Vou encher meus pulmões de gases tóxicos
Mas a lembrança que lateja em meu cérebro
Dá-me a certeza de que nem sempre foi assim
As manhãs de sol preguiçoso no lado leste
E a feira nos vendendo frutas e convivências
Tangendo um viver tão simples e tão sincero
Fragmentos de um céu possível entre os montes
As tardes de trabalhos e observações quando eu
Esse eu que talhou madeiras e palavras em versos
Para construir o mundo objetivo e subjetivo
Para amparar corpos e almas da minha espécie
E as noites que chegavam sem nos amedrontar
Sem precisarmos lutar contra nossas sombras
Ou então viajar pelo portal de um copo de veneno
Em bares ou em lugares nada recomendáveis
O cinza da aridez de uma paisagem que morreu
É tudo que tenho além das doces lembranças
Em dias que o pão não passa de uma saliva seca
Engolida junto com a lágrima que desceu ao acaso
Pelo sulco no rosto que já recebeu carícias de tuas mãos
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