Estradas tortuosas rajam o vale da minha existência
Trazendo até a mim a síntese da tristeza e da alegria
Engarrafada dentro do homem de sonhos em cacos
Empacotada dentro da mulher de paciência cansada
Eu não vejo mais a noite como traiçoeira
Agora é a tarde
Com sua machadinha afiada na angústia
Partindo ao meio a vida
Que eu tenho no dia de hoje
Mas o mundo segue a agenda rabiscada em escritórios
Em seu itinerário entre montanhas esfoladas
O sol da tarde que arde em meus olhos só não chora
Por ter sido educado para engolir seus próprios desencantos
O trem da vale passa enquanto eu me desvio dos cancros no
asfalto
Levando para o porto o que pode ser um pedaço de Drummond
Que esquartejem o homem de Itabira e repartam seu encanto
Ainda que os continentes não sejam dignos da sublime arte
Eu amo a natureza que respira a história dos homens de
coragem
E absorve nossos passos como o cogumelo a matéria orgânica
Eu quero respirar, mas a poeira em minha garganta sufoca
A poesia que era para ser apenas um tempero no tutu de
domingo
Nenhum comentário:
Postar um comentário