Sugava a
atenção de todos
Ninguém
ouvia de seus pés
O choro das
vidas tenras.
Ele era um
rapaz simpático
E por isto,
ninguém via morte
Em suas
pegadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário